Conheça Francisco Vera, o jovem ativista colombiano que luta pela inclusão de meninos e meninos nas discussões sobre o futuro do planeta
Nomeado pelo UNICEF como o primeiro jovem defensor do meio ambiente e da ação climática para a América Latina e o Caribe, o colombiano Francisco Vera, 14, há quatro anos vem trabalhando pelos direitos ambientais das crianças e adolescentes e pela inclusão de meninos e meninas na discussão sobre a crise climática.
Francisco é fundador dos Guardiões pela Vida, um coletivo formado por 700 crianças e jovens de todo mundo que defendem pautas ligadas aos direitos humanos e ao meio ambiente.
Recentemente, ele esteve no Brasil, onde conversou com autoridades e participou de várias atividades, como um sobrevoo nas imediações de Manaus (AM). Neste mesmo período, concedeu entrevista ao Greenpeace Brasil:
“As crianças precisam ser envolvidas e participar dos espaços de incidência sobre o clima, precisam estar presentes nas conversas sobre meio ambiente e sobre natureza. As crianças e as novas gerações não são apenas o futuro, nós somos o presente também. Nossa voz é uma voz potente, que pode transformar e pode contribuir muito na discussão sobre a mudança do clima e o futuro de nosso planeta. O que está em jogo são os nossos direitos, o nosso presente e o nosso futuro. As crianças precisam ser envolvidas e participar desses espaços.
Acho que as crianças e adolescentes não são incluídos nas discussões sobre a crise climática por uma razão histórica. Viemos de uma história, de uma cultura, onde os meninos e meninas nunca foram incluídos de verdade. Mas hoje sinto que estamos num momento de transição. As pessoas começaram a nos escutar.
Porém, sinto que ainda falta mais Educação. Uma Educação ambiental, climática e cidadã. Precisamos de uma educação que provoque as crianças, que mexa com elas. As crianças têm muito mais consciência que os adultos para defender a natureza. Estamos num momento histórico, um momento-chave, em que a natureza e o planeta estão pegando fogo. Por isso precisamos de uma Educação que ative, provoque, que faça as crianças e jovens se mexerem. Precisamos de Educação.
Tenho uma mensagem aos brasileiros. Vocês tem uma jóia em seu país, chamada Amazônia. A Amazônia e sua biodiversidade são impressionantes. A biodiversidade dessa floresta é uma fonte de orgulho não só para o Brasil, mas para toda a América Latina. Mas, ao mesmo tempo em que é um orgulho, é também uma responsabilidade, porque precisamos cuidar dessa joia.
Vocês, brasileiros, tiveram recentemente um governo que não fez muito pela natureza, não fez nada para proteger os ecossistemas. Mas agora precisamos exigir dos novos governantes que protejam a Amazônia, que cuidem dela e que tenham claro que estamos num contexto de crise climática, de crise da perda da biodiversidade, de crise causada pela poluição e pela contaminação.
Precisamos de ações fortes por nosso planeta e pelos direitos de todas as pessoas, como os povos indígenas e as crianças. Pelos direitos daqueles que são mais vulneráveis – inclusive a natureza. A natureza também deveria ser considerada um sujeito político, com direitos; não só como uma fonte de extração de recursos. A Terra é a nossa casa.
Meu ativismo surgiu do lugar onde nasci, do lugar onde estou. Sou da Amazônia. O que me levou pro ativismo inicialmente foi o que aconteceu em 2019, com aqueles enormes incêndios. Foram incêndios trágicos, que afetaram não só o Brasil, mas a Colômbia também.
Foi uma grande dor ver que um patrimônio tão importante para a humanidade quanto a Amazônia estava queimando. Me lembro que vi o que aconteceu naquele momento, eu vi muita gente chorando por conta dos incêndios. Foi nesse momento que resolvi me juntar a outros ativistas, que transmitem a mesma mensagem que eu, que fazem esse mesmo trabalho, tomam providências, agem e exigem soluções. Isso tem quatro anos.
Espero que os meninos e meninas brasileiras entendam a importância do momento histórico que estamos vivendo. Não há outro momento tão impressionante quanto esse. Estamos enfrentando a sexta extinção massiva de espécies: mais de 500 espécies de animais foram extintas nos últimos 50 anos.
É nossa responsabilidade agir e exigir daqueles que têm responsabilidades que ajam. Todos nós podemos ser defensores de um direito humano, que é o direito ao meio ambiente limpo, um ecossistema saudável, sustentável e digno. É muito importante que ergamos nossas vozes para incidir politicamente, para incidir sobre as políticas públicas.
Confesso que terminei o sobrevoo meio chateado. Ver a natureza é uma experiência impactante, ver aquele tanto de biodiversidade. Foi maravilhoso. O que mais me impressionou foi o tamanho do rio, o tamanho da floresta. Não há palavras pra definir isso, é tudo imenso e gigante. Mas também é triste ver o resultado das ações dos seres humanos. Há muito desmatamento. Eu não pensei que havia tantas árvores derrubadas. Isso foi inesperado, eu não sabia que eram tantas.
Isso reforçou o fato de que precisamos de mais ações por parte das autoridades. Precisamos que as autoridades façam mais coisas e tomem mais providências para proteger os ecossistemas.
Precisamos que essa vontade de proteger a natureza seja mostrada de maneira clara. Precisamos de mais ambição. Não precisamos de governos que sejam medíocres ou que sejam conformistas. Precisamos de ações ambiciosas. Nosso planeta está em crise. Quando estamos em crise, temos que agir. Não podemos esperar nem ficar vendo o tempo passar”.
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