Em 2023, a combinação de calor, desmatamento, queimadas e El Niño criou uma situação explosiva. Muitos municípios do Amazonas, de Rondônia e do Acre enfrentam emergências com a seca na Amazônia.

Lago Manacapuru, no município de mesmo nome, no Amazonas, seco devido a estiagem, em 29 de setembro de 2023. O município foi um dos 19 que já tiveram emergência decretada no estado. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

A vida na Amazônia é regida pela subida e vazante dos rios, que acontece naturalmente em ciclos regulares, ditando a dinâmica da população. Mas, em 2023, é possível que muitos rios na Amazônia atinjam alguns dos níveis mais baixos da história, e os impactos disso já estão sendo sentidos por milhares de pessoas.

O Estado do Amazonas é o mais afetado até agora. Até 29 de setembro de 2023, 19 municípios entraram em estado de emergência e o Governador decretou situação de emergência no Estado, onde mais de 170 mil pessoas já enfrentam dificuldades, com acesso restrito a itens básicos, como alimentos e água potável. 

Há risco de escassez hídrica nos Rios Madeira e Jamari. No Acre, Rio Branco decretou estado de emergência, com previsão de que o período sem chuvas regulares deve durar por mais dois meses, causando uma queda no nível do Rio Acre na capital. 

As secas extremas que estamos testemunhando são efeito da crise climática, agravadas pelo El Niño, que ganhou força em um ambiente que já está mais quente. É o outro lado da moeda das chuvas extremas que vêm afetando o Sul do Brasil, pois as mudanças se manifestam em eventos climáticos extremos variados e afetam de maneira desproporcional as populações mais vulneráveis.

Qual é a importância dos rios para o povo da Amazônia?

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Populações da Amazônia enfrentam uma seca extrema, que já está causando falta de alimento e água potável. #secadosrios #amazonas #semagua #eventosextremos #manacapuru #estiagem #norte

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Costuma-se dizer que os rios são as rodovias da Amazônia. É pela via fluvial que alimentos, medicamentos e outras mercadorias chegam à maioria dos municípios. Mas com a forte estiagem, muitos rios ficaram inavegáveis e, dessa forma, já começou a faltar o básico. 

 Em uma região onde a cultura alimentar é fortemente dependente da pesca, o rio também é a principal fonte de alimento, Mas rios e lagos estão secando completamente, deixando um verdadeiro cenário de desastre, com milhares de peixes mortos pela falta de água ou de oxigênio. 

Essa mortandade também é trágica para a biodiversidade, pois afeta toda a cadeia trófica. Imagens de botos mortos se multiplicam pela internet. Reservas de água potável estão contaminadas ou escassas. 

Além disso, também é pelo rio que chegam insumos que garantem serviços nesses municípios, como os combustíveis usados para a produção de energia. A Amazônia é terrivelmente dependente de geração termoelétrica. Sem esses insumos, muitas pessoas enfrentam apagões ou racionamento de energia. 

Os efeitos dessa crise são gigantescos, e as populações ribeirinhas, os pescadores e pescadoras, as comunidades indígenas, os quilombolas e a população preta, periférica e trabalhadora são os primeiros a sofrerem as consequências. Não tem como falar em crise do clima sem falar de justiça social.

Eventos extremos de norte a sul

Ao longo de 2023, as notícias sobre mortes e emergências causadas por fortes chuvas no Nordeste, deslizamentos no Sudeste, ciclones e cheias recordes no Sul se tornaram frequentes. A situação de estiagem enfrentada na região Norte tem o mesmo motivo de todos esses eventos: as mudanças climáticas. 

Sabemos que as mudanças climáticas intensificam os eventos extremos, como alerta o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Assim, o “efeito surpresa” não pode mais servir de desculpa para a falta de políticas públicas que se antecipem a tais eventos, já que a previsão é de que acontecerão com cada vez mais frequência, segundo a ciência

Sequer é possível dizer que os estados amazônicos não sabiam do potencial devastador da aliança entre El Niño e temperaturas recordes de 2023, já que cientistas vinham alertando sobre isso pelo menos desde julho.

O desmatamento e as queimadas são responsáveis por 49% das emissões de gases do efeito estufa no Brasil. Por isso, o desmatamento zero é a maior contribuição que o país pode dar para mitigar os efeitos da crise climática que vivemos e desacelerar a frequência e intensidade dos eventos extremos atuais e futuros.

Queimada registrada em 2 de agosto de 2023, em Canutama, no Amazonas. (© Marizilda Cruppe / Greenpeace)

Precisamos direcionar recursos para a mitigação de danos e a adaptação dos municípios amazônicos, adotando soluções como a geração solar distribuída, que não apenas reduz a dependência de combustíveis fósseis de fontes distantes, mas também contribui para atenuar a crise climática. Além disso, é fundamental promover a produção familiar local com base agroecológica, diminuindo significativamente a necessidade de alimentos que percorrem longas distâncias até chegar à mesa, reforçando assim a sustentabilidade e a autonomia alimentar das comunidades locais.

Agora, enfrentamos uma emergência. Ajudar as comunidades afetadas é o mínimo que podemos fazer. Mas, verdade seja dita, os governos estão remediando um problema que poderia ter sido prevenido. Afinal, não adianta decretar emergência quando o problema já está instalado e, no resto do tempo, apoiar mineração em território indígena, a expansão do agronegócio sobre a floresta e outras atrocidades socioambientais.

O que Greenpeace está fazendo sobre a estiagem na Amazônia?  

O Greenpeace também vem emitindo alertas. Em julho, lançamos a Carta Pelo Futuro, na qual recomendamos medidas importantes a serem tomadas pelos governadores do Consórcio Amazônia Legal para combater o crime ambiental e evitar uma tragédia ainda maior. 

De janeiro até 28 de setembro de 2023, o número de focos de calor na Amazônia chegou a 56.343. Apesar do número representar uma queda de 34% em relação ao mesmo período do ano passado, segue sendo uma taxa muito alta especialmente num contexto em que deveríamos estar fazendo muito mais para combater as mudanças no clima. 

Neste momento de emergência, trabalhamos junto a parceiros para levar itens de primeira necessidade para as vítimas da seca extrema e prolongada no Norte do país. Para isso, o Greenpeace abriu uma campanha de arrecadação. 

Os recursos reunidos serão destinados à compra e entrega de suprimentos emergenciais, como alimentos e água para populações vulnerabilizadas pela seca — em especial, povos indígenas e comunidades ribeirinhas. Assim como fizemos durante a pandemia de COVID-19, nossos esforços e nosso avião estarão focados no apoio aos mais afetados por esse evento climático extremo.

Seca na Amazônia: saiba mais sobre o tema

Em condições normais, a Amazônia é conhecida por ser uma floresta úmida, rica em biodiversidade e capaz de influenciar o regime de chuvas em todo o Brasil. No entanto, o que ocorreu em 2023 foi uma seca alarmante, trazendo consigo consequências severas. 

Para mudar essa situação, é essencial entender melhor o cenário e identificar medidas eficazes para enfrentá-lo. 

O que causa a seca na Amazônia?

Apesar de eventos naturais, como o El Niño, poderem contribuir para uma redução nas chuvas, há muitas outras causas para a seca na floresta amazônica. Somente ao conhecê-las torna-se possível atuar contra elas. Conheça os motivos mais comuns!

Desmatamento

Uma das principais causas para o regime de seca é o desmatamento na Amazônia. Nesse ecossistema, a presença das árvores é fundamental para a precipitação, já que a transpiração das árvores é essencial para a formação de nuvens.

Esse processo é conhecido como evapotranspiração e funciona como uma espécie de reciclagem de água. Com menos árvores, a umidade cai drasticamente, afetando esse ciclo e aumentando os riscos de seca. 

Queimadas

Outro motivo associado à seca na Amazônia é a ocorrência de queimadas de grandes proporções. Nesse caso, há uma intensa liberação de gases do efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2). Além de contribuírem com o aquecimento em níveis globais, eles afetam o regime de chuvas nessa área.

As queimadas na Amazônia destroem o solo e as plantas, também interferindo na evapotranspiração. Já a fumaça costuma interferir na formação de nuvens de precipitação, enquanto a elevação da temperatura do solo afeta a circulação atmosférica e o nível de umidade.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas, de modo amplo, também são responsáveis pela estiagem prolongada e aprofundada na região amazônica. Com o oceano Atlântico mais quente acima da linha do Equador, por exemplo, é comum que haja uma queda na umidade na área em que fica a Amazônia. Na prática, isso afeta o regime de chuvas.

O agravamento das condições climáticas também gera um ciclo de aprofundamento da seca. Afinal, com menos chuvas, os rios têm mais dificuldade de se recuperar e seus níveis ficam menores. Como consequência, há cada vez menos umidade, dificultando ainda mais a formação de chuvas.

Quais as consequências da seca na Amazônia?

Após entender os motivos desse quadro, é interessante conhecer as possíveis consequências da estiagem na Amazônia. Só assim é possível compreender por que é tão urgente agir nesse sentido.

Aumento do desmatamento

Além de ser uma das causas da estiagem, o desmatamento pode ser um dos efeitos da seca amazônica. Com a redução da umidade na região, pode se tornar mais fácil converter áreas de floresta em pastos e demais áreas para a expansão do agronegócio.

As condições da seca também elevam o risco de incêndios. Com a terra mais seca e menos úmida, um pequeno foco de incêndio pode fazer com que milhares de hectares sejam consumidos pelo fogo.

Prejuízo para comunidades locais

As comunidades locais, principalmente as mais vulneráveis, são muito impactadas pela seca na Amazônia. É evidente um aumento do isolamento dessas comunidades, exacerbando suas dificuldades de acesso a recursos essenciais. Para quem depende da pesca, a falta de chuva reduz o nível dos rios, aumenta a mortandade de peixes e afeta a capacidade de pesca.

Ainda, vale considerar que pode ocorrer uma redução no acesso à água potável. Em relação à saúde, pode ocorrer o aumento de determinados quadros, como problemas respiratórios causados pela baixa umidade.

Impacto na agricultura

A seca também gera impactos nas atividades de agricultura. Com a falta de chuva, as safras podem ter uma redução na capacidade produtiva ou até se tornarem inviáveis.

Especialmente no caso das comunidades que praticam a agricultura familiar para a subsistência, o cenário pode levar a um quadro de insegurança alimentar.

Pensando em comunidades indígenas, esse problema é ainda mais grave e pode gerar desnutrição de grupos inteiros, inclusive afetando sua sobrevivência.

Alterações no ciclo de água da região amazônica

A estiagem amazônica está intimamente ligada a uma considerável redução na umidade da região. Com a falta das chuvas, o ciclo de água da região também é afetado. Afinal, menos precipitação significa menos água disponível para plantas, animais e cursos d’água.

Com o aumento da evaporação, rios e afluentes tendem a secar. Foi o que aconteceu em 2023, quando diversos rios amazônicos atingiram níveis críticos por estarem muito abaixo do esperado para a época. 

No final, isso causa alterações diretas nos padrões de cheias e vazantes. Como a chuva demora mais a chegar, os rios ainda estão vazios em períodos de cheia. Em médio e longo prazo, isso pode causar efeitos e mudanças contínuas, já que os ciclos perdem regularidade.

Perda da biodiversidade

A rica biodiversidade é uma das características mais importantes da Amazônia. Porém, todos os seres dessa região dependem de um equilíbrio de diversas condições, incluindo de temperatura, umidade e precipitações. Com a estiagem, a tendência é que ocorram perdas relacionadas à biodiversidade.

A baixa nos rios afeta a população de peixes e outros animais aquáticos, bem como seus habitats. Além disso, espécies adaptadas ao ciclo de inundações são diretamente afetadas quando o ciclo de cheias e vazantes deixa de ocorrer como esperado.

Outro problema é a diminuição de recursos naturais disponíveis para plantas e animais. Menos água e menos comida prejudica o desenvolvimento, a migração, a reprodução e a manutenção da população de diversos seres. Ainda, tende a ocorrer o deslocamento de espécies, elevando ainda mais a competição por recursos.

Como a estiagem na Amazônia afeta o Brasil?

Também é essencial compreender que a Amazônia não é a única afetada nos períodos de seca. A estiagem em uma das áreas mais importantes do nosso país pode interferir em todo o Brasil.

Com as mudanças no regime de chuvas, a distribuição de precipitações pelo país sofre mudanças consideráveis. É isso que faz com que determinadas regiões sofram com grandes volumes de água, enquanto outras enfrentam a seca.

A agricultura e a produção de alimentos também são afetadas, mesmo quando não ocorrem perto da Amazônia. Os efeitos econômicos incluem menor disponibilidade de alimentos e aumento nos preços.

Devido à importância da Amazônia, a estiagem na região também pode interferir diretamente na regulação do clima. Não é por acaso que 2024 pode ser o ano mais quente da história.

O que podemos fazer para acabar com a seca na Amazônia?

Depois de tudo o que você conferiu até aqui, é essencial compreender como salvar a Amazônia da seca e da destruição. 

Mais do que nunca, é fundamental pressionar para que o governo se comprometa a adotar medidas rígidas de combate ao desmatamento, às queimadas e à exploração amazônica desenfreada. Desde o garimpo ilegal até a construção de grandes hidrelétricas e outros empreendimentos, é fundamental revisar e reduzir os impactos que essas atividades exercem sobre a Amazônia.

Além disso, é necessário trabalhar em prol da justiça climática, especialmente considerando que as populações mais vulneráveis são as mais afetadas. Esse é um dos compromissos do Greenpeace Brasil, por meio da campanha:

Você também pode participar desse movimento, contribuindo diretamente para evitar efeitos ainda mais graves dessa seca. Doe e ajude a proteger a Amazônia dessa e de outras ameaças!

Como você acompanhou, a seca na Amazônia está relacionada a uma série de fatores, com destaque para aqueles causados pela atividade humana. Considerando os impactos intensos dessa situação, é hora de agir para proteger verdadeiramente essa região.

Ajude a conscientizar mais pessoas sobre o assunto.  Compartilhe este artigo nas suas redes sociais!

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