A Semana Sem Carne nos lembra que reduzir o consumo significa colocar a Amazônia na frente dos bois

Menos carne, mais floresta. © Mitja  Kobal / Greenpeace
Menos carne, mais floresta © Mitja Kobal / Greenpeace

Vivemos uma sequência tão absurda de acontecimentos que a equação final faz com que a vida pareça ficar cada dia pior. Enfrentamos uma pandemia, somos governados por líderes de moral questionável que expressam descaso com a vida, testemunhamos o derretimento das políticas socioambientais de Bolsonaro e diariamente acompanhamos ataques a quem defende uma existência em equilíbrio no planeta. 

É tanto ataque e tantos são os esforços que dedicamos para reagir a eles que acaba faltando espaço pra falar de tudo o que importa. Mas vamos fazer isso agora. Escolhemos pegar um pedaço desse “tudo que importa” e te chamar pra essa conversa.  

Eis que chegamos à Semana Mundial Sem Carne, que acontece entre 15 e 21 de junho. E aí você pode me questionar: “com tudo o que está acontecendo, você ainda vai me dizer pra ficar sem comer carne uma semana inteirinha?” Por que o Greenpeace vai falar disso num momento tão particular em que o antigo normal está em xeque e ainda sequer sabemos o que vai acontecer quando a pandemia arrefecer? Não tenho resposta, mas tenho uma aposta. 

A pandemia tem trazido muita dor, mas também algumas lições. Uma delas é que é possível, em questão de dias ou semanas, mudar hábitos que pouco tempo atrás pareciam impraticáveis. Por exemplo, deixar de comer qualquer comida na rua e cozinhar o próprio alimento. Além disso, novos espaços de ação e voz também foram descobertos; as janelas de grandes cidades se transformaram em um lugar de resistência e solidariedade. 

Por isso, apesar de todos os pesares, este não deixa de ser um momento oportuno para revermos nosso consumo de carne que, no Brasil, é produzida às custas de muita floresta e muitos direitos. Além da agropecuária ser uma das principais causas do desmatamento, é responsável por mais de 60% das emissões dos gases do efeito estufa que provocam as mudanças climáticas. E em uma série de denúncias, temos mostrado como ela vem pressionando de forma criminosa a floresta amazônica. 

A imposição de um padrão de consumo insustentável, alimentado por empresas globais e subsidiado por governos é bem perversa, com um custo absurdo para a sociedade. Premiar os que roubam terra pública, que colocam em risco a nossa biodiversidade, que expandem o gado sobre a floresta, que lucram à base de desmatamento na Amazônia e de invasão dos territórios indígenas, nada disso mais pode ser tolerado.  

Então, você me pergunta: “se há um grupo tão poderoso articulando a destruição da floresta e a imposição de uma carne que chega até mim mascarada como livre de desmatamento, como meu ato individual de consumo pode mudar ou fazer diferença num sistema perverso ditado por governo e por empresas tão gigantes?” 

O que eu te respondo é: se nos unirmos, nossa voz pode transpor fronteiras que parecem impenetráveis. E quanto mais fingirem não nos escutar, mais ergueremos a nossa voz. E a cada ato de consumo, a cada garfada, podemos mandar nosso recado aos tomadores de decisão de que um outro modelo de produção alimentar é possível e urgente! Que comprar da feira, do produtor orgânico que conhecemos e conversamos, que colher das hortas comunitárias e dos pequenos negócios deve ser um direito básico garantido. Não podemos abrir mão do direito de saber de onde vem e como é feito o que comemos. Temos força para questionar incansavelmente o SAC das empresas e para gritar nas redes, já que nas ruas não temos como, por ora, pedindo por uma produção mais justa, sem veneno, sem tanta carne e que honre os sabores e saberes da floresta de pé. A pandemia nos mostra que isso é possível.

Vem com a gente nessa Semana Sem Carne? Temos uma boa dica para te ajudar nessa empreitada. Um time de chefs, nutricionistas e influenciadores da boa alimentação compartilharam algumas de suas melhores receitas sem carne para o período de isolamento social. Elas estão reunidas no e-book “Quarentena Sem Carne“. O download é gratuito.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!