“O conhecimento é o ponto de partida para qualquer mudança da realidade”, defende Ian Uchôa, professor de geografia
O que você de fato sabe sobre a crise climática, quem são os maiores responsáveis, as pessoas mais impactadas e por que precisamos agir por justiça climática? Este é um tema que está presente em todos os dias das nossas vidas, só que de maneiras diferentes, dependendo da sua raça, povo, classe social, idade e gênero. E apesar das consequências do superaquecimento do planeta baterem de formas diferentes na porta de cada pessoa, uma coisa é certa: não dá mais para fugir da urgência de agirmos coletivamente para cobrarmos dos tomadores de decisão ações de enfrentamento a essa realidade.
Para que a gente possa se movimentar e agir pela mudança é preciso conhecer, entender o momento que estamos vivendo, compreender como e por que chegamos até aqui e o que é preciso ser feito. “O conhecimento é o ponto de partida para qualquer mudança da realidade”, destaca Ian Uchôa, geógrafo, professor e ativista, ao comentar sobre a cartilha “Por que lutar por Justiça Climática”, lançada recentemente pelo Greenpeace Brasil.
A cartilha impressa contém o histórico de alguns dos maiores casos de eventos climáticos extremos no país até o começo de 2024 e, além disso, fornece dados, informações e conceitos para aprofundar o conhecimento sobre por que precisamos de justiça climática e porque é fundamental compreender que os impactos são desiguais.
O material possui um conteúdo de uso diverso, pois pode contribuir com estudantes que vão prestar Enem ou vestibular, professores, ativistas, coletivos, movimentos sociais, associações comunitárias, todas as pessoas que querem entender melhor o tema e usá-lo como ferramenta de estudo ou para ações de conscientização e mobilização.
Leia a seguir a entrevista com o professor Ian Uchôa sobre como a cartilha pode ser usada na educação.
Como você avalia que este material pode somar ao trabalho dos professores nas salas de aula?
Esta cartilha tem total potencialidade para contribuir com os professores. Eu não a vejo apenas como leitura complementar, mas genuinamente parte do cronograma de meio ambiente que costuma ser ministrado. É perceptível que os livros didáticos e materiais propostos pelos sistemas de ensino seguem a mesma linha abordando, por exemplo, conferências do clima e problemas ambientais. Porém, existe uma grande carência hoje de conteúdos mais específicos, mais bem trabalhados e mais próximos da realidade dos estudantes brasileiros, e a cartilha traz isso, uma vez que aprofunda em temáticas que são fundamentais para o entendimento da realidade atual.
A cartilha pode ser usada de forma transversal em várias disciplinas?
A cartilha aborda o ensino como geral. Professores de sociologia podem falar sobre desigualdade social e racial que ficam evidentes nas catástrofes climáticas, professores de geografia podem demonstrar as relações geopolíticas que envolvem as conferências do clima, os historiadores podem mostrar a revolução industrial como base deste processo. Em suma, essa cartilha tem arcabouço teórico suficiente para ser discutida por basicamente todas as áreas do conhecimento.
Este material pode ser ferramenta complementar de estudo para quem está se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou para o vestibular?
Sem sombra de dúvidas! O Enem é uma prova social. Ele costuma trazer problemas e soluções nas questões de meio ambiente. Além disso, as questões de natureza sempre carregam consigo uma visão social do processo. Desta forma, esta cartilha tem uma enorme potencialidade para os estudantes que estão em busca da vaga na universidade e terão que prestar o Exame Nacional do Ensino Médio.
Como você vê a contribuição da escola para a compreensão das realidades local e global no objetivo de fornecer ferramentas para entender como transformar a realidade em um contexto de crise climática e impactos desiguais?
É necessário perceber a escola como um óculos. Ela tem como principal função permitir aos estudantes a possibilidade de enxergar o mundo em sua completude. Suas belezas, suas desigualdades e seus desafios. Entre eles, a crise climática. Mais do que as matérias vistas de maneira positivista, uma escola que propaga um olhar crítico aos jovens, promove a ascensão de protagonistas nesta luta climática e tantas outras lutas que o mundo também precisa enfrentar.
Você acha que o atual currículo precisa ser atualizado para dar conta de um ensino mais conectado com a realidade climática?
O currículo atual, no que se refere à realidade climática, não é ruim. Dentro do programa curricular se discute aquecimento global, pegada ecológica, conferências do clima, problemas ambientais atmosféricos e terrestres. Vejo que o problema não está no currículo em si, e sim na forma que o currículo se coloca diante dos estudantes. Esses conteúdos são vistos meramente para se realizar provas. Não existem ações que coloquem os jovens como protagonistas.
O conhecimento pode ser uma ferramenta de mobilização e mudança da realidade?
Existe uma frase famosa que diz: ‘’só quem se movimenta que sente as correntes que os prendem’’. O conhecimento é o ponto de partida para qualquer mudança da realidade. Entretanto, mais do que o conhecimento, o conhecimento somado a políticas de ação, como projetos de extensão, são fundamentais para qualquer mudança da realidade. Os jovens sabem que existe uma crise climática, mas sem projetos de extensão, sem instigá-los a colocarem a mão na massa, eles não terão o ponto chave para qualquer mudança: o pertencimento.
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