*com Jaqueline Sordi (no Brasil)

Na “Copa do Clima”, o que está em disputa é a bola mais importante de nossas vidas: o planeta Terra

[Sharm El-Sheikh, Egito] Contrastando com o cenário desértico lá fora, aqui dentro dos pavilhões da COP27 há presença e calor humano. Não é difícil se perder pelas centenas de corredores e estandes e dezenas de discussões em tantas línguas sobre mudanças climáticas acontecendo ao mesmo tempo; difícil é olhar para o relógio e saber que estamos chegando aos 45 minutos do segundo tempo e que precisamos urgentemente marcar um gol de placa para que o planeta Terra saia vitorioso.

Os líderes mundiais fracassaram nos últimos anos em implementar políticas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e isso coloca ainda mais pressão sobre a COP27, que está encerrando sua primeira semana. Vem conferir como está o jogo até agora!

Cartão Vermelho

A COP27 começou com cartão vermelho para todas as nações. Não passou batido o atraso dos países em apresentarem metas (as chamadas NDCs, em inglês) mais ambiciosas e compatíveis com o acordo de limitar o aquecimento global em 1,5°C até o final do século. Já na abertura da maior conferência anual de clima, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou aos líderes de mais de 100 países que “estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé ainda no acelerador”. 

Ao usar novamente a anedota já dita em outros encontros de que se as emissões seguirem na mesma intensidade estaremos selando um “pacto de suicídio coletivo”, ele propôs que no lugar se faça um “pacto de solidariedade climática”, em que líderes de todas as nações unam esforços para ajudar financeiramente os países menos desenvolvidos em esforços de mitigação, adaptação e perdas e danos.

Na “COP da implementação”, precisamos de propostas ambiciosas e compromissos para frear a crise climática. © Mohammed Nader

Golaço

O tema de “perdas e danos”, por sinal, foi um dos destaques positivos nos primeiros dias da COP27.  Há anos a ideia de criar um fundo para perdas e danos é discutida nesses encontros. Agora, pela primeira vez, o assunto entrou oficialmente na agenda da COP. Mas a inclusão não foi fácil. Os países mais vulneráveis aos efeitos negativos das mudanças climáticas levantaram a discussão na abertura do evento, reforçando a necessidade dos países mais ricos pagarem pelos danos inevitáveis e irreversíveis da crise climática como forma de reparação. 

Depois de virarem uma madrugada detalhando a inclusão da pauta na agenda, ela foi oficializada. O gol tá feito, mas vale lembrar que esse foi apenas um passo do processo, que para ser bem-sucedido deve culminar em um acordo de financiamento favorável aos países do Sul Global.

A inclusão da compensação por perdas e danos aos países mais vulnerabilizados pelas mudanças climáticas foi um dos gols da primeira semana. © Mariana Campos / Greenpeace

Para escanteio

A sociedade civil está levando o tema de Justiça Climática com força total para essa COP, alertando tomadores de decisão que as vozes das comunidades em situação de maior vulnerabilidade, como indígenas,  quilombolas e periféricas, não podem mais ficar no banco de reservas. As pessoas mais impactadas pela crise do clima precisam estar na mesa de negociação, não apenas porque elas são as mais prejudicadas, como também porque elas sabem como chegar às soluções. 

Mas ainda há um longo caminho a percorrer para que esses grupos saiam do escanteio. Um levantamento mostra que há um total de 293 delegações indígenas na COP27, um número bem inferior aos 636 lobistas de combustíveis fósseis afiliados a gigantes de petróleo e gás poluentes como Shell, Chevron e BP, e que vêm para a conferência fazer maquiagem verde.

Gol contra

Não há como demandar por justiça climática sem lutar por direitos humanos, e esse tema, sensível no Egito, vem ganhando destaque nesta COP. Diversas organizações e movimentos de todo o mundo que atuam pelos direitos humanos se mobilizaram na primeira semana da COP27, e o Greenpeace, é claro, se somou a elas em defesa de um mundo mais verde, justo e pacífico. 

A demora dos países em agir para frear a crise climática; as promessas não cumpridas sobre financiamento para as comunidades e países mais prejudicados; e a recusa por parte dos países do Norte Global em reconhecer a responsabilidade histórica que eles têm em relação às mudanças climáticas é um verdadeiro 7 a 1 para os direitos humanos. Não dá pra ser assim!

Ativistas se vestiram de branco e protestaram na COP27 para reforçar que não há justiça climática sem justiça social. © Marie Jacquemin / Greenpeace

Chama o VAR

O enviado especial para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, anunciou uma “nova iniciativa global de compensação de carbono”, que ligaria empresas privadas americanas a ações de transição energética em países em desenvolvimento. Kerry disse que o novo esquema, chamado Energy Transition Accelerator e lançado em conjunto com a Rockefeller Foundation e o Bezos Earth Fund, geraria financiamento por meio de créditos de carbono voluntários de “alta qualidade”. 

A iniciativa foi prontamente criticada por especialistas climáticos e ambientalistas, que alegaram que o plano reflete um sistema de compensação fracassado criado décadas atrás. Temos pouco tempo para agir e não podemos desviar o foco do que de fato é essencial para diminuir as emissões de gases do efeito estufa. 

No aquecimento

Enquanto a delegação do governo Bolsonaro anda quietinha pelos corredores da COP27, a chegada de representantes do novo governo eleito do Brasil tem causado furor entre líderes globais, que enxergam nessa mudança uma esperança de que o país volte a ser um aliado na luta contra a crise climática. O tema foi trazido inclusive na abertura da conferência, quando o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore citou indiretamente a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao dizer que “há apenas alguns dias, o povo do Brasil escolheu parar a destruição da Amazônia”. Lula só deve chegar no Egito nos últimos dias da conferência, mas nomes de peso como as deputadas federais eleitas Marina Silva, Sônia Guajajara e Célia Xakriabá já estão em Sharm El-Sheikh participando dos debates.   

No Brazil Climate Action Hub, debates mostram que o Brasil está voltando à conversa climática. © Mariana Campos / Greenpeace

O Brasil está saindo do banco de reservas e voltando ao jogo da política ambiental e climática. É preciso correr. Neste campeonato em que a bola do jogo é o planeta, nas palavras de Txai Suruí, “a terra está falando e ela diz que não temos mais tempo”. Que venha a próxima semana.

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