No Acampamento Terra Livre, indígenas da Amazônia fazem denúncias contra o garimpo ilegal 

Brasília (DF) – O avanço do garimpo ilegal sobre as Terras Indígenas do Brasil na última década foi brutal e assustador: cresceu em 632% a área garimpada dentro dos territórios originários, chegando a 20 mil hectares entre 2010 e 2021, segundo o projeto Mapbiomas. Isso é ilegal e inconstitucional, pois vai contra a Constituição Federal de 1988. Para os povos originários, a invasão do garimpo ilegal resulta em ameaças de mortes, contaminação de rios, destruição de florestas e divisão entre famílias e comunidades

Por isso que, no terceiro dia do Acampamento Terra Livre 2023, a “Tenda da Amazônia” – como é conhecida a tenda mantida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) – promoveu o seminário “Amazônia Indígena: Impactos do Garimpo  e Alternativas Econômicas nos Territórios”. O objetivo era usar a manhã de terça-feira (25) para denunciar as mazelas causadas pela atividade ilegal e cobrar das autoridades providências para expulsão dos garimpeiros e recuperação de áreas degradas pela extração do ouro.   

Testemunhos sobre garimpo ilegal 

Mais de 200 lideranças se inscreveram para falar no seminário. Com isso, o evento tornou-se um desfile de testemunhos fortes e emocionantes sobre os graves problemas enfrentados pelos indígenas em suas aldeias e comunidades. 

Isaura Munduruku relata teve a casa onde mora com a filha, Maria Leusa, incendiada por denunciar o garimpo ilegal

“Fui ameaçada de morte e minha casa foi incendiada. Ainda assim, penso que não devemos parar de denunciar”, disse Isaura Munduruku. Cacica da Aldeia Fazenda, na região do alto Tapajós, no Pará, Isaura e a filha Maria Leusa, em maio de 2021, tiveram a casa incendiada por conta das inúmeras denúncias que fazem contra os garimpeiros. Na ocasião, ela, a filha e a neta tiveram que fugir da aldeia para não serem mortas. 

“O garimpo é um problema grave e sério, que traz problemas e divide o nosso povo. Faço um apelo para as autoridades para que tomem decisões sobre o que acontece nos nossos territórios. O garimpo dentro dos territórios aumenta a cada ano que passa”, disse a cacica. Com 4.743 hectares ocupados pelo garimpo, a Terra Indígena Munduruku é o segundo território originário do Brasil mais impactado pelo garimpo ilegal, atrás apenas da Terra Indígena Kayapó, que tem 11.542 hectares tomados pela invasão garimpeira.  

Falsos vendedores

Uma liderança Sateré-Mawé do Amazonas contou que os garimpeiros são recebidos em seu território “na flecha”. “Nós proibimos eles de passar por certas partes da nossa terra. Mas em compensação eles dominaram algumas áreas nossas e ameaçam nos dar tiros”, disse ela ao microfone para uma tenda lotada de lideranças, apoiadores da causa indígena e pesquisadores. “Os garimpeiros são muito maldosos. Eles chegam disfarçados de pastores, de vendedores, tentando cooptar os parentes. Nós já expulsamos alguns falsos vendedores do nosso território, mas eles insistem e ficam voltando”

Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), relata violência, destruição e contaminação por conta do garimpo ilegal

Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Kopenawa aproveitou o telão disponível às lideranças e mostrou diversas fotos de garimpos ilegais situados dentro do território Yanomami. “Isso que vocês estão vendo são as cicatrizes que o garimpo ilegal deixa no nosso território. É importante que vocês vejam isso e percebam o que a exploração do minério causa na nossa terra”, disse Dario.

“Temos dados que mostram que 2021 foi o pior ano da Terra Indígena Yanomami no que diz respeito ao avanço do garimpo desde a demarcação, em 1992. Nosso território tá muito contaminado. Nossos grandes rios morreram. Os garimpos formam pequenas cidades em nosso território e os garimpeiros não param de tirar toneladas e toneladas de cassiterita. Está tudo contaminado. Quem vai dar água para a população Yanomami?”, reclamou o vice-presidente da Hutukara. Em 2021, 1.556 hectares da Terra Indígena Yanomami estavam tomados pela atividade garimpeira

Parem as Máquinasdo garimpo ilegal

Hoje em dia, os territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami – todos na Amazônia – são as áreas mais afetadas pelo garimpo ilegal. Por isso, suas lideranças se uniram num acordo histórico e criaram a Aliança em Defesa dos Territórios: um grupo de líderes que está fazendo incidência política junto a autoridades e diversos outros fóruns. Esta Aliança conta hoje com o apoio do Greenpeace Brasil e do Instituto Socioambiental (ISA). 

Recentemente, o Greenpeace Brasil e o Greenpeace do leste asiático lançaram o relatório “Parem As Máquinas – Por uma Amazônia Livre de Garimpo”, em que denunciam o papel que as escavadeiras têm tido na devastação da Amazônia e na degradação dos territórios originários. A publicação mostra que, dos 176 registros de escavadeiras operando ilegalmente dentro dos territórios Kayapó, Munduruku e Yanomami feitos entre 2021 e 2023, mais de 40% deles mostram máquinas da empresa sul-coreana Hyundai. Outras 13 empresas também foram citadas no relatório, como Caterpillar, Volvo, Link-Belt, Sany e Komatsu. 

Liderança indígena em protesto em frente à Hyundai contra garimpo ilegal nas Terras Indígenas da Amazônia

O documento lista uma série de medidas que as empresas podem tomar para aumentar o controle sobre o uso que é feito de seus equipamentos – e evitar que essas máquinas sejam utilizadas em contextos de crime e ilegalidades. Faça parte desta solução assinando e divulgando a petição: parem as máquinas!  

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