• Área destruída pelo garimpo nas Terras Indígenas Kayapó, Munduruku, Yanomami no último trimestre aumentou em relação ao mesmo período do ano passado
  • Greenpeace lança storymap para facilitar visualização de dados e informações 
Localização das Terras Indígenas monitoradas e áreas de garimpo. Crédito: Departamento de Pesquisa/ Greenpeace

O garimpo continua sendo um grande fator de destruição nas Terras Indígenas da Amazônia. Levantamento inédito do Greenpeace mostra que a área devastada pela atividade garimpeira nas Terras Indígenas Kayapó (PA), Yanomami (AM/RR), Munduruku (PA) nos últimos três meses – agosto, setembro e outubro de 2024 – cresceu em relação ao mesmo período do ano passado. Em conjunto com a Terra Indígena Sararé (MT), incluída no monitoramento por conta da rápida destruição que vêm ocorrendo ali naquele território, foram contabilizados 505 hectares de florestas destruídos pelo garimpo nos últimos três meses – o equivalente a 707 campos de futebol.  

Somando-se a isso os problemas trazidos pelo fogo e pela estiagem na atual temporada, desenha-se na Amazônia um cenário de intensa destruição em alguns dos territórios originários mais simbólicos do bioma. 

Para este levantamento, o Greenpeace preparou um storymap, que permite que pesquisadores, cientistas, estudiosos e ativistas envolvidos com a pauta visualizem de maneira mais fácil e clara os prejuízos do garimpo ilegal. 

Detalhes

Segundo os dados do Greenpeace, a Terra Indígena Kayapó foi a mais afetada pela atividade garimpeira no último trimestre, registrando um aumento de 35% em relação a julho, agosto e setembro do ano passado. Foram 315 hectares devastados pelo garimpo, o equivalente a duas vezes o tamanho do Parque Ibirapuera. 

A Terra Indígena Munduruku registrou um aumento de 34,7%, com 32,51 novos hectares abertos no último trimestre. Já na Terra Indígena Yanomami, o aumento foi de 32%, com 50 novos hectares devastados entre julho, agosto e setembro, ainda que o Governo Federal tenha emitido nota afirmando que a atividade havia sido zerada na região. 

Na Terra Indígena Sararé, foram registrados 106,98 hectares destruídos por garimpeiros entre agosto e setembro. As quatro Terras Indígenas monitoradas pelo Greenpeace somam 27.250 hectares devastados – o equivalente a 11% de toda a destruição causada por essa atividade econômica na Amazônia. 

Mineração ilegal na Terra Indígena Sararé no Mato Grosso. Crédito: © Fabio Bispo / Greenpeace

Garimpo e fogo

A Terra Indígena Kayapó é a mais devastada entre as áreas monitoradas. O território registrou três recordes no trimestre analisado: o de maior concentração de garimpo, o de maior número de novas áreas desmatadas para a atividade garimpeira, e a mais impactada por incêndios florestais em 2024. No dia 11 de setembro, o Greenpeace Brasil realizou um sobrevoo pela região para registrar o cenário de destruição e fumaça. Com um total de 15.982 hectares já destruídos pelo garimpo, só nos últimos três meses 315 hectares foram desmatados, o que equivale a aproximadamente dois Parques Ibirapuera. Além disso, essa TI também registrou o maior número de focos de incêndio, muitos dos quais relacionados diretamente à atividade garimpeira, que utiliza o fogo para abrir novas áreas para mineração.

A Terra Indígena Munduruku também sofre impactos severos com um total de 7.145 hectares já devastados em toda sua área. Nos últimos três meses, 32,51 hectares foram destruídos para abertura de garimpo. Entre as quatro Terras Indígenas monitoradas, a TI Munduruku registrou a menor expansão de novas áreas. No entanto, isso ainda representa um aumento em comparação com o mesmo período do ano passado.

Na Terra Indígena Yanomami, as frentes de garimpo se concentram principalmente no sul do território, na área onde ela se sobrepõe ao Parque Nacional do Pico da Neblina.

Sararé: a nova fronteira do garimpo

A Terra Indígena Sararé foi recentemente incorporada ao monitoramento do Greenpeace Brasil, devido ao aumento expressivo da atividade garimpeira na região. Somente entre agosto e setembro de 2024, 106 hectares foram desmatados, impulsionados por garimpos ilegais que avançam no sul do território. Além disso, a região enfrenta uma escalada de violência, com lideranças indígenas sob constante ameaça de morte devido a conflitos entre garimpeiros e agentes de fiscalização. A Terra Indígena também sofreu bastante com as queimadas – cerca de 70% de seu território foi afetado pelas chamas no último trimestre.

“Os dados mostram que a atividade garimpeira continua sendo um dos maiores vetores de destruição das Terras Indígenas brasileiras. O que tem sido feito até agora é insuficiente, é o que os nossos dados mostram. Os territórios originários continuam sendo devorados por um modelo de desenvolvimento predatório, que põe em risco as nossas florestas, que são alguns dos mais valiosos ativos que temos, e ameaçam de maneira muito grave a vida e sobrevivência dos povos indígenas. Precisamos de ações firmes e contínuas para proteger essas terras e os povos que dependem delas”, afirma Jorge Eduardo Dantas, porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil. Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que em 2024 foram realizadas treze operações contra o garimpo nas quatro Terras Indígenas monitoradas. 

Metodologia

O mapeamento dos garimpos em Terras Indígenas é realizado por meio de alertas gerados por radar e sensores ópticos, utilizando os sistemas GLAD e RADD (Radar for Detecting Deforestation) na ferramenta interna do Greenpeace, chamada ‘Papa Alpha’. A acurácia dos alertas para garimpo é confirmada através das imagens de satélite dos sistemas Planet Lab e Sentinel-2. Esta pesquisa utilizou dados do sistema Alarms – Lasa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dados das operações foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), BDE Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e MAPBIOMAS. 

A devastação causada pelo garimpo ilegal é uma tragédia que ameaça não apenas as Terras Indígenas, mas todo o equilíbrio ecológico da Amazônia e os povos que dela dependem. Não podemos permitir que essa destruição continue impune, alimentada pela ganância de alguns poucos e pela falta de fiscalização efetiva.

Mais de 195 mil pessoas já se uniram à campanha ‘Amazônia Livre de Garimpo’, mostrando que a luta pela preservação da Amazônia é coletiva e urgente. Junte-se a nós e faça parte dessa mobilização em defesa das florestas e dos povos indígenas. Assine a nossa petição  Amazônia Livre de Garimpo e fortaleça essa causa.

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