Com a mensagem “nossa sobrevivência está em jogo”, lideranças de oito etnias diferentes do Brasil exigiram a proteção das florestas e a responsabilidade das empresas em não comprar produtos ligados ao desmatamento

As lideranças da “Jornada Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais”, realizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), protestaram pacificamente nesta quinta (24), em Berlim, em frente ao edifício onde ocorria a reunião de sustentabilidade do Consumer Goods Forum (CGF) – uma cúpula formada pelas maiores indústrias alimentícias do mundo.

Entre os participantes da reunião do CGF, estavam as maiores marcas de alimentos industrializados e ultraprocessados do mundo, como Nestlé, Unilever, Cargill e Mondelēz. “As indústrias que vocês representam têm parte na responsabilidade pelas ameaças que os indígenas vêm sofrendo no Brasil. Tudo está em jogo: a floresta Amazônica, o clima e a nossa sobrevivência”, disse Sonia Guajajara, uma das lideranças da Jornada.

Desde janeiro, o número de invasões de Terras Indígenas (TI) dobrou, e os ataques contra territórios dos povos originários aumentou 44% em relação ao mesmo período de 2018, de acordo com dados do Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Os invasores, que costumam estar fortemente armados, entram nas TI para desmatar e explorar minérios ilegalmente.

Durante o protesto pacífico, ativistas do Greenpeace Alemanha levaram um tronco queimando com as palavras “parem de matar as florestas”, como uma forma de simbolizar as queimadas que vêm destruindo a floresta Amazônica para dar lugar a grileiros, ao agronegócio irresponsável e ao garimpo ilegal.

Gesche Jürgens, da campanha de florestas do Greenpeace Alemanha, disse que “a indústria precisa tomar para si a responsabilidade pelo impacto que provoca, e parar de comprar de quem destrói a floresta. Governos europeus devem forçar legalmente as indústrias a não vender produtos que violam os Direitos Humanos e as regulamentações ambientais, ou que contribuam para o desmatamento.”

Em 2010, o CGF prometeu acabar com o desmatamento na Amazônia, e estipulou o ano de 2020 como prazo final para bater essa meta. O plano era criar uma rede de fornecimento responsável de commodities produzidas no Brasil – em especial, gado e soja, os dois produtos que mais tomam o espaço antes ocupado pela floresta. Só que a ideia só ficou no papel. Recentemente, o CEO da Cargill, multinacional presente na produção de soja no Brasil e participante do CGF, admitiu que esse plano fracassou.

O que os indígenas estão fazendo na Europa?

No dia 17 de outubro, oito líderes indígenas das cinco regiões brasileiras embarcaram em uma jornada de 35 dias por 19 cidades europeias. O objetivo é denunciar a autoridades, empresas e sociedade europeia a violenta realidade vivida pelos indígenas – violência que intensificou após a posse de Bolsonaro.

Os integrantes da Jornada participam de reuniões, encontros, entrevistas e debates acadêmicos para sensibilizar pessoas e cobrar ações dos governos e empresas nacionais e estrangeiros para que cumpram acordos de preservação do meio ambiente.

Os oito líderes também expõem problemas nacionais que impactam diretamente a vida e o equilíbrio dos indígenas e dos nossos biomas, como desmatamento e uso de agrotóxicos para produção de soja e milho para o agronegócio, a grilagem de terra, os conflitos sociais e a exploração de trabalho escravo, em especial nas zonas rurais do país.

Realizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), com apoio de voluntários e organizações nacionais e internacionais, a Jornada Sangue Indígena termina no dia 20 de novembro. Saiba mais, acompanhe e ajude a divulgar: nenhumagotamais.org.

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