Em novo livro, Matthew Shirts se junta ao Greenpeace Brasil para mostrar que há saídas para o aquecimento global
Chuvas arrebatadoras e mais comuns do que o esperado, ondas de calor que nos dão a sensação de estar em meio ao deserto em pleno julho de Santa Catarina, longos períodos de seca e frio intenso. Esses são apenas alguns dos sintomas de uma doença que vem nos assolando há anos: o aquecimento global. Sim, ele, que uma vez propagado, provoca alterações preocupantes no clima e intensifica a ocorrência de fenômenos climatológicos extremos, impactando diretamente a vida da população.
Nesse caso, se o aquecimento global é a doença, os eventos extremos são os casos mais graves, quando esse vírus se apresenta em sua forma mais exposta e… letal. De qualquer forma, todos esses sintomas surgem a partir de uma mesma matriz: o aumento da temperatura média do planeta. Pode parecer besteira dizer que 0,5 grau tenha tamanho impacto, e você pode até pensar “se nós, seres humanos, já aguentamos um calor de 33°, por que não aguentaríamos de 34? 35?”. Pois bem, infelizmente não é assim que a banda toca quando se trata do planeta.
O aumento da temperatura desregula ciclos naturais do clima, afetando principalmente as populações em situação de vulnerabilidade. Entre elas, comunidades ribeirinhas e pessoas que vivem em encostas ou nas periferias das cidades sem infraestrutura e saneamento básico adequado.
Mas então para onde é que esse barco vai nos levar?
Calma! O clima tá tenso mas não precisa continuar assim – e nós temos um papel fundamental nisso. Limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5°C reduziria substancialmente as perdas e danos projetados. Para alcançarmos essa meta, é preciso acabar com o uso dos combustíveis fósseis, combater o desmatamento e garantir os direitos dos povos da floresta. E antes de tudo isso, é preciso falar sobre o assunto e conscientizar a população, em sua totalidade, sobre o que de fato está acontecendo.
Foi pensando na mudança que Matthew Shirts, jornalista ambiental norte-americano, escreveu seu mais recente livro “Emergência climática”. Em parceria com o Greenpeace Brasil, o autor se debruça sobre temas como o aquecimento global e as mudanças no clima de um jeito didático e descomplicado.
O título, que (junto com o livro Ser estrangeiro) abre a coleção Tirando de Letra, detalha, por meio de gráficos e fotografias, tudo o que permeia o universo climático nos últimos tempos — dos desafios de um acordo global para combate ao aquecimento, passando pelo novo ativismo jovem que tem sido protagonista nesta luta, à importância do Brasil neste panorama, além do que podemos esperar do futuro.
A obra ganhou vida em um evento de lançamento na quinta-feira (15), na Livraria da Vila – Fradique, em uma noite fria de São Paulo. A casa ficou cheia, e teve até gente de pé para ouvir a ativista ambiental e jovem embaixadora da ONU Amanda Costa conversar com o autor Matthew Shirts, com mediação de Leandro Ramos, diretor de Campanhas do Greenpeace Brasil. Depois da roda de conversa, o autor participou de uma sessão de autógrafos acolhedora.
Matthew e Amanda, que escreveu a orelha do livro, possuem uma parceria de longa data que transpareceu durante a conversa. De um lado, uma ativista climática de 25 anos que carrega uma potência avassaladora e um histórico de mobilização impressionante. De outro, um autor com décadas de experiência no ativismo e jornalismo científico-ambiental. Este, por sua vez, está tão inspirado em ver a juventude climática ascender que abre todos os espaços possíveis para que isso aconteça – e se emociona com lágrimas nos olhos só de falar sobre isso. Juntos, são mãos que se entrelaçam para frear o fim do mundo.
“Esse livro é uma tentativa de trazer gente para a questão climática. Eu comecei com isso em 2004 e não era uma questão política. Era uma questão técnica e ambientalista. […] O tema ganhou vida recentemente graças à participação dos jovens do mundo inteiro que abraçaram essa questão. A Greta [Thunberg] é um ótimo exemplo porque ela dividiu o mundo entre antes e depois. A partir dela começaram vários outros movimentos, ela trouxe toda uma geração junto com ela pra dentro da pauta climática. Não existe clima sem justiça. A justiça climática permeia tudo. E eu tô amando todo esse movimento de jovens, é tudo muito emocionante pra mim”, disse o autor.
Para Amanda, lutar por justiça climática e fortalecer obras como esta são fundamentais: “A gente tá lutando pelo nosso direito de viver. Pelo nosso presente e pelo futuro. Muitos jovens da minha idade não vão ter filhos. Não porque não querem, mas porque têm medo de não existir planeta para isso. A fome já é realidade, as enchentes já são realidade. A gente precisa fazer esse debate de raça, classe e gênero pra ter essa discussão inclusiva. Pra gente falar de justiça enquanto executa de fato. O racismo ambiental precisa estar na mesa. A gente tem que fazer esse recorte, entender as perspectivas”.
Mas a realidade é que nada disso importa se as pessoas não entenderem do que estamos falando. É preciso comunicar de forma clara e que faça sentido para o dia a dia e a realidade da população.
“A questão é tentar encontrar as pessoas onde elas estão. E basicamente a mensagem do livro é: parem de queimar coisas”, brincou Matthew. Amanda compartilha desse mesmo desejo: “Tem uma vontade profunda no meu coração que é de expandir. Tecer redes, criar pontes. E eu uso minhas redes sociais pra isso. Pra mostrar que universo pode ser um universo de solução. Se conectar com pessoas que ainda não tão com o microfone na mão dentro do debate. Até dança no TikTok eu faço se for preciso para comunicar, para falar com e sobre pessoas que se parecem comigo e são ceifadas há tanto tempo pelo sistema”.
Então, diante desse cenário, o que o Brasil precisa para mudar?
“A gente precisa do ânimo, a gente precisa abraçar essa causa com entusiasmo. Então sobretudo é uma questão espiritual, e o Brasil é muito bom nisso. E precisamos de um governo que nos anime também”, explicou Matthew.
Amanda complementou dizendo que as queimadas na Amazônia já têm um custo altíssimo para certos grupos sociais: “Quando a gente olha pro cenário global, a gente entende que a crise climática já está impactando todo mundo, mas tem um grupo específico e mais vulnerabilizado que sofre muito mais. O que o Brasil precisa é pensar em políticas que entendam como a crise afeta e como a gente cria planos de contingência. É pensar e entender sobre um cenário que já está acontecendo. É diminuir os impactos dessa crise, salvar vidas”.
Essas e muitas outras questões sobre o clima serão discutidas em breve na COP-27, que será sediada no Egito em novembro. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas acontece anualmente e é onde centenas de líderes mundiais se reúnem para negociar e acordar planos de resposta às alterações climáticas.
E é claro que esse assunto surgiu na roda de conversa, e os convidados já têm expectativas. Matthew espera que sejam feitas reparações de adaptação porque hoje quem mais causam as mudanças climáticas são as economias avançadas, e quem mais sofre com os efeitos delas são os países mais vulneráveis social e economicamente.
Amanda, que estará presente na COP deste ano, disse: “apesar das dificuldades, eu espero me aproximar dos tomadores de decisão e cobrar que essas mudanças sejam protocoladas e viabilizadas. Que as populações negras sejam incluídas dentro dos espaços burocráticos e formais. Porque na prática a gente já transforma tudo”.
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Discussão
Parabéns a todos que participaram deste evento. Aos 75 anos estou descobrindo o caminho da defesa do nosso planeta. Não sei como mas se precisarem de algum apoio em Sergipe me avisem.