O atual padrão de produção e consumo de carne pode levar o planeta e nossa saúde à exaustão!

Há algo cheirando mal na comida que temos levado para casa. Em algum momento da história começamos a deixar de lado o contato com os alimentos e suas origens e embarcamos em um turbilhão de consumo que nos trouxe aos dias de hoje, em que cada vez mais entendemos menos de onde eles vêm e do que se trata a lista de ingredientes daquilo que levamos à boca.

A atual forma de se produzir e consumir alimentos no Brasil tem um gosto de estragado. Produzimos grãos e carnes de forma desproporcional se compararmos com outros tipos de alimentos sob o argumento de erradicar a fome global. Mas na realidade vivemos um triste paradoxo: A fome ainda assola nosso país – além de tantos outros -, enquanto o número de brasileiros obesos e com sobrepeso, sofrendo com doenças crônicas causadas em grande parte por uma alimentação rica em açúcar e gordura e pobre em todo o resto, continua a crescer. Somos um país de obesos famintos!

Safra após safra, empresas e governos se orgulham dos recordes na produção de grãos e carnes, enquanto o principal problema causador da fome continua a existir, a desigualdade social e distribuição de renda.

Floresta pegando fogo na Amazônia

O avanço da pecuária e da monocultura de soja – que tem boa parte de sua produção destinada à ração animal – causa enormes impactos na floresta e populações locais

Os grãos produzidos são destinados em sua maioria para ração, usada, principalmente, na alimentação de aves no Brasil e engorda de animais diversos que vão parar na mesa de asiáticos, europeus e norte americanos. Percorrem um enorme e impactante caminho, e, por isto, ineficiente, de transformação de plantas em proteína animal.

Por essas, e muitas outras, é que o agro não anda tão pop assim. Afinal, fica escondida embaixo do tapete toda a crescente desigualdade social, o atropelamento de direitos de populações tradicionais e indígenas, a destruição da Amazônia e do Cerrado, a contaminação de trabalhadores rurais e do alimento de nossas famílias por agrotóxicos, a extinção de espécies e de rios, que simplesmente somem do mapa. Todas mazelas perpetuadas e aceleradas por esse modelo de produção defendido pelo agro.

São muitas coisas em jogo na disputa do Congresso no que diz respeito à qualidade da nossa alimentação. Entre as principais e imediatas ameaças estão a possibilidade da nossa comida receber ainda mais veneno, eventualmente até mesmo papelão. A turma do agro vem há muito tempo tentando tirar um direito básico de qualquer consumidor no mundo: a informação no rótulo se o alimento é geneticamente modificado. E conseguiram reduzir a níveis mínimos, para não dizer ridículos, o investimento nas políticas públicas para produção agroecológica e de origem familiar, algo que irá reverter um avanço de anos no fortalecimento desse tipo de produção, já carente de apoio e incentivos específicos.

Se a gente for pensar, ser o “celeiro do mundo”, como gostam de apelidar o Brasil, pode ser ótimo para quem ganha bastante dinheiro no grande jogo de apostas do mercado futuro de negociação de commodities, mas, pra mim e para uma porção gigantesca de pessoas comuns como eu, isso não é lá grande coisa, muito pelo contrário. No fim das contas, é como se fôssemos o eterno Brasil colonial, o grande provedor de recursos naturais. Apesar de toda a tecnologia de ponta voltada para essa forma de produzir, o que sobra para nós nesse grande celeiro é muito bagaço e pouca fruta. Que tem como resultado a concentração de terras e renda.

Vegetais sazonais e regionais

Uma alimentação variada, colorida e rica em vegetais é melhor para o planeta e para a nossa saúde.

Para mim, melhor seria se o Brasil fosse comparado à cozinha do mundo, onde a comida de verdade é preparada e compartilhada com quem a gente ama. Pratos diversos e deliciosos que nutrem o corpo e a alma. Mas para chegar à isso, tem muito chão para mudar.

A transição para um sistema mais justo e equilibrado de produção, para que todos possam vir a se alimentar de maneira saudável, passa pelo aumento do apetite dos poderosos em parar de tratar os consumidores desse “celeiro” como cidadãos de segunda categoria. Passa também pela forma como nos relacionamos com a comida. Embora o mercado se esforce para ocultar as informações sobre o que consumimos e de onde vem, temos o direito de saber e o dever de cobrar por essa informação.

Sim, temos que lutar para conquistarmos o direito de escolher. Para aqueles que já podem fazer essas escolhas, há uma responsabilidade de exercer a comida também como ato político. Podemos escolher entre a Coca-Cola e a limonada, entre o bife em todas as refeições por menos bife e e pratos mais coloridos e diversificados.

Apesar do consumo sustentável estar em voga, infelizmente, a vida do consumidor anda bem complicada em tempos em que os interesses do agronegócio, e não os da sociedade, entram como prato principal de um país dominado por uma Bancada Ruralista.

Promover uma mudança na forma de produzir e consumir alimentos não diz respeito apenas ao planeta – embora ele esteja claramente pedindo socorro. Trata-se também de cuidar da nossa saúde e das futuras gerações e de melhorar e fortalecer as relações humanas. Afinal, nada melhor do que se reunir em torno de uma mesa ao lado das pessoas que você ama, com comida de verdade.

O Greenpeace está lançando globalmente a campanha “Less and Better” – “Menos é mais” em português – a favor de uma alimentação mais equilibrada para a saúde e para o planeta, com menos carne no prato. O Greenpeace Brasil também é a favor da alimentação saudável e equilibrada acessível como direito de todos. Aqui você pode conferir o material em inglês.

* – Adriana Charoux é especialista em Amazônia no Greenpeace Brasil

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