Infelizmente, a água não é um recurso pensado e cuidado diariamente – é necessária uma data para que lhe seja dedicada alguma atenção

© Christian Kaiser/Greenpeace

© Christian Kaiser/Greenpeace

No Dia Mundial da Água em 2015, a sociedade estava mobilizada para falar e pensar a água, porque entendeu a fundamentalidade do recurso. Passado um ano, a chuva lavou a memória da seca e, novamente, o escasso recurso parece ter sido esquecido.

A falta de água não é apenas consequência da falta de chuva e das mudanças climáticas, mas também das ações do homem. O Brasil conta com 12% da água doce do mundo. Mesmo assim, enfrenta secas em locais que historicamente possuem abundância do recurso, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro.

As chuvas de verão que retiraram o sistema cantareira do volume morto, resultaram em  enchentes em diversos municípios com mortes e prejuízos sociais, evidenciando as alterações em cursos d’água causadas pelas grandes cidades.

As cidades encobrem rios e poluem águas, de forma a contribuir com a escassez hídrica, e transformar chuva em enchente. A captação de água é cada vez mais longe dos centros urbanos, em áreas rurais, onde os mananciais ficam suscetíveis às oscilações climáticas devido ao desmatamento de áreas que deveriam ser de preservação permanente. No Sistema Cantareira, o desmatamento histórico é de mais de 70%. De acordo com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), há 35% de cobertura florestal, 46% de pasto, e 56% de eucalipto, um cenário de completa devastação.

O problema é crônico, mas há soluções permanentes, sem que as alternativas sejas obras que no futuro não serão mais eficientes, pois apenas contribuem para transferir a seca para outro manancial, como é o caso emblemático da transposição do rio Paraíba do Sul para o Cantareira, que pode comprometer o próprio Paraíba do Sul, também castigado pela estiagem. Além disso, as obras foram realizadas sem estudos de impactos ambientais, em caráter emergencial, podendo agravar a situação dos mananciais à medida que não se sabe qual os impactos dessas obras milionárias.

A recuperação das águas brasileiras passa pelo desmatamento zero e recuperação de áreas de preservação; pela economia de água por meio da utilização de água de reuso e reestruturação da infraestrutura de distribuição de água; por fim, pelo tratamento de esgoto e despoluição dos rios. Não existem  soluções mágicas, faz-se necessário um trabalho árduo de governo e município para que as cidades tenham a infraestrutura necessária para utilizar a água de maneira sustentável, e que o desmatamento não comprometa as fontes de abastecimento urbano e rural.

O Greenpeace pede, no Dia Mundial da Água, por justiça para a água e para as pessoas que dependem dela. A água é um recurso de direito de todos, e no momento em que todos possuírem esse direito, estaremos mais próximos de um país menos desigual.  

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