Segundo levantamento da organização de pesquisa Profundo, os investimentos do banco holandês podem ter gerado ao menos 66 bilhões em prejuízos ambientais e sociais ao Brasil
Uma pesquisa realizada pela organização de pesquisa Profundo, a pedido do Greenpeace Holanda, calculou a contribuição do Rabobank, instituição financeira holandesa, para a destruição ambiental no Brasil e o custo associado aos danos ambientais e sociais causados pelas atividades financiadas. A estimativa é que para cada 1 euro de lucro que o banco obtém com estes empréstimos, há pelo menos 94 euros em danos socioambientais.
Para compreender essa relação entre lucro final e custo socioambiental, a Profundo investigou os fluxos financeiros do Rabobank em atividades que contribuem para o desmatamento e degradação do meio ambiente no Brasil: de um lado, os financiamentos e outros serviços financeiros a empresas dos setores de carne bovina, soja e papel e celulose no Brasil e, do outro, o investimento do banco na produção industrial de carne na Holanda, que é altamente dependente da soja brasileira. Metodologias foram aplicadas para calcular os danos associados e podem ser lidas aqui (em inglês).
Segundo o levantamento, entre 2000 e 2023 o Rabobank injetou quase 10 bilhões de dólares em financiamentos para setores que são considerados de risco, ou seja, têm um histórico de contribuição com a destruição e degradação de ecossistemas no Brasil, o que rendeu 717 milhões de euros em lucros ao Rabobank. No entanto, os custos associados aos danos climáticos, ambientais e de saúde ligados a esses fluxos financeiros são de pelo menos 66 bilhões de euros.
Entre estes prejuízos, está a emissão de gases do efeito estufa. Os investimentos diretos e indiretos do Rabobank em setores de risco no Brasil foram associados a 108 milhões de toneladas de emissões de CO2e, provenientes do desmatamento, e 148 milhões de toneladas de CO2e de metano da indústria pecuária brasileira. Só o dano causado por essas emissões totais de CO2e – dependendo do método de cálculo – pode chegar a 22 bilhões de euros. Se o impacto social do aquecimento global também for incluído nos cálculos, esse valor pode alcançar 296,6 bilhões de euros.
Também entraram na conta os prejuízos com o desmatamento, os gastos com problemas de saúde causados, por exemplo, pela fumaça das queimadas e pelo uso de agrotóxicos, e a perda de biodiversidade.
Greenpeace Holanda pede mais responsabilidade do setor financeiro
O Greenpeace Holanda tem demandado que haja no bloco europeu uma legislação que obrigue as instituições financeiras a fazer a devida diligência dos serviços disponibilizados para empresas e produtores de setores que apresentam risco aos ecossistemas e aos povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares. A lei anti-desmatamento recentemente aprovada ainda não impõe as obrigações de devida diligência às instituições financeiras.
No caso do Rabobank, o Greenpeace Holanda demanda que o banco pare de financiar a agricultura industrial que leva à destruição da natureza, seja na Holanda ou em outras partes do mundo, e comece a pagar pelos danos causados por seus investimentos.
O problema não é um banco, mas todo o setor.
Este é apenas mais um, dos muitos exemplos que mostram que os fluxos monetários globais contribuem para os danos ao clima e à saúde em todo o mundo. Um modelo onde há lucro para as instituições financeiras, enquanto os custos climáticos, ambientais e sociais recaem sobre toda a sociedade.
No Brasil, apesar de termos avanços com as normas do Banco Central que obrigam as instituições bancárias a seguir critérios na concessão de crédito para a agropecuária, ainda existem lacunas que permitem que os fluxos financeiros resultem no desmatamento ilegal e na violação de direitos humanos.
Assim como empresas do agronegócio, que têm um papel bem conhecido no desmatamento no Brasil, as instituições financeiras têm sua parcela de responsabilidade no aumento do desmatamento ilegal que intensifica a emergência climática que vivemos. Essas instituições, bem como os reguladores, precisam agir para que as regras e os critérios legais existentes sejam efetivamente cumpridos, bem como para que nenhum dinheiro seja investido em atividades que tenham relação com a destruição dos nossos habitats e com a violação de direitos humanos.
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