Vista aérea de uma manifestação com caiaques dispostos em círculo sobre vegetação aquática. No centro, letras amarelas formam a frase "NO MÁS PLÁSTICOS", ao lado de um jacaré simbólico. Participantes seguram faixas com mensagens ambientais. A ação denuncia a poluição por plásticos nos ecossistemas aquáticos
© Paola Chiomante / Greenpeace

Documento mostra que mais de 51 milhões de pessoas vivem próximas a fábricas petroquímicas e estão expostas à poluição do ar causada pela produção de plásticos

O plástico está em todo lugar, basta abrir os olhos e você certamente verá, ou até pode estar vestindo algo que tem plásticos em sua composição. Neste momento, ao escrever esse texto, digito em um teclado feito de plásticos, me hidrato em uma garrafinha, com plástico em sua composição e até meu amado café não escapa dessa.

Quando falamos em crise do plástico, o imaginário coletivo ainda associa o problema às tartarugas engasgando com canudos ou àquele copinho descartável boiando no mar, e tudo isso infelizmente continua, acompanhados de um inimigo que consegue ser invisível e ainda maior. 

O novo relatório do Greenpeace Internacional revela algo preocupante:

A produção de plásticos está envenenando o ar que respiramos e comprometendo a saúde de milhões de pessoas ao redor do mundo.

Publicado em julho de 2025, o relatório Every Breath You Take mapeia áreas próximas a fábricas petroquímicas em 11 países e revela que mais de 51 milhões de pessoas vivem em um raio de até 10 km dessas instalações; uma proximidade associada a doenças respiratórias, câncer e impactos severos na saúde pública.

O que o plástico tem a ver com o ar que a gente respira?

Essas fábricas não estão isoladas em zonas industriais. Pelo contrário, se instalam lado a lado de comunidades, geralmente habitadas por pessoas pobres, negras, indígenas ou marginalizadas. Nos Estados Unidos, por exemplo, os maiores focos estão em Louisiana e no Texas, em locais apelidados de “Cancer Alley” por suas taxas elevadas de câncer.

Casos semelhantes foram identificados no Canadá, Índia, Coreia do Sul,  África do Sul e na Europa. Em muitos desses lugares, o termo “zonas de sacrifício” passou a ser usado para descrever áreas onde os impactos à saúde e ao meio ambiente são tão severos que parecem não importar para governos e corporações.

A poluição por plásticos é uma das grandes crises que agravam a vulnerabilidade do planeta. Oceanos contaminados não cumprem seu papel na regulação do clima, e o plástico infiltrado na vida marinha ameaça diretamente a saúde humana e ambiental. É urgente a decisão dos países de frear a produção de plásticos e os combustíveis fósseis que alimentam essa cadeia de destruição.

Mariana Andrade, porta-voz do Greenpeace Brasil

A produção de plástico afetando o clima e a saúde

O relatório alerta que a fabricação de plásticos petroquímicos gera emissões tóxicas e gases do efeito estufa, incluindo:

  • Gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano;
  • Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) como benzeno, tolueno e 1,3-butadieno — substâncias cancerígenas e neurotóxicas;
  • Partículas inaláveis (MP2.5 e MP10), NOx e SOx, que afetam diretamente pulmões e coração.
Complexo industrial com grandes estruturas metálicas e chaminés brancas e vermelhas, liberando fumaça branca no ar. A cena é capturada ao entardecer, com céu nublado e tonalidades rosadas. A instalação está cercada por área de vegetação rasteira. A imagem sugere impacto ambiental e emissão de poluentes.
© Giuseppe Lanotte / Greenpeace

O que são fábricas petroquímicas e por que elas poluem tanto?

As fábricas petroquímicas, foco deste relatório, ocupam o estágio intermediário da produção de plásticos, conhecido como midstream

  • Nessa etapa, combustíveis fósseis refinados, como petróleo cru e gás natural, são transformados em compostos químicos que dão origem às resinas plásticas. 
  • Essas resinas são geralmente moldadas em pequenas bolinhas chamadas pellets ou nurdles, que funcionam como matéria-prima básica para a fabricação de quase todos os produtos plásticos — de garrafas e sacolas a embalagens, roupas e utensílios do dia a dia.

Com alto consumo de energia e processamento de grandes volumes químicos, ao produzirem itens plásticos, essas indústrias liberam diariamente poluentes perigosos no ar. E embora essa poluição muitas vezes passe despercebida, seus impactos são profundos e visíveis nos corpos, na saúde e nas estatísticas das comunidades vizinhas.

Esse processo faz parte de uma cadeia linear de produção que começa com a extração de petróleo e gás, passa pela conversão em petroquímicos, segue para a fabricação de produtos plásticos e culmina no descarte. Mas não para por aí: muitas vezes, esse descarte ocorre de forma inadequada, fazendo com que o item plástico acumule-se na natureza, chegue a corpos d’água, como o oceano e inicie uma nova etapa de seu ciclo de vida que dura milhares de anos e o transforma em pequenos pedacinhos, ou microplásticos, cada vez mais impactantes para a vida no mar e no continente. 

Ou seja, a poluição impacta todas as etapas do ciclo de vida do plástico, da origem ao fim.

O plástico descartado desaparece?

Não. O plástico descartado se fragmenta em pedaços cada vez menores, infiltrando-se em ecossistemas marinhos, terrestres, nas casas das pessoas e até dentro de seus corpos. O relatório cita estudos recentes que encontraram microplásticos nas fezes de mamíferos terrestres em Taiwan, Hong Kong e Suíça.

Isso mostra que a poluição plástica ultrapassa fronteiras, oceanos e sistemas respiratórios, afetando cadeias alimentares, biodiversidade e saúde humana de formas que ainda estamos começando a entender.

Por que a produção de plástico continua crescendo?

Mesmo com o alerta de cientistas, ambientalistas e consumidores, a produção global de plásticos segue em expansão e a indústria de combustíveis fósseis aposta nela como um caminho possível de continuar relevante. 

Estima-se que mais da metade de todo o plástico existente no mundo foi produzido entre 2004 e 2017, e que esse número pode dobrar até 2050.

Boa parte dessa produção serve para fabricar embalagens descartáveis e roupas de fast fashion, produtos de vida útil curta, mas que deixam um longo rastro de resíduos, especialmente em países de baixa renda, submetidos ao colonialismo dos resíduos. 

E mesmo com esse cenário alarmante, os esforços globais para conter a crise ainda enfrentam fortes obstáculos. Um exemplo disso é a tentativa de criação do Tratado Global sobre Plásticos, um acordo internacional que busca reduzir a produção de plásticos e seus impactos ao longo de todo o ciclo de vida, desde a extração até o descarte.

Quem está tentando barrar soluções reais?

A negociação do Tratado Global sobre Plásticos, iniciada em 2022 e prevista para ser finalizada em 2024, foi fortemente impactada pela atuação de mais de 220 lobistas ligados às indústrias de petróleo e química. Eles promoveram campanhas de desinformação, atacaram cientistas e trabalharam ativamente para esvaziar as metas do acordo, chegando, inclusive, a integrar delegações oficiais nas rodadas de negociação.

Ainda assim, na quinta — e supostamente a última — sessão de negociação, houve resistência. Mais de 85 países se mantiveram firmes e rejeitaram a proposta de um tratado fraco, sem metas claras de redução na produção. Dessa forma, um novo encontro em agosto de 2025, em Genebra, na Suíça, foi marcado para impulsionar a criação de um tratado verdadeiramente ambicioso, que enfrente a crise plástica e modelo atual de produção.

O que precisa ser feito?

A produção de plásticos precisa ser reduzida em pelo menos 75% até 2040. Só assim será possível proteger comunidades, frear a crise climática e dar fim à era do plástico descartável.

Não basta falar de reciclagem. É preciso cortar o problema pela raiz, combatendo a poluição das petroquímicas e dos combustíveis fósseis. E esse enfrentamento precisa ser feito de forma justa, com inclusão das comunidades afetadas, dos países do Sul Global e da ciência.

Por um futuro respirável

A indústria do plástico quer continuar crescendo, mesmo que isso custe a saúde e o futuro de milhões. O mundo precisa de um Tratado Global sobre Plásticos que seja forte, ambicioso e justo.

Junte-se a mais de 85 mil pessoas que pedem por um futuro mais limpo longo dos plásticos!

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