Agroecologia foi o caminho que o Movimento de Pequenos Agricultores – MPA, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Greenpeace encontraram para aplacar a fome agravada durante a pandemia em Jacarepaguá, na Zona Oeste da capital do Rio de Janeiro.

A pandemia acabou impactando a vida de muitas famílias da região que já estavam vivendo da produção agroecológica local e agroecológica, gerando um ambiente de insegurança alimentar.  Muitos que já produziam e comercializavam em feiras acabaram tendo sua produção e renda paralisadas pela quarentena obrigatória para conter a propagação do Coronavírus. 

“A pandemia agravou os problemas que já existem, como o desemprego, a insegurança e essa preocupação se podemos ficar sem poder ir para as feiras. E se isso acontecesse, como íamos escoar a produção?”, explicou Fátima Maria da Silva. 

Foram entregues 1,5 toneladas de alimentos da agroecologia para 90 famílias no dia 26 de novembro. Também estão programadas mais duas entregas na região, uma no dia 17 de dezembro e a terceira e última em 28 de janeiro de 2022, totalizando 4,5  toneladas. As entregas aconteceram nas comunidades vizinhas ao Campus Fiocruz Mata Atlântica (PDCFMA/Fiocruz), na área da Colônia Juliano Moreira (CJM), em Jacarepaguá. 

O território de oito quilômetros quadrados, tamanho similar ao do bairro de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, originou-se a partir de um engenho de cana-de-açúcar, desmembrado em 1664 e denominado Fazenda Nossa Senhora dos Remédios. A partir de 1920, foram construídas as edificações do Núcleo Psiquiátrico da Colônia Juliano Moreira. Com o início da reforma psiquiátrica, o local foi desativado. Os pacientes foram relocados para moradias assistidas e acabaram se integrando a urbanização do local, que foi transformado em bairro após a vinda de famílias de outras regiões atraídas pela construção de casas dos programas Morar Carioca e Minha Casa, Minha Vida e da Transolímpica, rodovia que divide a Colônia.

As primeiras entregas aconteceram no Setor 1, nas bordas do Parque Estadual da Pedra Branca, próximo ao campus da Fiocruz, onde a instituição fomenta, desde o final de 2003, ações de agricultura familiar como os Quintais Produtivos, em parceria com a comunidade local.  “A colônia sempre teve um grande potencial e histórico de agricultura, e muita criação cultural e artística. Tem muita gente aqui que planta porque aprendeu com os pais, que era um funcionário da colônia, ou que vieram de outros estados e trouxeram essa experiência. Algumas pessoas estão usando inclusive a agroecologia para sair da depressão”, conta Robson Patrocinio de Souza, coordenador do programa de soberania e segurança alimentar e nutricional e economia solidária na Fiocruz Mata Atlântica.

O impacto do desemprego na vida dos produtores

O desemprego foi o que mais pesou para os moradores que não tinham produção para venda. Orleia Ferreira Galvão Nunes, agricultora familiar, sempre plantou mais para consumo próprio. Foram o pomar e a horta com abacaxi, tangerina, banana, cebolinha e aipim que acabou garantindo boa parte do alimento dos cinco netos e cinco adultos que moram em sua casa. 

As cestas agroecológicas vieram em um momento em que o marido e o genro estão sem trabalho. “Eles são jardineiros. E quando começa chover ninguém contrata serviço de jardim. E a luz está vindo muito caro. A cesta ajudou muito. Nem imagina. As pessoas acham que é só uma cesta, mas aqui, com cinco crianças, às vezes tiramos do básico para juntar dinheiro e completar para pagar a luz. Se não, cortam.”, diz Orleia.

Para Robson, para aumentar a soberania alimentar das famílias da região, a proposta é ir além da doação de cestas, que é uma ação emergencial, mas também apoiá-los na produção de sementes crioulas e no aumento da produção agroecológica, dois caminhos intrinsecamente ligados.  

“A agroecologia é uma proposta viável em áreas como o Rio de Janeiro, onde também precisamos falar da possibilidade de uma agricultura urbana. Mas acabamos identificando nesse processo que muitas famílias não estão mais encontrando sementes sem ‘defensivo’ para plantar. Nos mercados todas já vem com veneno. E isso veio aparecendo na pauta das reuniões.  E isso dificulta a vida de quem é certificado e produz orgânico”, explica Robson. 

A solução para o problema veio de uma parceria entre a Fiocruz e a Embrapa Agrobiologia para a construção de um processo de apoio aos agricultores para que esses voltem a se apropriar da tecnologia das sementes crioulas.  Além de terem suas próprias sementes, livres de agrotóxicos, royalties de empresas e com possibilidade infinita de reprodução da vida, esses poderão no futuro se tornar produtores de sementes para outros produtores.

“A campanha busca resolver uma urgência que é a fome, mas também reforçar a mensagem de que o acesso à comida saudável é um direito constitucional e que, portanto, o acesso a alimentos produzidos sem veneno deve ser democrático. Queremos mostrar que a transição para outro modelo que não agrida a saúde das pessoas e o meio ambiente e ainda alimenta é possível”, afirmou Marina Lacôrte, da campanha de Agricultura do Greenpeace.

Se você apoia campanhas como esta, doe e ajude a fortalecer a agroecologia. Desde março de 2021, o Greenpeace já doou mais de 64 toneladas de alimentos agroecológicos em parceria com movimentos da Agricultura Familiar e inúmeras organizações de todo o Brasil.

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