Das ruínas da escola de Bento Rodrigues, a palavra JUSTIÇA emerge como sua última lição e como o grito daqueles que pereceram ou tiveram suas vidas afetadas em função da lama que destruiu a bacia do Rio Doce
Na manhã deste sábado (5/11), ativistas do Greenpeace se juntaram a cerca de 1000 pessoas do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) para pedir justiça aos milhares de afetados pela lama das mineradoras Samarco, Vale e BHP. Um ano após o rompimento da barragem de Fundão, que destruiu a bacia do Rio Doce, as empresas pouco fizeram para reparar os danos que causaram.
Para transmitir essa indignação ao Brasil e ao mundo, cobrar reparações e não deixar que esse desastre seja esquecido, o Greenpeace e o MAB instalaram 21 cruzes sobre a lama, simbolizando as pessoas que perderam suas vidas em função do desastre; e escreveu a palavra JUSTIÇA em uma área de 320 metros quadrados nos muros que ainda resistiram da escola – uma última lição de ensino para aqueles que ainda negligenciam os direitos humanos e do meio ambiente.
“Queremos impedir novas tragédias como esta e por isso não podemos esquecer o que houve aqui. O Rio Doce e os atingidos precisam que a justiça seja feita e que a Samarco, a Vale e a BHP cumpram com a sua responsabilidade de reparação”, diz Fabiana Alves, da campanha de Água do Greenpeace.
A manifestação foi pacífica e não se intimidou com a chuva que caiu no início da manhã, deixando ainda mais barrento o local. Os atingidos de várias localidades chegaram por volta das 10h. Entre muitas recordações emocionadas daqueles que reviam suas casas completamente destruídas, eles deixavam claro: “estamos vivos e somos muitos”.
Durante a celebração de um culto ecumênico, 21 jovens do MAB e do Levante Popular da Juventude também fizeram uma intervenção artística, com seus corpos cobertos de lama e segurando cruzes, dramatizaram as dores de quem perdeu familiares, seus lares, a própria dignidade.
O número de vítimas da lama foi atualizado no dia 15 de outubro com a morte do produtor rural de Bento Rodrigues, Henrique Gonçalves Bretas, 50 anos, em decorrência de depressão e problemas de saúde adquiridos após o desastre.
“Queremos que Bento Rodrigues seja reconstruída o mais rápido possível e que as pessoas atingidas sejam ouvidas, que participem dos processos decisórios. Passado um ano, só o emergencial foi feito e muitos ainda estão sem receber qualquer indenização ou ajuda”, denuncia Sôniamara Maranho, da coordenação nacional do MAB.
Em solidariedade, movimentos sociais e apoiadores de 12 países enviaram seus representantes para o ato, como os similares ao MAB da Argentina e da Colômbia, os atingidos pela Chevron no Equador e o sindicato dos trabalhadores da Vale no Canadá.