Relatório do Greenpeace revela como a poluição do ar na Amazônia é pior do que em megacidades globais, e como as queimadas na região estão concentradas predominantemente em zonas agropecuárias.

O relatório do Greenpeace Internacional acompanha a poluição do ar em regiões-chave da Amazônia, revelando como as queimadas relacionadas às atividades agropecuárias, em particular pastagens para gado e desmatamento, estão degradando a qualidade do ar, ameaçando a saúde pública e acelerando as crises climáticas e de biodiversidade.

Com base em novas medições de qualidade do ar disponíveis publicamente feitas na Amazônia brasileira e usando monitoramento por satélite, o relatório constata um claro aumento na poluição do ar por partículas em suspensão (PM2,5), especialmente perto de zonas intensas de agropecuária  e queimadas florestais. As comunidades que vivem mais próximas dessas fronteiras agrícolas respiram ar perigoso durante vários meses do ano, com níveis de partículas em suspensão que excedem os das principais cidades globais e as diretrizes de saúde da OMS. Este é um problema causado por ações humanas; as queimadas na região amazônica não ocorrem naturalmente, elas costumam ser provocadas intencionalmente e geralmente são ilegais.

A análise mostra que o que antes era considerado uma região de “ar puro” agora enfrenta a contaminação pela fumaça de queimadas, que contribui para uma poluição do ar pior do que a registrada em grandes áreas urbanas. Essa poluição não só prejudica a saúde humana, mas também, por meio do desmatamento, enfraquece a capacidade da floresta de armazenar carbono e regular as chuvas, agravando os riscos climáticos globais.

As conclusões confirmam que a atividade agropecuária e a sua expansão na Amazônia estão causando uma crise de poluição do ar, juntamente com o desmatamento. A supervisão regulatória e a fiscalização relacionadas a queimadas ilegais continuam frágeis, permitindo que as empresas externalizem os custos da poluição para as comunidades e os ecossistemas.

A implementação de compromissos globais para acabar com o desmatamento é urgentemente necessária, e os atores ligados às queimadas ilegais devem ser responsabilizados. Isso é necessário não apenas para a proteção das próprias florestas, mas também para a proteção da saúde humana e para salvaguardar os povos indígenas e as comunidades locais que estão na linha de frente dos impactos das queimadas.

Com ações conjuntas, podemos garantir florestas prósperas e um ambiente saudável para as gerações futuras.

Resumo das conclusões 

Picos extremos de poluição: as concentrações de PM2,5 medidas em Porto Velho e Lábrea excederam em mais de 20 vezes a diretriz de 24 horas da OMS durante a temporada de queimadas de 2024, atingindo médias diárias acima de 300 µg/m³. Mesmo em 2025, os meses de julho, agosto e setembro apresentaram altos níveis de concentração de PM2.5, incluindo média diária superior a 100 µg/m³, o que corresponde a um excedente de mais de 6 vezes o limite recomendado pela OMS para 24 horas.

Comparação global da poluição: os níveis anuais de PM2,5 em Porto Velho superaram os de megacidades como Pequim, Santiago e São Paulo, apesar de seu tamanho relativamente pequeno e da falta de indústria, tornando-a uma das cidades mais poluídas do Brasil.

Atores corporativos: Muitos frigoríficos operam na Amazônia, perto de áreas queimadas. Por exemplo, entre 2019 e 2024, cerca de 30,5 milhões de hectares, o equivalente ao tamanho da Itália, foram queimados no bioma em um raio de 360 km ao redor das instalações da JBS, o maior frigorífico do Brasil. Empresas como a JBS não proíbem ou monitoram de forma eficaz o uso deliberado do fogo em suas cadeias produtivas, deixando-as expostas ao risco de vínculos indiretos ou diretos com fazendas em áreas de queima, inclusive por meio da manutenção de relações comerciais. 

Incêndios provocados por ação humana: As queimadas na Amazônia são, em sua maioria, provocadas pelo homem. São ateadas para limpar florestas e pastagens para a produção de gado, não são ocorrências naturais.

Destruição provocada pelas pastagens: Quase 75% das áreas queimadas ao redor de Porto Velho eram pastagens, indicando que o fogo é uma ferramenta para a pecuária, e não um ciclo natural

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