Decisão abre caminho para empresa aumentar seu potencial destrutivo através da captação bilionária de recursos na Bolsa dos EUA.

Foto de notas de dinheiro em uma mesa.  © Créditos: Studio Birthplace / Greenpeace
Foto de notas de dinheiro em uma mesa. © Créditos: Studio Birthplace / Greenpeace

No dia 23 de maio, os acionistas da JBS — a maior processadora de carne do mundo — aprovaram a proposta de listagem da empresa na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). A decisão marca mais do que um movimento financeiro: devido ao péssimo histórico socioambiental da empresa, representa a legitimação de um plano de crescimento irrestrito com impactos devastadores sobre o clima, os ecossistemas e os povos e comunidades tradicionais.

Com a nova estrutura societária, os irmãos Joesley e Wesley Batista vão ampliar o controle de 48% para 85% da empresa, ao mesmo tempo em que lucram com a expansão de um império construído sobre uma base de desmatamento na cadeia produtiva, escândalos de corrupção e emissões de gases de efeito estufa em escala alarmante. Essa expansão global, longe de ser apenas um plano de crescimento econômico, é vista por organizações ambientais como um risco direto ao futuro do planeta.

“Essa é uma decisão terrível. A listagem da JBS em Wall Street faz dos já bilionários irmãos Batista ainda mais bilionários e, ao mesmo tempo, ajuda a financiar a expansão global de seu modelo de negócios predatório, com graves implicações para os ecossistemas e para o clima”, afirmou Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace Brasil.

A aprovação da proposta ignorou alertas contundentes da sociedade civil e de analistas do setor financeiro. Diversos especialistas argumentaram que empresas com histórico problemático como o da JBS não deveriam ser bem-vindas nos mercados públicos. Ainda assim, os acionistas optaram por seguir com o plano, que garante aos Batista controle quase total da empresa, mesmo diante das controvérsias.

Com a listagem, os irmãos Batista irão transferir a matriz da empresa do Brasil para a Holanda. O Greenpeace Internacional pede que o órgão regulador holandês avalie com rigor se uma empresa com histórico atrelado a desmatamento, escândalos de corrupção e violações de direitos humanos deve ser registrada no país.

“Pedimos ao órgão regulador de cartórios holandês que considere seriamente se uma empresa com um histórico tão ruim merece ser registrada em seu país e se deve ser ajudada por cartórios holandeses”, disse Daniela Montalto, porta-voz do Greenpeace Reino Unido.

As emissões inerentes ao plano de expansão da JBS, pautado no crescimento da produção de carne, podem violar a legislação corporativa da Holanda, onde tribunais já mostraram que analisarão empresas cujos planos de crescimento resultam em aumento de emissões. Recentemente, a ONG Milieudefensie (Amigos da Terra Holanda) entrou com um novo processo contra a Shell por motivos semelhantes, e a Corte de Apelação dos Países Baixos já indicou que vai analisar com rigor esse tipo de plano empresarial.

Além de provocar enorme impacto em ecossistemas vitais como a Amazônia, o impacto climático associado à cadeia de suprimentos da JBS é profundo. Segundo relatório recente publicado pelo Greenpeace Nórdico, estima-se que suas emissões totais de metano rivalizam com as da ExxonMobil e Shell juntas. O metano – apenas uma parte da pesada pegada de emissões da cadeia de suprimentos da JBS – é um gás do efeito estufa que é até 80 vezes mais potente para o aquecimento global que o dióxido de carbono (CO2) num intervalo de 20 anos.

Teve resistência e mobilização

No final de abril o Greenpeace Brasil realizou um protesto pacífico na sede da JBS. A manifestação teve como objetivo chamar a atenção para o papel da empresa na destruição das florestas, em especial da Amazônia, e no consequente colapso climático. Na ocasião, a organização também lançou o relatório “JBS Cozinhando o Planeta”, acompanhado de um site que detalha mais de uma década de conexões entre a empresa e a destruição socioambiental em larga escala. 

Ativistas do Greenpeace Brasil fazem protesto pacífico na sede da JBS em São Paulo. © Greenpeace
Ativistas do Greenpeace Brasil fazem protesto pacífico na sede da JBS em São Paulo. © Greenpeace

Antes da votação,  o Greenpeace Internacional enviou uma carta aos acionistas alertando para os riscos relacionados à dupla listagem.

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Conheça o site JBS: cozinhando o planeta  e assine nossa petição para pedir que governos atuem pelo fim do desmatamento, regulem o setor agropecuário e parem de financiar destruidores de florestas e do clima.

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