Comunidade ribeirinha de Oiapoque, presente na Oficina sobre as ameaças de Exploração de Petróleo na região da Bacia da Foz do Amazonas © Sileno Silva / Greenpeace

As cores vibrantes, a brisa do rio e o barulho que anuncia a pororoca comunicam nossa chegada à comunidade do Arraiol do Bailique, no estado do Amapá, Brasil, onde o rio Amazonas encontra o Oceano Atlântico.

Na região, realizamos nossa última oficina sobre os possíveis impactos da exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Durante as últimas duas semanas, passamos por diversas comunidades ribeirinhas e quilombolas, com nossos parceiros Arayara, WWF, ClimaInfo e Instituto Iepé, ouvindo, compartilhando e em busca de entender os desafios enfrentados por aqueles que vivem no coração da Amazônia e estão com seus modos de vida e existência ameaçados. 

Além de ouvir e aprender com essas comunidades, lançamos a cartilha “Onde essa maré vai dar?”, desenvolvida para ser fonte de informações claras sobre os riscos da exploração de petróleo para as comunidades costeiras da região da Bacia da Foz do Amazonas.

A cartilha explica nossa pesquisa com as correntes de maré realizadas na região da Bacia da Foz do Amazonas, que busca entender como se comportaria um possível derramamento de óleo em caso de vazamento. 

Um dos marcos dessa pesquisa foi o lançamento do Derivador Tartaruga Marinha, que, em apenas 26 horas, percorreu cerca de 1.000 km e atravessou a fronteira com a Guiana Francesa. Lançado sobre o Bloco 59, a principal aposta da Petrobras para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, os dados coletados são alarmantes, mostrando que um possível derramamento de petróleo poderia alcançar águas internacionais, impactando a biodiversidade marinha e os modos de vida das comunidades costeiras.

Essa realidade foi um dos muitos temas discutidos nas oficinas realizadas nas comunidades da região. Cada encontro se tornou um espaço de troca de saberes e de fortalecimento das vozes locais, que continuam a resistir diante das ameaças que surgem em seus territórios.

Imagem paisagem ilustrando um rio que fica em Oiapoque, com árvores ao fundo.
Tais Terra / Greenpeace Brasil

📍Oiapoque

A oficina em Oiapoque foi a maior em termos de participação, reunindo um público significativo de ribeirinhos

Sobre a exploração de petróleo planejada, Sr. Júlio, líder da colônia de pesca de Oiapoque, diz:

“Até hoje continuo dizendo, eu não vi ainda o estudo de migração de pescado, assim como eles fizeram o estudo aqui de migração dos pássaros, das aves, e tal. […] Os pescadores precisam serem ouvidos.”

Os ribeirinhos da região já estão enfrentando mudanças na oferta de peixes nos rios onde realizam a pesca, sua principal fonte de renda.

Relatos indicam que o aquecimento dos oceanos tem levado à morte de peixes, enquanto um aumento das algas (piolho de rede) tem prejudicado tanto a pesca quanto a resistência das redes.

Pessoas reunidas em cima de uma mapa na comunidade quilombola de Cunani
Comunidade do quilombo do Cunani presente na Oficina sobre as ameaças de Exploração de Petróleo na região da Bacia da Foz do Amazonas – Tais Terra / Greenpeace Brasil

📍Cunani

Jovens presentes mostraram grande interesse pelo tema, e pessoas que ainda vivem na região estavam atentas às informações compartilhadas. A conversa também tocou em um tema muito sensível: a retirada das escolas pela administração pública, forçando as famílias a se mudarem para Calçoene, a cidade mais próxima. 

Além disso, a região é rica em histórias populares, como a da Sumaúma, que há anos fez a travessia de procissão de Santa Maria pelo rio, entre outras narrativas que fortalecem a identidade e a resistência cultural da comunidade.

casa de madeira rosa posicionada à esquerda da imagem, e o mar a direita
Tais Terra / Greenpeace Brasil

📍Calçoene

Em Calçoene, a situação não é menos desafiadora. O aumento do nível do mar força a comunidade de Goiabal a migrar para outras áreas do município. 

A oficina em Calçoene foi marcada por uma participação ativa de agricultores e extrativistas que demonstraram interesse em entender mais sobre os direitos das comunidades tradicionais e os impactos da exploração de petróleo para as comunidades ribeirinhas e quilombolas da região.

📍Amapá

A oficina em Amapá foi, de certa forma, um reflexo da realidade política da região, que tem grande parte de sua representatividade política apoiando a exploração de petróleo. A presença de prefeitos e deputados na oficina, não impediu que alguns comunitários compartilhassem suas dificuldades, como a praga de fungos que afetam as plantações de macaxeira (mandioca) na região. 

Esse problema tem impactado negativamente a produção agrícola local, enquanto a proposta de exploração de petróleo segue ganhando força nas instâncias políticas.

Barco no rio com plantações de açai ao fundo
Tais Terra / Greenpeace Brasil

📍Bailique

Em Bailique, a situação é ainda mais delicada. A comunidade ribeirinha enfrenta sérios problemas com a salinização das águas do rio, que tem prejudicado o cultivo de frutas e verduras e alterado a dinâmica das águas e pescados. A escassez de água potável é um problema crítico, com apenas 1 galão de 20 litros de água por família sendo disponibilizado nos últimos 3 meses. Apesar disso, a comunidade de Bailique se destaca pela força coletiva: todos os dias, às 17h, homens e mulheres se reúnem para jogar futebol, sem separação de gênero nos times, como uma forma de se manterem unidos e ativos. 

Sobre a troca vital que tem com seu território, o professor da escola primária de Baillique, Marcus Cordeiro, ou como ele mesmo se denomina, filho da comunidade, afirma

“Aqui para nós, não é estar no meio do mato, é estar com o mato, com a floresta, com o rio, né? É diferente essa relação. A gente vive essa relação de dependência, de interdependência entre nós e a natureza, aqui é muito forte.”

As oficinas realizadas nas últimas semanas foram um importante espaço de escuta e aprendizado, permitindo que as vozes das comunidades ribeirinhas e quilombolas da Foz do Amazonas fossem ouvidas com atenção.

 Em cada uma delas, o desejo de preservação e defesa dos direitos territoriais ficou evidente. No entanto, também se percebeu a urgência de soluções que garantam a sobrevivência sustentável dessas comunidades e a proteção dos ecossistemas locais.

© Tais Terra / Greenpeace Brasil

A exploração de petróleo na Foz do Amazonas, além de representar uma ameaça ambiental, traz consigo o risco de prejuízos sociais imensos para as populações que ali habitam. 

A luta por um futuro livre do petróleo e pela preservação da biodiversidade continua, e as comunidades da Foz do Amazonas são as grandes protagonistas dessa resistência.

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