Greenpeace doou mais de 50 toneladas de alimentos para famílias atingidas pela seca histórica que castigou a Amazônia em 2023

Em um mês, realizamos seis viagens que levaram mais de 2 mil cestas básicas para famílias do interior da Amazônia © Nilmar Lage / Greenpeace

As graves crises enfrentadas hoje pela humanidade não serão resolvidas por esforços solitários ou por pessoas trabalhando sozinhas. 

Ao contrário: o declínio da biodiversidade, a intensificação da crise climática e a brutal concentração de renda causada pelo capitalismo são questões que só podem ser superadas por meio do esforço coletivo, da construção conjunta e da elaboração de soluções colegiadas, que deem conta de manter a possibilidade da vida humana neste planeta, garantam uma repartição justa de benefícios para todos os seres vivos e permitam a construção de um mundo justo, ecológico, inclusivo e solidário para a humanidade.

Foi com esse espírito que o Greenpeace Brasil, em setembro, resolveu reeditar a iniciativa Asas da Emergência. Se em 2020, quando o projeto surgiu, a ideia era dar assistência para comunidades indígenas afetadas pela Covid-19 e isoladas pela pandemia, agora em 2023 o objetivo foi levar ajuda humanitária para famílias impactadas pela seca histórica que castigou a Amazônia. 

2023 foi um ano histórico para a Amazônia – infelizmente, não por bons motivos

Emergência

Nos últimos meses, surgiram nas redes sociais fotos e vídeos de rios secos, peixes e botos mortos e enormes dunas de areia onde antes havia rios gigantescos. Moradores de Rondônia, Pará, Acre, Amazonas e Roraima reclamaram das dificuldades geradas pelo isolamento imposto pela seca dos rios, da dificuldade de escoar sua produção, dos prejuízos nos roçados, que torraram com o calor, e da falta de água potável. Diversos rios alcançaram suas marcas mínimas. No Amazonas e no Acre, todos os municípios do estado decretaram estado de emergência. Cerca de 600 mil pessoas foram impactadas somente no Amazonas

Inúmeras cidades do norte sofreram com nuvens de fumaça intermitentes, que saíam de incêndios criminosos provocados em fazendas direto para os pulmões de moradores de cidades tão distantes quanto Belém (PA), Santarém (PA), Manaus (AM) e Porto Velho (RO).

O combo altas temperaturas do Atlântico Norte, crise climática causada pela emissão de gases de efeito estufa e um El Niño particularmente severo – assim como a degradação da floresta, vale sempre lembrar – causaram uma situação apocalíptica no norte do Brasil. O fato de que 2023 é o ano mais quente em 125 mil anos, de acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S), da União Europeia, agravou a situação.

O Sul do Amazonas e o Médio Solimões foram algumas das regiões onde a nossa ajuda humanitária chegou © Nilmar Lage / Greenpeace

Parcerias

Para levar algum alívio aos milhares de ribeirinhos que sofreram com a seca, o Greenpeace Brasil, com a ajuda de inúmeros parceiros, realizou a compra de cestas básicas e itens de higiene e realizou a doação desses itens em diversos locais. Foram, no total, 2.649 cestas básicas doadas – 50,4 toneladas de suprimentos – que foram transportadas de avião, barco e caminhão e ajudaram pelo menos 13 mil pessoas que vivem no interior da Amazônia. 

Foram seis viagens em único mês, que contemplaram famílias ribeirinhas e indígenas de Boa Vista (RR), Santarém (PA), e as cidades amazonenses de Manaus, Lábrea, Manicoré e Tefé. A aeronave do Greenpeace voou 8 mil quilômetros pelos céus da Amazônia. De barco, foram 650 quilômetros percorridos, pelos rios Solimões, Tefé e Madeira, em condições péssimas por conta da seca. De estrada, foram 882 quilômetros percorridos, de Manaus até Lábrea e Boa Vista.

Tudo isso só foi possível porque contamos com uma extensa rede de instituições parceiras que atuam nessas localidades, que nos ajudaram a chegar nas famílias que mais necessitavam de ajuda e apoio. A Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp) nos ajudou a chegar nas aldeias da Terra Indígena Catitu, no Sul do Amazonas. Mais de uma tonelada de alimentos foram doados a famílias paraenses por meio do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR). Nossos parceiros da Central das Associações Agroextrativistas do Rio Manicoré (Caarim) ajudaram a distribuir 7 toneladas para as famílias da região. O Conselho Indigenista de Roraima (CIR) fez o meio de campo para a doação de mais 3 toneladas. O Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) comprou parte das cestas que foram doadas

Um ampla rede de parceiros nos ajudou a chegar às famílias que mais precisavam de ajuda © Nilmar Lage / Greenpeace

Aliviar sofrimento

Outra ajuda foi fundamental para que este trabalho pudesse ser realizado: a sua. Centenas de pessoas acessaram a nossa plataforma de doação e contribuíram com este trabalho. Os recursos arrecadados por meio dessa ferramenta foram usados para comprar suprimentos ou financiar o deslocamento das cestas básicas. Como dito antes, só o esforço coletivo e a construção conjunta  dão conta de responder aos problemas que enfrentamos hoje.

Raimundo Nonato Araújo é o vice-presidente da comunidade de São Raimundo do Moquental, que fica a 48 quilômetros da cidade de Tefé: “Essas cestas vêm pra ajudar muito a gente. Eu agradeço todos os envolvidos neste trabalho, e parabenizo pela iniciativa. Na minha casa, uma cesta dessas dura uns quinze dias, alivia nosso sofrimento. Na comunidade, tem família que o homem abandonou a casa. Deixou a mulher sozinha com as crianças. Vocês não têm ideia de como uma cesta dessas ajuda uma família nessas condições”.

O vice-presidente disse que, normalmente, a viagem da comunidade à sede do município é feita em 2h30. Com a seca, esse período passou para praticamente um dia inteiro. “Hoje, essa é a nossa maior dificuldade. A gente vem pra cidade pra vender a nossa produção e comprar o nosso rancho. Mas hoje tá muito difícil. A gente não tem água potável. Se você não traz água pra viagem, você fica o dia inteiro sem beber nada. As crianças passam sede o dia inteiro, debaixo do sol. Que mais pessoas possam se sensibilizar e ajudar a gente. Porque a gente tá realmente precisando”, explicou Nonato.

Cerca de 13 mil pessoas foram beneficiadas pelas cestas doadas com a ajuda de parceiros © Bruno Kelly / Greenpeace

Vítimas da seca

“A situação que vimos no Acre, no Pará e no Amazonas era muito grave. A seca dos rios restringiu o acesso das pessoas a recursos básicos de sobrevivência, como água potável, comida, energia elétrica e atendimento médico. Por isso, entendendo este momento de emergência, o Greenpeace Brasil trabalhou em parceria com organizações da sociedade civil para levar itens de primeira necessidade para as vítimas da seca extrema e prolongada”, disse Rômulo Batista, porta-voz da Campanha Amazônia. 

O Asas da Emergência 2023 também realizou outras atividades, como ações diretas para chamar a atenção para a seca dos rios; viagens com influenciadoras para que elas ajudassem na distribuição de cestas; e apoio à Coalizão Boto – grupo de organizações sediadas em Tefé, e lideradas pelo Instituto Mamirauá, que se ocupou de entender o que estava acontecendo no lago em que mais de 155 botos foram encontrados mortos.

As cestas doadas tinham itens de primeira necessidade para as famílias, como arroz, feijão, macarrão e sal © Nilmar Lage / Greenpeace

Justiça Ambiental

Embora o Asas da Emergência esteja sendo encerrado, o cenário para o futuro não é dos melhores: segundo os cientistas que estudam os fenômenos climáticos, os eventos extremos devem continuar a ocorrer nos próximos anos, com frequência e intensidades ainda maiores. No meio disso, temos populações historicamente vulnerabilizadas – pescadores, ribeirinhos, quilombolas, povos indígenas e comunidades tradicionais – que são as que mais sofrem com esses problemas. Precisamos parar de queimar combustíveis fósseis e realizar uma transição ecológica que estabeleça novos jeitos de nos relacionarmos com a Terra.

“O poder público também tem sua responsabilidade”, diz Rômulo. “É urgente a criação de políticas públicas para a elaboração de estratégias e ações que zelem pela vida das populações”, destaca o porta-voz do Greenpeace Brasil. “Em especial, das populações  vulnerabilizadas, mais expostas aos impactos dos eventos extremos causados pela crise climática. Não tem como enfrentar a crise do clima sem tratar de justiça ambiental”, completa. 

A sua ajuda foi fundamental para que o Asas da Emergência levasse comida para as famílias amazônidas. As grandes crises demandam respostas complexas, que exigem que enfrentemos juntos questões importantíssimas, que vão definir de que modo vamos continuar a viver neste planeta. Seu gesto, ainda que simples, levou alívio para crianças que não tinham o que comer; levou conforto para famílias desassistidas e trouxe algum alento para dias incertos e horas sofridas. Que tal continuar nos ajudando a lutar por um mundo melhor para todos nós?

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