Em meio a tornados, crise hídrica e calor recorde, Greenpeace lança nota técnica com propostas para colocar a adaptação comunitária no centro das decisões

Imagens do impacto e destruição do tornado em Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, em novembro de 2025. © Fabrício Eduardo / Greenpeace

O Brasil tem enfrentado uma série de eventos climáticos críticos que evidenciam a urgência de reduzir emissões e investir em adaptação para se antecipar e proteger vidas.

No último final de semana, um tornado sem precedentes, com ventos de até 330 km/h, arrasou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu , no Paraná, e deixou rastros de destruição em dezenas de municípios. 

Em Belém, que está sediando a COP30, a temperatura média na cidade é 2,6 °C acima da registrada na floresta ao redor (a comparação foi feita com a Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Combu, próxima à cidade). A falta de árvores, somada ao crescimento urbano desordenado e à infraestrutura baseada em concreto, agrava o impacto do calor sobre a saúde e a qualidade de vida de quem vive nas cidades amazônicas. 

E em São Paulo, a capital volta a enfrentar uma grave crise hídrica que escancara o impacto da mudança do ciclo da chuva. 

A ciência vem alertando há décadas sobre as consequências da crise climática, mas pouco foi feito para preparar as cidades, reduzir as desigualdades e cortar as emissões.

É nesse contexto que o Greenpeace Brasil lança a nota técnica Adaptação de base comunitária no centro do objetivo de adaptação, defendendo indicadores que revelem as vulnerabilidades reais das populações mais impactadas, garantam acesso direto a financiamento e fortaleçam soluções lideradas localmente, soluções que já existem e já funcionam em territórios do Sul Global, inclusive no Brasil.

Enquanto os países na COP30 têm a missão definir os 100 indicadores do Objetivo Global de Adaptação, o documento aponta caminhos para que o Brasil assuma a liderança dessa agenda: ampliando recursos não reembolsáveis, reconhecendo saberes comunitários e colocando justiça social e racial no centro das políticas climáticas.

As histórias das comunidades mostram que a adaptação já acontece. Entre os exemplos de histórias vistas de perto estão: 

  • A comunidade de Vila Arraes, em Recife, elaborou um plano comunitário de contingência, adaptação e mitigação dos efeitos das chuvas. Coordenado pelo Espaço GRIS Solidário em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a comunidade estruturou brigadas de resposta com atuação em logística, saúde (mental e preventiva), comunicação e gestão de crises, além de promover formações com a Defesa Civil sobre protocolos de emergência durante enchentes do Rio Capibaribe e riscos de eletrocussão.
  • Localizada na região do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, a Comunidade do Horto criou o Projeto Horto Natureza como uma resposta coletiva às ameaças de enchentes e às pressões históricas de remoção. A iniciativa, concebida e implementada pelos próprios moradores, promove a limpeza e manutenção do Rio dos Macacos, a coleta regular de lixo e o replantio da vegetação ciliar nativa, integrando ações de educação ambiental, hortas comunitárias e compostagem de resíduos orgânicos.
  • Macapá convive historicamente com a falta de saneamento básico, especialmente em comunidades ribeirinhas como a Vila do Carmo do Maruanum, na zona rural de Macapá. Nesse contexto, a instalação da fossa séptica biodigestora na Escola Estadual Professor Raimundo Pereira da Silva, uma iniciativa em parceria com o Coletivo Utopia Negra Amapaense, marca um avanço significativo, oferecendo uma solução simples, segura e feita com materiais acessíveis. A tecnologia fortalece a saúde, o cuidado com o território e a adaptação climática conduzida pela própria comunidade.

A tragédia no Paraná expõe o custo da inação. Não enfrentar as causas do aquecimento global é um erro político, um verdadeiro band-aid climático. Não há adaptação e transição justa sem justiça climática. 

Nas favelas, periferias, baixadas e comunidades tradicionais, as iniciativas de adaptação já acontecem, resultado do conhecimento e da capacidade de organização dos próprios territórios. “O que falta é o reconhecimento político e apoio adequado para transformar essas respostas locais em políticas públicas estruturantes”, afirma Leilane Reis, coordenadora da campanha de Justiça Climática do Greenpeace Brasil.

E complementa: “Por isso, é fundamental que, na COP, os negociadores e demais atores políticos garantam que as decisões sobre adaptação incorporem a dimensão social, territorial e financeira do enfrentamento à crise climática. É preciso garantir que as populações vulnerabilizadas estejam protegidas, participem das decisões e que o financiamento climático chegue, de fato, a quem mais precisa”. 

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação mensal hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!