Em entrevista ao Greenpeace Brasil, pesquisadora fala sobre estudo que identifica aumento de precipitações na região metropolitana do Rio e as consequências para as populações

Transtornos causados por fortes chuvas e ventos no centro do Rio de Janeiro, quando a cidade entrou em Estágio de Atenção, em 30/12/2021. © Tomaz Silva / Agência Brasil

Você se lembra do recente “código vermelho para a humanidade”? O alerta surgiu da reação de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, quando o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou, em agosto de 2021, um relatório sobre o que está acontecendo com o clima no planeta, de quem é a maior responsabilidade pela crise climática e para onde iremos se as medidas necessárias não forem tomadas. 

Infelizmente, esse futuro hostil alertado pela ciência já se tornou realidade e, segundo o IPCC, está provocando eventos extremos cada vez mais intensos e frequentes, como os deslizamentos provocados pelas fortes chuvas em Petrópolis, região metropolitana do Rio de Janeiro, no último dia 15 de fevereiro.

Não há mais tempo para que nossos governantes continuem negligenciando os alertas da ciência e agindo como se nada pudessem fazer para evitar os impactos dos eventos extremos na vida das populações. Qual o orçamento destinado atualmente para a reparação de perdas e danos dos impactados? Ou então para o investimento em infraestrutura de curto e longo prazo que garanta políticas de contenção e prevenção adequadas, de sistemas de drenagem, passando pela conservação das encostas e uma política de habitação justa? 

É dever do poder público decretar Emergência Climática, elaborar e executar planos de adaptação para enfrentar essa realidade – tema esse que, inclusive, é tratado no relatório do IPCC publicado em 28 de fevereiro de 2022. 

Na entrevista a seguir, a pesquisadora Núbia Armond traz a perspectiva da ciência sobre os eventos extremos que vêm impactando diretamente a vida das populações na região metropolitana do Rio de Janeiro. 

Na primeira parte da conversa, Núbia fala sobre um estudo, do qual ela é uma das autoras, que registrou um aumento significativo de chuvas extremas nos últimos anos na região metropolitana do Rio de Janeiro. 

Siga o fio, fique informade e descubra quais os próximos passos dessa pesquisa:

A crise do clima atravessa a realidade alcançando lugares onde as imagens das câmeras de TV e as redes sociais muitas vezes não conseguem estar. É preciso se dedicar à profundidade, ao envolvimento e ao interesse para olhar de fora e entender as consequências mais perversas que podem estar nos porões dessa crise em uma sociedade desigual. 

A variação das condições climáticas produz um efeito (quase) silencioso dentro das casas das pessoas, aumentando a temperatura, potencializando condições de insalubridade e prejudicando a saúde, relata a pesquisadora. E é sobre esse aspecto e seus efeitos que conversamos nessa segunda parte da entrevista.

Ainda que a responsabilidade da execução de medidas que garantam resiliência às populações mais vulnerabilizadas pela crise climática seja das três esferas públicas – federal, estadual e municipal, um Plano de Adaptação Climática precisa conversar com a realidade do território e pensar as soluções de acordo com as dinâmicas locais. 

“Não adianta a gente construir um conjunto de políticas (públicas) na nossa cabeça e ele não ter qualquer aderência à realidade. Cada território vai ter uma dinâmica própria, por mais que a gente tenha um padrão global de aumento da temperatura e de eventos extremos. Cada comunidade, cada grupo social, cada bairro, enfim, cada porção da cidade precisa estar envolvida de alguma maneira nessa dinâmica de adaptação e de mitigação”, alerta Núbia Armond, geógrafa e professora do Depto. de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Ouça a terceira parte da entrevista e entenda.  

Apesar dos alertas da ciência e de sua comprovação em perda de vidas por chuvas intensas, enchentes, deslizamentos, calor extremo e secas, seguimos testemunhando a manutenção de um sistema que privilegia aqueles que olham a natureza e a vida como mercadorias – os maiores poluidores, e expõe ainda mais a condições de vulnerabilidade quem já sofre uma série de violações de direitos. No Brasil, o desmatamento, nossa maior contribuição pelo agravamento da crise climática, continua sendo premiado pela política de destruição do governo Bolsonaro.

“A crise do clima é uma crise de modo de vida por conta da própria estrutura em que a gente está inserida. As pessoas são colocadas em situação de vulnerabilidade por conta da sua impossibilidade de residir em áreas adequadas e, muitas vezes, elas são culpabilizadas de maneira completamente equivocada”, relata Núbia Armond, em referência aos moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro impactados pelos eventos extremos. 


Nessa última parte da conversa, Núbia dá detalhes sobre sua visão a respeito de como nosso modo de vida agrava a violação de direitos e as injustiças sociais já vividas pelas populações mais afetadas, e destaca a importância de potencializar as soluções que surgem do território.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!