Um Brasil mais justo e digno, com comida saudável na mesa de todas as famílias, só é possível com a agroecologia

O fim de 2022 representa também o fim de um ciclo de destruição que se apossou do Brasil nos últimos anos, com a volta do país ao Mapa da Fome, a liberação massiva de venenos e o aumento da violência contra a natureza e seus defensores. Mas a população brasileira não foge à luta e se manteve firme em defesa da vida, denunciando e combatendo as injustiças em todo o país. Relembre com a gente alguns momentos marcantes de 2022! 

A fome também é um problema ambiental

Infelizmente, 2022 foi marcado pelo agravo da fome em todo o Brasil. Enquanto o agronegócio brasileiro bate recordes de safras e exportação, a maior parte da população do país (59%) não tem acesso a uma alimentação adequada, com mais de 33 milhões de pessoas sem ter o que comer. Mas ao invés de combater esse sistema de produção agrícola, o governo Bolsonaro o estimulou ainda mais, privilegiando o lucro de poucos, enquanto prejudicava a população e o meio ambiente. Não o bastante, o ex-presidente e sua base aliada foram na contramão da soberania e da segurança alimentar ao enfraquecer políticas de incentivo à agricultura familiar e agroecológica, que são as verdadeiras responsáveis por garantir comida saudável na mesa das famílias brasileiras – e não o agronegócio. Um exemplo foi o veto de Bolsonaro ao reajuste de 34% na verba do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que assegura uma merenda escolar nutritiva, oriunda expressivamente de pequenos agricultores. Após MUITA pressão popular, no fim do ano passado, o Congresso Nacional conseguiu reverter esse absurdo que arriscava principalmente a alimentação de crianças e jovens.


“Terra: quem jamais te esqueceria?”

Um dos momentos mais bonitos de 2022 foi o Ato Pela Terra, no dia 9 de março, que reuniu milhares de ativistas e centenas de organizações, artistas e lideranças em Brasília contra um conjunto de Projetos de Lei (PLs) anti-socioambientais: o Pacote da Destruição. O então presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), recebeu representantes da mobilização e disse que foi “uma das mais belas manifestações da sociedade civil que o Congresso Nacional já viu” – inclusive, Pacheco se comprometeu com a agenda afirmando que não permitiria que essas propostas fossem pautadas sem a tramitação e o debate devidos, e cumpriu sua palavra. Nesse movimento, a luta contra o projeto que autoriza mais agrotóxicos teve destaque: apesar de gerar problemas e doenças, piorando a crise alimentar, sanitária, ambiental e climática em todo o mundo, o Pacote do Veneno foi bastante defendida pela bancada ruralista, mas a mobilização pública segue firme dizendo NÃO!

Mais casos de câncer por causa da contaminação de agrotóxicos

Além de envenenar nossas comidas e o meio ambiente, os agrotóxicos também podem contaminar a água que bebemos: esses venenos são absorvidos pelo solo, poluindo o lençol freático e, assim, às águas subterrâneas e superficiais. Isso é grave, porque há pouco monitoramento de resíduos nos líquidos. De acordo com um estudo publicado na revista Environment International, cientistas descobriram níveis elevados de 11 agrotóxicos na água que abastece 127 cidades produtoras de grãos no oeste do Paraná, onde vivem 5,5 milhões de pessoas. A pesquisa mostrou que o problema está associado a pelo menos 542 casos de câncer diagnosticados em moradores em um período que vai de 2017 a 2019. Tá bom ou quer mais? Essa é mais uma prova que escancara os riscos desses venenos e a importância de combatê-los: frear o uso de agrotóxicos é defender a vida! 

Agrotóxicos e Ultraprocessados, um caso de amor!

Além de serem perigosos, os agrotóxicos ainda têm uma relação estreita com a insegurança alimentar, pois acentuam a fome e a desnutrição. Por exemplo, venenos e ultraprocessados caminham lado a lado e estão, cada vez mais, presentes na mesa da população. Embalagens bonitas escondem substâncias que fazem mal à saúde: quantidades excessivas de açúcares, sal, gorduras e, até mesmo, agrotóxicos! Em 2022, o IDEC lançou o segundo volume de ‘’Tem Veneno nesse Pacote’, onde mostrou que 14 dos 24 produtos analisados apresentaram agrotóxicos. Em três categorias de produtos de carne – empanado de frango (nuggets), hambúrguer de carne bovina e salsicha –, todas as amostras apresentaram resíduos. Isso porque esses produtos são compostos por alimentos como soja, milho e cana-de-açúcar, ou seja, commodities, as maiores dependentes químicas das lavouras. É isso o que esse modelo de agronegócio produz: alimentos que não são saudáveis e que envenenam as pessoas e o Planeta.

Periferia é lugar de agroecologia

A agroecologia é um poderoso instrumento para curar as mazelas do país, como a fome e a destruição ambiental, principalmente nas regiões mais carentes. Ou seja, a agricultura agroecológica é sinônimo de solução e é capaz de substituir a produção de alimentos atual, assegurando comida saudável e sem veneno para todas as famílias. Sua força está muito presente nas quebradas Brasil afora, comprovando que é sim possível um modelo agrícola que respeite as pessoas e a natureza, basta haver vontade e cada vez mais incentivos públicos e privados. O Prato Verde Sustentável” é a prova viva disso: a organização cultiva uma plantação agroecológica em uma área antes subutilizada, proporcionando alimentos orgânicos, treinamentos e vivências. O projeto socioambiental foi fundado e é liderado por moradores da comunidade do Jardim Filhos da Terra, na periferia da Zona Norte de São Paulo, e produz 16 toneladas de alimentos agroecológicos por ano, dos quais 60% são doados para pessoas em situação de vulnerabilidade da região. Que tal nos espelharmos em mais casos como esse e esquecermos a falácia de que “o agro é pop”?

Graças ao povo brasileiro, o Pacote do Veneno não virou lei!

Só nos últimos quatro anos, foram liberados mais de 2000 agrotóxicos. Mas poderia ter sido pior se a mobilização pública não tivesse conseguido frear o projeto de lei que libera ainda mais veneno no Brasil, até substâncias cancerígenas e proibidas em vários países: o PL 1459/2022, conhecido como Pacote do Veneno. Mesmo com os atropelos da bancada ruralista e após muitos protestos da sociedade civil e científica, conseguimos virar o ano sem que esse pesadelo virasse realidade. Porém, em dezembro, às vésperas do fim de ano, a Comissão de Agricultura (CRA) do Senado, de maioria ruralista, conseguiu avançar com o Pacote do Veneno, que agora pode ser aprovado a qualquer momento, a partir do dia 1 de fevereiro de 2023, na volta do Congresso Nacional. Por isso, devemos seguir unidos dizendo #NãoAoPacotedoVeneno em defesa da saúde pública, da soberania alimentar e da proteção ambiental.

Para que 2023 seja marcado por dias melhores, precisamos aprender com a história e a ciência, evitando os erros antigos e apostando nas soluções que coloquem o bem-estar da população no centro das preocupações. 

Que esse novo ano inaugure uma nova era para o Brasil, marcada pela retomada da esperança e pela reconstrução do país, com dignidade, renda e comida no prato para todas as famílias. Para isso, precisamos cada vez mais de políticas socioambientais e de incentivos à agricultura familiar e agroecológica. Contamos com você nessa luta!

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