Entre as empresas beneficiadas, estão gigantes globais da pecuária e da soja com histórico de envolvimento com a destruição da Amazônia e do Cerrado 

Ativistas do Greenpeace Espanha realizaram uma ação durante a reunião de acionistas do Santander em Madri, na Espanha, para alertar o mundo sobre os investimentos do banco em atividades que destroem a natureza no Brasil e em outros ecossistemas. (©Pedro Armestre/Greenpeace)

Um estudo que acaba de ser publicado pelo Greenpeace International, em conjunto com as organizações Milieudefensie (Amigos da Terra Holanda), Harvest e apoiada por 17 ONGs, baseado em dados compilados pela organização de pesquisa independente Profundo, mostra que alguns dos maiores bancos sediados na União Europeia (UE) seguem injetando dinheiro em empresas que colocam em risco florestas tropicais, savanas e outros ecossistemas naturais críticos para o clima.

A Europa é hoje o segundo maior investidor em setores de risco para ecossistemas naturais do mundo (atrás apenas dos Estados Unidos). Juntos, os bancos europeus BNP Paribas, Santander,  Deutsche Bank,  ING Group e  Rabobank, forneceram 22,1% do crédito global total entre 2016 e o ​​início de 2023 a setores que representam risco para a sociobiodiversidade, como a produção de soja, carne e óleo de palma. 

A grande maioria (86,6%) deste crédito saiu de bancos sediados na França, Holanda, Alemanha e Espanha. Os bancos, fundos de pensões e gestores de ativos sediados na UE também fornecem 9,4% dos atuais investimentos globais aos setores de risco à natureza. Entre as empresas que se beneficiaram do financiamento de bancos da UE no Brasil estão a gigante da pecuária JBS e a empresa norte-americana de produtos alimentares Cargill.

A JBS é uma antiga conhecida do Greenpeace Brasil, por seu histórico de envolvimento com o  desmatamento da Amazônia, recorrente quebra de acordos públicos e promessas, e repetição de erros.  

“A Europa afirma ter grande consideração pela proteção do clima e da natureza, mas finge não ver quando seus bancos injetam dinheiro em empresas ligadas à destruição massiva da natureza e às violações dos direitos humanos relacionadas. Existe um padrão claro, as ligações do setor financeiro da UE com a destruição dos ecossistemas naturais são generalizadas”, afirma Sigrid Deters, ativista do Greenpeace Holanda. “Não podemos combater a crise climática e o colapso ecológico e, ao mesmo tempo, financiar a extinção.”

UE deve enfrentar o impacto de seu setor financeiro na natureza em todo o mundo

Para observadores do Greenpeace na Europa, a nova lei Anti-desmatamento da Europa (EUDR), apesar de avançada, ainda tropeça em alguns pontos, e um deles diz respeito à não existência de restrições para investimentos em atividades com risco socioambiental. 

Enquanto a lei proíbe a entrada de produtos como soja, óleo de palma, madeira e carne quando estes estão associados ao desmatamento, a legislação não traz exigências para o setor financeiro quanto ao financiamento de setores e atividades que estão frequentemente atreladas ao desmatamento. Na prática, não pode comprar o produto, mas pode lucrar em cima da destruição. 

Mas isso pode mudar. Será realizada em breve uma revisão específica da lei, dando à Comissão Europeia uma oportunidade de ouro para apresentar uma proposta legislativa para fechar essa brecha e finalmente endereçar o impacto do setor financeiro da UE na natureza em todo o mundo. 

Em todos os países, diferentes povos, todos já estamos enfrentando condições climáticas extremas. Novos recordes de calor ocorrem regularmente, assim como secas e inundações que prejudicam a vida. Para reverter esta situação é preciso elevar a ambição de todos os atores envolvidos no problema, assim, é incompreensível excluir o setor financeiro das regulamentações ambientais como a da EUDR e deixar os bancos continuarem fazendo “negócios como sempre”, pois o “como sempre” não existe mais.

Extinction Rebellion e ativistas do Greenpeace Holanda fizeram uma manifestação pacífica em frente à sede do Rabobank, para exigir que o banco pare de investir em projetos de agricultura industrial que levem ao sofrimento animal, ao desmatamento e à perda de habitat e extinção de espécies. (© Marten  van Dijl / Greenpeace)

Para limitarmos o aquecimento do planeta a  1,5°C e determos a crise climática e a perda da biodiversidade, precisamos impedir que empresas sigam lucrando com a destruição do nosso futuro. Para isso, precisamos exigir que bancos, governos e os conglomerados internacionais parem de colocar dinheiro em nossa própria extinção. 

“Pontos críticos para a biodiversidade, e que são vitais para a estabilidade climática, como as florestas tropicais da Amazônia, do Sudeste Asiático e da Bacia do Congo, ou as florestas Boreais do Norte, estão desaparecendo a um ritmo alarmante. A UE precisa urgentemente regular o seu setor financeiro, impedindo o fluxo de dinheiro para a destruição da natureza”, disse Jonas Hulsens, da organização Milieudefensie (Amigos da Terra Holanda).

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