Apesar dos estragos do ciclone que atingiu o Sul do Brasil e da ameaça da nuvem de gafanhotos, os vilões somos nós, que desequilibramos o ecossistema e provocamos esses fenômenos

Ciclone bomba no Sul do Brasil. (Foto: Reuters)

Apesar da pandemia de Covid-19 não parecer dar trégua, outro problema atinge os noticiários e ameaça a vida e a segurança dos brasileiros: a doença crônica e não passageira da crise do clima. 

Nuvens de gafanhoto ameaçam as lavouras no sul do Brasil e, na última semana, um ciclone causou mortes em Santa Catarina. Os vilões não são nem o gafanhoto e nem o ciclone, mas a ação da humanidade, que desequilibra o ecossistema e faz com que esses eventos se tornem mais frequentes e imprevisíveis.

Desde a década de 1940, o Brasil não se preocupava com nuvens de gafanhotos. Os bichinhos se transformam em bandos de milhões que comem lavouras quando há um desequilíbrio ecológico, onde não há predadores para a sua espécie, aliado a um clima seco estendido. Foi o que ocorreu no centro-sul da América do Sul. A falta de florestas, causada pelo desmatamento, contribui para que a nuvem de gafanhotos tivesse maior capacidade para crescer e se locomover entre uma lavoura e outra. Houve até a tentativa de conter os animais com pesticidas, o que acaba matando importantes insetos polinizadores, como as abelhas e causando ainda mais desequilíbrio biológico. E isso afeta safras futuras na região. 

O homem tenta conter a praga com o veneno que contribuiu para o  problema. 

Ironicamente, o que conteve a nuvem de gafanhotos, após ter feito bastante estrago em outros países, como a Argentina e  Paraguai, foi a baixa temperatura advinda de um ciclone extratropical, que atingiu principalmente o estado de Santa Catarina. O aumento da temperatura do oceano causou uma zona de alta pressão, que se transformou no que estudiosos chamam de “ciclone bomba”. O evento climático se formou no continente associado a um choque entre temperatura quente e fria, o que o fez ter maior intensidade. 

Apesar de esse fenômeno isoladamente não poder ser associado à crise do clima, cientistas já alertaram para o fato de que os fenômenos possam se tornar mais frequentes e violentos pelo aumento da temperatura do mar e do nível dos oceanos. O primeiro ciclone causou 13 mortos e ainda aguarda recursos federais; o segundo ciclone, de 8 de julho, causou até a data deste blog, a morte de uma pessoa no Rio Grandes do Sul e alagamentos em diversas regiões do estado, fazendo com que 300 pessoas tenham que deixar suas casa.

Esses fenômenos são naturais e existem desde os tempos bíblicos. O problema é a intensidade e frequência com que acontecem e a falta de planos não apenas de mitigação, mas também de adaptação para que a produção de alimentos não seja ameaçada, e para que vidas não sejam perdidas. A pandemia mostra uma crise passageira de aspectos mundiais, enquanto que a crise do clima se instaura como algo permanente, que precisa ser revertido para que a humanidade sobreviva com dignidade. 

Todas elas tem uma coisa em comum: atingem mais drasticamente a parte mais vulnerável da sociedade. E a questão crucial torna-se não apenas a de resolver o aumento de emissões de gases de efeito estufa de cada país, mas sim de mudança do sistema de produção e da equidade na distribuição de renda.

A pandemia mostrou quão diferente é a realidade de cada um frente à doença, uma decisão de vida e morte, assim também são os eventos extremos decorrentes da crise do clima. E nada disso deve ser normalizado, mas tratado como algo que deve ser revertido e contido de uma vez por todas. Uma questão de sobrevivência conjunta.

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