Já são 353 novos agrotóxicos em 2019. Na última década, ritmo de liberação de veneno nunca esteve tão acelerado

Como se não bastassem os ataques à Amazônia e o desrespeito aos seus povos, o governo Bolsonaro segue liberando mais agrotóxicos e envenenando a população brasileira. Nesta terça-feira (17/09), foram autorizados mais 63 agrotóxicos, totalizando 353 apenas em 2019. Na última década, o ritmo de liberação de veneno nunca esteve tão acelerado. 

Dos produtos liberados hoje, 38% estão nos mais altos níveis de toxicidade à saúde humana (extremamente ou altamente tóxicos). Um deles, o Dinotefurano, é um ingrediente ativo novo no Brasil, que não é aprovado na União Europeia. O conjunto das aprovações continua indo na contramão dos argumentos usados pela Ministra da Agricultura Tereza Cristina e pela bancada ruralista, de que um maior ritmo de aprovações resultaria no registro de moléculas menos tóxicas e mais modernas. 

Entre as novas liberações também está o Dibrometo de diquate, banido na Europa em 2018 por oferecer riscos aos trabalhadores rurais e aos pássaros. Enquanto na Europa muitos desses venenos são proibidos para proteger a população, no Brasil eles seguem recebendo sinal verde do governo.

No ano passado, a sociedade se colocou contra o Pacote do Veneno e a favor da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA). Agora, estamos vendo o Pacote do Veneno ser empurrado em forma de pílulas aos brasileiros pelo Poder Executivo.

Debate para quê?

O governo e seus parlamentares aliados seguem surdos e mergulhados em sua agenda de destruição, mas a sociedade continua dizendo em alto e bom som que não quer mais veneno em sua comida. A nova liberação acontece um dia após representantes da sociedade civil se reunirem em Comissão Geral na Câmara dos Deputados para discutir a utilização de agrotóxicos. Especialistas criticaram a possível aprovação do Pacote do Veneno e sua aplicação em “doses homeopáticas” pelo governo. 

“De que adianta promover um debate, em que foi defendida a importância de uma transição de nossa agricultura para um modelo que não nos envenene se, menos de 24 horas depois, o governo libera autoritariamente mais substâncias tóxicas ao meio ambiente e à nossa saúde?”, questiona Marina Lacôrte, coordenadora da campanha de Agricultura e Alimentação do Greenpeace. “Não há nada de moderno e melhor nas novas aprovações, mais uma vez boa parte são moléculas velhas e tóxicas. Esse é o governo do veneno, dando as costas para a sociedade”, diz. 

Confira a fala de Marina Lacôrte na Comissão Geral na íntegra:

A chef Bela Gil também participou da audiência, questionando os R$ 2 bilhões de isenções fiscais concedidas ao agronegócio no momento em que se fala em contenção de gastos públicos. E completou: “O que a gente está pedindo aqui não é por um milagre da noite pro dia! Não estamos dizendo que a agricultura convencional tem que acabar agora, parar tudo e começar do zero. Só estamos pedindo por uma política séria capaz de organizar essa transição e estimular sistemas sustentáveis de verdade. Eles já existem”. 

Larissa Bombardi, Professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo e autora de um atlas sobre o uso de agrotóxicos no Brasil, chamou a atenção para a contaminação que acontece no campo, mesmo daqueles que não manipulam veneno diretamente, como crianças e adolescentes. “Tivemos no Brasil, entre 2007 e 2014, 343 bebês intoxicados com agrotóxicos de uso agrícola. De zero a 12 meses, que não se locomovem sozinhos. Isso para mim é um atentado à infância e à saúde pública”, ela alerta. 

Segurando seu bebê no colo, Sofia Carvalho, da Associação de Produtoras e Produtores Agroflorestais, fez um discurso emocionante, destacando a resiliência dos sistemas agroflorestais: “Não é tão simples estar aqui neste momento. Não pela maternidade, mas porque a gente passou a noite combatendo fogo de frente pra nossa roça. O fogo parou justamente na fronteira com a entrada para a nossa roça, que se dá em sistemas agroflorestais”, ela disse. “A gente ouviu aqui que há um desafio tremendo em ter produtividade com agricultura dado o fato de que o Brasil é um país tropical. Mas nós da Associação de Produtores e Produtoras Agroflorestais encontramos nisso muito mais uma oportunidade do que um problema”. 

Ajude a pressionar por uma agricultura sem veneno. Assine o abaixo-assinado #ChegaDeAgrotóxicos: https://act.gp/2lTyDfO 

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!