Depois de sermos a única ONG a ter um acampamento-base no continente de gelo por cinco anos, voltamos ao sul do planeta para uma nova aventura em sua defesa

A relação do Greenpeace com a Antártida é antiga. Poucos ainda se lembrarão que chegamos a montar um acampamento-base por lá. Isso foi há 30 anos, em 1987, quando realizamos a mais ambiciosa campanha da organização para criar um “Parque Mundial Antártico” e manter o continente fora das operações militares e das atividades petrolíferas. E tivemos sucesso!

Acampamento-base no inverno (Foto: © Markus Riederer / Greenpeace)

Quando o Tratado da Antártida foi assinado, em 1959, teve como objetivo garantir apenas atividades pacíficas no continente e suspender reivindicações territoriais até 1991. Depois, o acordo foi renovado por mais 50 anos, ou seja, até 2041 ninguém pode se apropriar da Antártida. O Tratado abrange todas as terras e lençóis de gelo ao sul de 60° S de latitude.

No entanto, o Tratado não foi forte o suficiente para manter a região protegida das perfurações de petróleo e gás e outras explorações minerais. É aí que o Greenpeace entra na história. Em 1985, lançamos uma ampla campanha global para transformar o continente em um grande parque natural mundial, o World Park Antártida, e ser regido sob regras parecidas com as adotadas em parques nacionais.

Usando uma combinação de ações diretas, pesquisas científicas sólidas e pressão política, estabelecemos nossa própria base científica na Antártida em 1987.

Operação de reabastecimento do acampamento base. (Foto: © Greenpeace / Steve Morgan)

Base do Parque Mundial

A tarefa era assustadora. Nenhuma outra ONG estabeleceu uma base na Antártida e havia muitos obstáculos tanto práticos como políticos a serem superados. Na época, todos os países que já tinham bases na região eram unânimes na hostilidade em ter o Greenpeace como vizinho.

Após meses de preparação, as piores condições meteorológicas em 30 anos impediram que nosso navio de abastecimento chegasse ao continente. Esta é uma região que pode apresentar ventos de 450 km/h e temperaturas de 50 graus negativos. O fracasso provocou um intenso debate interno sobre continuar a campanha ou não. Mas em 1986 outra tentativa foi montada.

O navio quebra-gelo Gondwana foi o responsável pelo reabastecimento da base. (Foto: © Greenpeace / Steve Morgan)

Mais uma vez, o navio partiu da Nova Zelândia levando uma base pré-fabricada e suprimentos. Desta vez, ele foi capaz de atracar apenas 200 metros da costa da Ilha de Ross, o local escolhido para a base permanente da organização no gelo. A construção começou no verão de janeiro de 1987 e o “World Park Base” começou a operar apenas três semanas depois.

A base tinha quartos de dormir individuais, uma sala de estar comum, banheiro com chuveiro, um laboratório, equipamentos de comunicação e uma estufa hidropônica para cultivar vegetais. Um dos objetivos da campanha era fazer do “World Park Base” um modelo de boas práticas ecológicas na região, então todos os esforços foram feitos para garantir que ele atingisse os altos padrões necessários para diminuir o impacto dos seres humanos nesse ecossistema delicado. Ao longo dos anos, sua estrutura foi aperfeiçoada, passando a contar com geração de energia eólica, um melhor sistema de comunicação por satélite e um antigo navio quebra-gelo foi comprado, o “Gondwana”, usado para reabastecer suprimentos.

A base era ocupada permanentemente por quatro voluntários: um mecânico, um operador de rádio, um cientista e um médico (Foto: © Mike Midgley / Greenpeace)

O Greenpeace manteve sua base permanente na Antártida por cinco anos – de 1987 a 1991. Neste período, visitamos bases na região para monitorar se o impacto ambiental das instalações seguiam os regulamentos do Tratado Antártico. Muitos escândalos vieram à luz, forçando os países a se adequarem.

Análise de esgoto: as tarefas dos voluntários incluíam a monitoração da poluição das bases vizinhas, como a italiana Terra Nova. (Foto: © Greenpeace / James Perez)

Na temporada 1987/88, o Greenpeace fez manchetes ao redor do mundo quando 15 ativistas bloquearam o local de construção de uma pista de pouso francesa em Dumont D’Urville. O trabalho de construção foi controverso porque envolveu dinamitar uma área de ninhos dos pinguins. No dia do protesto, os trabalhadores da construção francesa reagiram com raiva a uma manifestação do Greenpeace e expulsaram os ativistas que, sem se intimidar, voltaram a ocupar a pista por um segundo dia. O governo francês abandonou os planos de construir a pista de pouso.

Bloqueio dos ativistas contra a construção de pista de pouso na base francesa Dumont D’Urville (Foto: Steve Morgan / Greenpeace)

Nos sete anos da campanha, o Greenpeace passou de um estranho desprezado para um jogador respeitado nas negociações para o futuro do continente.

Gradualmente, mais e mais dos signatários do Tratado foram persuadidos dos méritos de fazer da Antártica um Parque Mundial. Em 4 de outubro de 1991, os membros do Tratado Antártico concordaram em adotar um novo Protocolo Ambiental, incluindo uma proibição mínima de 50 anos sobre toda exploração mineral. O continente antártico havia sido salvo de uma ameaça mortífera na Antártida.

Com o sucesso da campanha, a base do Greenpeace foi fechada e removida sem deixar rastros. (Foto: © Greenpeace / Timothy A. Baker)

De volta à Antártida

Agora, após várias visitas na região para confrontar navios baleeiros, retornamos aos mares gelados do sul do planeta em uma nova expedição para documentar as ameaças porque passa a região. Embora o continente esteja relativamente protegido, o mesmo não acontece com o oceano ao seu redor. Além do aquecimento global, a expansão da pesca industrial exerce uma forte pressão na região, colocando em risco espécies como pinguins, baleias e focas que precisam competir com os barcos por alimento.

Mas temos uma grande oportunidade de criar a maior área protegida da Terra: um santuário no oceano antártico com 1,8 milhão de km2. A votação da proposta acontecerá em outubro, e por isso temos menos de um ano para exercer pressão e sermos ouvidos pelos membros da Comissão da Conservação da Antártida.

Assim como no passado, em que gente do mundo todo apoiou essa grande aventura de estabelecer um acampamento no fim do mundo, precisamos novamente de pessoas como você nesta nova expedição.

Assine e compartilhe a petição pela criação do santuário e se torne um doador do Greenpeace, fazendo parte deste grande time em prol da Antártida.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!