Impactos desiguais e como comunidades vulnerabilizadas se organizam para resistir aos eventos extremos e cobrar mudanças são temas de dois episódios

Como podemos transformar um mundo que serve à economia em uma economia que serve às pessoas e ao planeta? Essa é a questão central que conduz os episódios do podcast do Greenpeace Internacional, SystemShift – em português, Mudança de Sistema.
A crise climática não afeta a todos da mesma forma. Grupos historicamente marginalizados enfrentam os impactos mais severos das mudanças climáticas. Ou seja, aqueles que menos contribuíram para essa crise são os mais atingidos, enquanto os maiores responsáveis sofrem menos consequências e têm mais recursos para se proteger e também se recuperar.
A desigualdade nos impactos e a força dos movimentos que nascem da união popular foram temas de dois episódios do podcast, que contaram com a participação dos jovens ativistas brasileiros Amanda Costa e Mateus Fernandes, moradores de territórios periféricos da cidade de São Paulo.
“No Brasil, as comunidades mais vulneráveis, como as favelas, são as que menos poluem. Mas são elas que pagam o preço, literalmente, com suas vidas”, destaca Mateus Fernandes.
Diante do abandono histórico por parte do poder público, essas comunidades muitas vezes precisam agir por conta própria para promover mudanças reais e garantir sua sobrevivência. Hoje, em algumas regiões, essa mobilização também se articula para cobrar das autoridades medidas concretas para prevenir tragédias climáticas, adaptar as cidades e proteger as populações mais vulneráveis – assegurando, ainda, que seus conhecimentos sobre o território sejam reconhecidos e incorporados na construção de políticas públicas.
Não há outra opção senão agir
“Não é justo que a gente pague uma conta que não é nossa”
No episódio Adaptação Climática: A cor da sua pele torna você mais vulnerável às mudanças climáticas (legendado em português), Mateus Fernandes, ativista climático, comunicador e cria de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, conta sobre a experiência do bairro onde vive, onde o abandono do poder público não deu outra alternativa aos moradores a não ser se unir e implementar suas próprias ferramentas para garantir a defesa da vida frente às consequências dos eventos extremos. Sem deixar de lado a cobrança do poder público.
“Um exemplo prático que estamos realizando na comunidade é o mapeamento de risco”, conta Mateus. “Com o verão e as chuvas chegando, formamos grupos para identificar áreas vulneráveis a enchentes e deslizamentos. Isso nos ajuda a elaborar um plano de evacuação e buscar rotas seguras para abrigos em caso de emergência. Informação salva vidas.”
Com o avanço das mudanças climáticas e o aprofundamento das desigualdades, mais da metade das pessoas que vivem nas cidades se sentem inseguras diante de eventos climáticos extremos, segundo pesquisa do Greenpeace Brasil, com dados coletados em todo o território nacional pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), em 2023.
O que precisa ser feito?
Além de prevenir tragédias climáticas, as cidades precisam ser adaptadas. E, à medida que a mudança climática se intensifica, a participação ativa das comunidades marginalizadas na construção de políticas de adaptação climática torna-se ainda mais essencial. Por isso, a mobilização social também é fundamental para cobrar das autoridades soluções concretas construídas e implementadas junto com quem é mais impactado.
De acordo com dados do Censo Demográfico de 2022 , nas favelas brasileiras, 73% da população é negra, e é importante falar não só sobre o fato de serem essas as pessoas mais impactadas, como ressaltar seus territórios como espaços de resistência e inovação.
Líderes comunitários e coletivos de diferentes regiões do país já estão liderando processos de adaptação climática.
No episódio Você já se sentiu sozinho ou sem esperança? Experimente as Comunidades Urbanas (também legendado em português), que contou com a participação de Amanda Costa, ativista climática, fundadora do Instituto Perifa Sustentável e moradora do bairro da Brasilândia, zona norte de São Paulo, a ativista explica como essas ações protagonizadas por comunidades urbanas estão diretamente ligadas à luta climática. Segundo ela, unir-se a pessoas que compartilham valores e objetivos comuns pode ser um caminho para superar a desesperança. Só que para isso, é preciso conectar a questão climática com o cotidiano das pessoas.
“Eu tive o mínimo de condições para investir na minha educação, o que é uma realidade à parte da maioria onde vivo. E eu percebi que precisava criar pontes entre a questão climática e o que a minha comunidade estava vivendo. Então comecei a conversar com meus vizinhos para fazer essas conexões. Percebi que falávamos sobre a mesma coisa, só que usando palavras diferentes”, relata Amanda Costa.
Por meio da organização coletiva, moradores defendem seu direito básico de permanecer e prosperar. Assim, constroem redes de solidariedade que permitem compartilhar conhecimento, recursos e apoio mútuo.
Isso não significa romantizar a desigualdade, mas sim reconhecer a força e a experiência vivida por milhões de pessoas que transformam seus territórios juntas.
Se 60% da população mundial viverá em cidades até 2030, segundo a ONU, não podemos deixar de destacar que com o avanço da crise climática, o agravamento da desigualdade tende a crescer. Cabe aos governos ouvir as pessoas mais impactadas e trabalhar em conjunto, implementando políticas públicas eficazes.
As cidades como problema e como solução
A história mostra que as cidades são o berço de grandes movimentos sociais, que começam a partir da união das pessoas, criando desde hortas comunitárias e espaços públicos compartilhados até grandes mobilizações por direitos, como os protestos por igualdade de gênero e a resistência de comunidades periféricas a eventos climáticos extremos.
E essa união tem um poder transformador: cria um senso de propósito, fortalece redes de apoio e impulsiona mudanças reais.
O que você pode fazer para apoiar este movimento por justiça climática?
Aqui estão algumas ações concretas para se engajar na luta por justiça climática e social:
- Ouça os episódios do podcast SystemShift que inspiraram esta publicação!
- Adaptação Climática: A cor da sua pele torna você mais vulnerável às mudanças climáticas, com Mateus Fernandes
- Você já se sentiu sozinho ou sem esperança? Experimente as Comunidades Urbanas, com Amanda Costa.
- Assine a petição do Greenpeace Brasil para exigir que os governos tomem medidas decisivas de adaptação climática.
- Conecte-se com iniciativas locais – pesquise grupos sociais ou ambientais na sua comunidade.
- Participe de eventos comunitários ou voluntarie-se em uma organização de sua escolha.
- Engaje-se em atividades coletivas – protestos, audiências públicas e outras mobilizações locais.
- Junte-se a espaços de diálogo, como os Climate Cafés, promovidos por organizações como a Climate Psychology Alliance e a Climate Mental Health Network.
Se nenhuma dessas opções parecer viável para você agora, tente construir sua própria rede comunitária no seu ritmo. Pequenos passos também fazem a diferença.
Juntos, podemos construir cidades mais justas, resilientes e preparadas para enfrentar os desafios climáticos.
Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!