Lideranças fizeram manifestação em Brasília (DF) cobrando punição a criminosos

Os povos Guarani e Kaiowá, Guajajara e Pataxó estão entre as populações mais ameaçadas do Brasil hoje. Foto: Tiago Miotto/CIMI

Uma delegação de lideranças indígenas realizou nesta quinta (15) em Brasília (DF) uma mobilização contra o aumento da violência que vem vitimando os povos indígenas do Brasil nas últimas semanas. Recentemente, num período de dez dias, seis pessoas foram assassinadas e uma cometeu suicídio em meio a contextos de violência e conflitos fundiários, numa escalada sem precedentes do terror vivido pelos povos originários no interior do país. 

A situação é crítica no Maranhão, no Mato Grosso do Sul e na Bahia, onde os Guarani e Kaiowá, os Guajajara e os Pataxó têm perdido lideranças e vivenciado graves episódios de violência. Dois jovens indígenas, de 16 e 14 anos, também foram feridos por armas de fogo na Bahia e no Maranhão e também são vítimas nessa recente onda de ataques sobre os povos originários. 

Nas últimas semanas, relatos de ataques de milícias e pistoleiros a aldeias e áreas de retomada têm sido mais e mais frequentes, assim como vídeos e imagens de crianças e mulheres buscando se refugiar em áreas de floresta para escapar das investidas violentas de fazendeiros. 

A mobilização realizada esta semana contou com uma marcha e uma entrevista coletiva, em que as lideranças chamaram a atenção da imprensa para esses episódios.

“Era pras nossas crianças estarem enterrando os velhos, mas o que está acontecendo é justamente o contrário”, disse Pjchre (lê-se “Pikré”) Akroá Gamella, do Maranhão. “Estão assassinando nossos jovens. Chega de derramar sangue! Queremos que a justiça seja feita! Estamos aqui pedindo socorro e nos lamentando. O estado brasileiro não está contribuindo com a demarcação dos territórios. A polícia do meu estado está matando o nosso povo”.

Relembre algumas das vítimas da recente onda de violência:

No Maranhão, Janildo Guajajara foi morto com um tiro pelas costas no dia 4 de setembro, um domingo. Ele era morador da Terra Indígena Arariboia.

Também no Maranhão, Jael Carlos Miranda Guajajara foi atropelado neste mesmo 4 de setembro, num crime atribuído a disputas por território;

No domingo seguinte, 11 de setembro, Antonio Cafeteiro Guajajara foi morto com seis tiros em Arame (MA). Ele morava na Terra Indígena Arariboia;

No sul da Bahia, o Pataxó Gustavo Silva da Conceição, de 14 anos, levou um tiro na nuca também no domingo 4. Ele foi morto após uma invasão de um grupo de pistoleiros na Terra Indígena Comexatibá;

Na última terça-feira (13), a liderança Guarani e Kaiowá Vitorino Sanches, 60, foi assassinado por pistoleiros em Amambai, no Mato Grosso do Sul, um mês depois de ter sobrevivido a outro atentado.

O cacique Suruí Pataxó Braz comanda uma delegação de 15 indígenas que está hoje em Brasília reivindicando direitos: “A situação é que há pistoleiros e fazendeiros matando nosso povo. Estão atacando nosso território diariamente. A Aldeia Nova, no território Barra Velha, tá sendo atacada. Não queremos mais derramamento de sangue indígena. Não queremos ver nosso povo morrendo nas mãos de grileiros. Pedimos justiça. Em nome do povo Pataxó, em nome dos povos indígenas, em nome das lideranças assassinadas. Que país é esse que queremos construir sem justiça? Nós não estamos fazendo nada. Quem está atirando e matando são eles”. 

A marcha e a entrevista coletiva fazem parte de um movimento mais amplo que tem ocorrido durante toda essa semana, em que diversas lideranças cumprem agendas em Brasília, denunciando o aumento da violência e cobrando providências das autoridades

As lideranças também cobraram punição dos criminosos e proteção, assim como a demarcação de seus territórios e a retomada do julgamento do Marco Temporal. Participam desta iniciativa representantes dos povos Apãnjekra Canela, Memortumré Canela, Akroá Gamella, Tremembé do Engenho e Kari’u Kariri, do Maranhão; Macuxi, de Roraima; Pataxó, da Bahia; e Xakriabá, de Minas Gerais.

Grileiros, fazendeiros e milícias vêm atacando diariamente aldeias e comunidades em estados como Maranhão, Mato Grosso do Sul e Bahia. Foto: Tiago Miotto/CIMI

Aumento de violência

Mês passado o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) lançou a mais recente edição de seu relatório “Violência contra os Povos Indígenas no Brasil”. Os dados, referentes a 2021, mostraram que houve aumento em 15 dos 19 tipos de violência mapeados pelos técnicos da instituição. Foram 176 assassinatos de indígenas em 2021. Entre 2015 e 2019, a média era de 123 indígenas assassinados por ano.

As invasões de territórios indígenas somaram 305 casos – quase três vezes o que foi verificado em 2018. Este é o sexto ano consecutivo de aumento deste tipo de violência. Ano passado, 226 Terras Indígenas, em 22 estados diferentes, registraram invasões e exploração ilegal. 

Quer ajudar na mobilização pelos direitos indígenas? Participe do nosso abaixo-assinado:

As lideranças pedem proteção, apuração dos crimes e a demarcação de seus territórios. Foto: Tiago Miotto/CIMI

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!