Senado atropla a democracia e aprova a PEC do Marco Temporal na mesma semana que STF analisa a Lei do Genocídio Indígena

Grupos de pessoas indígenas de diferentes idades e etnias reunidas em Brasília para acompanhar o retorno do julgamento do Marco Temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Povo Xukuru protesta em Brasília (DF) pelos direitos dos povos indígenas e dermacação de territórios

O que aconteceu nesta semana foi um dos maiores desrespeitos à democracia. Mais uma vez, a bancada ruralista ignorou os interesses comuns da sociedade para avançar com seus próprios projetos no Congresso Nacional.

Na terça-feira (10/12), foi aprovada no Senado, com 52 votos, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 48), forçando a inclusão do Marco Temporal na Constituição Federal. Apesar do Marco Temporal já ter sido declarado inconstitucional no Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso não aceita e tenta, de todas as formas, mudar a nossa Carta Magna e pior, atropelando ritos democráticos.

Em nota, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) descreveu a PEC 48 como “uma tentativa de queda de braço com o Supremo”. Isso porque o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil/AP), pulou etapas da tramitação e marcou às pressas a votação da PEC 48 para um dia antes do julgamento no STF da Lei 14.701/2023, conhecida como Lei do Genocídio Indígena. Ou seja, não foi coincidência, foi pressão política contra os direitos indígenas. 

 “Quando achamos que a Constituição seria plena para nós, povos indígenas, ela continuou sendo quase”, resume Ricardo Terena, coordenador do Departamento Jurídico da Apib. “É por isso que reafirmamos que território não é bem, não é mercadoria, mas a própria condição da nossa existência, enquanto o Estado insiste em transformar nossos direitos originários em disputa política”.  

Grupos de pessoas indígenas de diferentes idades e etnias reunidas em Brasília para acompanhar o retorno do julgamento do Marco Temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Lideranças indígenas acompanhando julgamento no Supremo Tribunal Federal

Antidemocracia e oneração de cofres públicos

Não é de hoje que parlamentares ruralistas atacam direitos dos povos indígenas para poder lucrar e explorar economicamente seus territórios, mesmo que isso signifique fragilizar processos democráticos. “A votação da PEC 48 reflete o modo de operar antidemocrático do Congresso”, explica Gabriela Nepomuceno, especialista em políticas públicas do Greenpeace Brasil

“Os povos indígenas não puderam acompanhar a votação da PEC 48, o relatório foi apresentado com a sessão já em andamento, a votação foi acelerada e, ainda, inseriram um novo artigo que obriga o governo a indenizar o proprietário em caso de desapropriação. Ou seja, não bastava o absurdo da tese do Marco Temporal, incluíram na PEC 48 uma espécie de legalização da grilagem momentos antes da votação. É a prova de que estão dispostos a tudo, inclusive onerar os cofres públicos para garantir os privilégios de quem invadiu terra pública”, detalha Nepomuceno. 

Inconstitucionalidade da Lei do Genocídio Indígena no STF

Já na quarta-feira (11/12), o STF iniciou um julgamento referente à Lei do Genocídio Indígena (14.701/2023), que entre as ameaças inclui a tese do Marco Temporal. Foram analisadas três ações que contestam a lei, entre elas a ADI 7582, proposta pela Apib, na qual o Greenpeace Brasil atua como amigo da corte. Além da leitura do relatório pelo ministro Gilmar Mendes, houve sustentações orais das partes, incluindo as organizações da sociedade civil e movimentos indígenas.

“Além de ser dever jurídico do Estado, a proteção da demarcação das Terras Indígenas é indispensável para a efetividade do amplo leque de  direitos dos povos originários e das políticas ambientais e climáticas conforme determina os artigos 225 e 231 da Constituição Federal”, destaca Angela Barbarulo, gerente jurídica do Greenpeace Brasil.

Continuidade do julgamento e início da votação dos ministros devem ficar para 2026.

Marco Temporal não, de uma vez por todas!

Ao empurrar o Marco Temporal na legislação brasileira, a bancada ruralista quer entregar as Terras Indígenas para os interesses econômicos que desmatam a floresta e agravam a crise climática – o que se reflete no aumento de eventos extremos em todo país, como secas históricas e chuvas torrenciais. E se um direito constitucional, consolidado há décadas, pode ser revogado de forma acelerada e sem seguir trâmites democráticos, abre um precedente perigoso. 

Por isso, a tese do Marco Temporal é um ataque à democracia, à constituição e ao povo brasileiro. Seguiremos ao lado dos povos indígenas e de sua luta – por quanto tempo for necessário e sem recuar. 

Senadores que votaram a favor da PEC do Marco Temporal – anote esses nomes para as eleições de 2026 
Alessandro Vieira – MDB/SE
Fernando Dueire – MDB/PE
Fernando Farias – MDB/AL
Ivete da Silveira – MDB/SC
Marcelo Castro – MDB/PI
Eduardo Girão – NOVO/CE
Weverton – PDT/MA
Marcos Pontes – PL/SP
Carlos Portinho – PL/RJDra. Eudócia – PL/AL
Eduardo Gomes – PL/TO
Flávio Bolsonaro – PL/RJ
Izalci Lucas – PL/DF
Jaime Bagattoli – PL/RO
Jorge Seif – PL/SC
Marcio Bittar – PL/AC
Marcos Rogério – PL/RO
Rogério Marinho – PL/RN
Wellington Fagundes – PL/MT
Wilder Morais – PL/GO
Marcos do Val – PODEMOS/ES
Zequinha Marinho – PODEMOS/PA
Ciro Nogueira – PP/PI
Dr. Hiran – PP/RR
Esperidião Amin – PP/SC
Laércio Oliveira – PP/SE
Luis Carlos Heinze – PP/RS
Tereza Cristina – PP/MS
Chico Rodrigues – PSB/RR
Cid Gomes – PSB/CE
Flávio Arns – PSB/PR
Jorge Kajuru – PSB/GO
Angelo Coronel – PSD/BA
Irajá – PSD/TO
José Lacerda – PSD/MT
Lucas Barreto – PSD/AP
Nelsinho Trad – PSD/MS
Rodrigo Pacheco – PSD/MG
Sérgio Petecão – PSD/AC
Vanderlan Cardoso – PSD/GO
Oriovisto Guimarães – PSDB/PR
Plínio Valério – PSD/AM
Styvenson Valentin – PSDB/RN
Alan Rick – REPUBLICANOS/AC
Cleitinho – REPUBLICANOS/MG
Damares – REPUBLICANOS/DF
Mourão – REPUBLICANOS/RS
Mecias Jesus – REPUBLICANOS/RR
Davi Alcolumbre – UNIÃO/AP
Efraim Filho – UNIÃO/PB
Prof Dorinha Seabra – UNIÃO/TO
Sérgio Moro – UNIÃO/PR

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação mensal hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!