O garimpo destrói as Terras Indígenas e ameaça a sobrevivência dos povos que nela habitam. Crédito: © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Nos dias 13 e 14 de agosto de 2025, lideranças Yanomami, Munduruku e Kayapó reuniram-se no escritório do Greenpeace Brasil, em Manaus, para alinhar ações conjuntas da Aliança em Defesa dos Territórios* para os próximos meses – com um olhar também para a COP 30. O encontro foi marcado por trocas de experiências, atualização de dados sobre as ameaças e construção de estratégias coletivas de incidência política e comunicação, com o objetivo de fortalecer a resistência e a autonomia dos povos.

Durante o encontro, o Greenpeace Brasil apresentou informações sobre a presença do garimpo nas Terras Indígenas Yanomami, Munduruku, Kayapó e Sararé, além de alertas sobre a atividade em outras Terras Indígenas e Unidades de Conservação na Amazônia. Os dados mostram que o garimpo não afeta apenas a área diretamente explorada: todo o ecossistema ao redor sofre impactos severos, ampliando os danos ambientais, sociais e culturais.

As lideranças apontaram também outros problemas que o garimpo carrega para dentro dos territórios, como insegurança alimentar; contaminação da água e do solo; impactos à saúde, especialmente em mulheres indígenas grávidas e crianças; violência e presença de facções criminosas; aliciamento de jovens indígenas; destruição da biodiversidade; e perda de áreas de caça, pesca e roça.

A voz das lideranças!

Para Julio Ye’kwana Yanomami, sistemas de alerta são fundamentais para coibir o garimpo, mas é preciso garantir que o monitoramento seja feito também pelos próprios indígenas:

“Nós, povos indígenas, temos que ficar na ativa na defesa do território, não apenas esperar pelo governo. Nossa terra é grande, fiscalizar custa caro. Não podemos depender só da Funai ou do governo. Queremos formar jovens para operar drones e fazer o monitoramento territorial pelas associações Yanomami”, destacou.

Ele ressaltou os avanços após a desintrusão permanente iniciada em 2023:

“Depois da desintrusão, vimos a água limpando, as crianças voltando para a aldeia e mais segurança. A desintrusão é muito boa, mas não adianta só tirar o garimpo, é preciso criar alternativas econômicas para cidades vizinhas ao território e para os jovens.”

Alessandra Korap Munduruku cobrou ações estratégicas que combinem a retirada dos invasores com oportunidades de geração de renda:

“O povo Munduruku consegue viver sem garimpo. Temos terra, caça, pesca, artesanato, extrativismo. Mas sem investimento nessas alternativas econômicas, o indígena acaba indo para o garimpo. Precisamos de projetos de etnodesenvolvimento, turismo de base comunitária, cadeias produtivas que fortaleçam nossa autonomia.”

Patkore Kayapó destacou que o garimpo causa não só destruição ambiental, mas também desunião entre as comunidades:

“Hoje sofremos com rios contaminados, como o Rio Fresco e o Rio Branco, cheios de barro e lama. O garimpo traz facção criminosa, drogas, armas e bebidas alcoólicas. Quando os invasores saem, deixam terra revirada, maquinário queimado e óleo derramado. Precisamos recuperar o território com projetos sustentáveis que garantam nossa sobrevivência e a floresta viva.”

Caminhos para o futuro

Os povos reafirmaram que a desintrusão é importante, mas que sozinha não resolve todos os impactos deixados pelo garimpo, que é preciso construir alternativas econômicas sustentáveis dentro dos territórios, como extrativismo, sistemas agroflorestais, turismo de base comunitária e cadeias produtivas que gerem renda para as comunidades. O PGTA (Plano de Gestão Territorial e Ambiental) foi citado como um instrumento estratégico para garantir autonomia, gestão participativa e diálogo com políticas públicas e financiadores.

A Aliança também destacou que a luta deve seguir em duas frentes. A defesa jurídica e política dos territórios, garantindo a aplicação do artigo 231 e barrando projetos de lei como o PL 5060/2023, aprovado na Comissão de Direitos Humanos e que viola os direitos indígenas, por meio da abertura das Terras Indígenas para a exploração econômica. E o fortalecimento comunitário, com monitoramento próprio, capacitação de jovens e construção de uma nova economia que valorize a floresta em pé.

A reunião em Manaus reafirmou que a união entre Yanomami, Munduruku e Kayapó é fundamental para enfrentar ameaças comuns e garantir que a voz dos povos indígenas ecoe em todos os espaços de decisão.

Se você quer apoiar ações de fortalecimento da luta indígena e a proteção da Amazônia, participe da petição Amazônia Livre de Garimpo e colabore para manter viva a maior floresta tropical do planeta.

* Articulação criada em dezembro de 2021, com povos vindos das Terras Indígenas mais afetadas pelo garimpo – juntas, elas atuam realizando incidência política junto a autoridades e instituições, contra a exploração ilegal de ouro em seus territórios.

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