Seminário sobre a Moratória da Soja contou com a presença do ministro do meio ambiente e reconhecimento à Paulo Adario, do Greenpeace, por seu trabalho na construção do acordo

Sementes de soja.

Sementes de soja prontas para plantação.

Nesta quarta (19), mais de cem pessoas lotaram um auditório em São Paulo para comemorar os dez anos de um dos mais bem sucedidos compromissos pelo Desmatamento Zero na Amazônia: a Moratória da Soja.

Na ocasião, Paulo Adario, estrategista sênior de florestas do Greenpeace,  recebeu uma menção honrosa em reconhecimento ao seu trabalho de coordenação do  Grupo de Trabalho da Soja (GTS).

Desde que o grupo foi formado –  com representantes da sociedade civil, empresas comercializadoras de soja e, a partir de 2008, com o governo federal –   Paulo Adario assumiu a coordenação representando a sociedade civil, ao lado de Carlo Lovatelli, que representa a indústria da soja.

Durante o evento, o professor Bernardo Rudorff, da empresa Agrosatélite –  responsável por monitorar áreas de soja em desacordo com a Moratória – apresentou os últimos resultados do monitoramento da safra 2015/16. O número de municípios monitorados pelo acordo na Amazônia passou de 76 (em 2015) para 87 (em 2016). Juntas, estas localidades são responsáveis por 98% da produção de soja no bioma. Desde o início da Moratória, apenas 1.4% da expansão se deu em áreas desmatadas após 2008.

Estiveram presentes  no evento representantes da sociedade civil, governo, o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, e o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Eumar Novacki, além de representantes do Grupo de Consumidores de Soja Europeu – liderado pelo McDonald’s, que em 2006 foi fundamental para pressionar as principais comercializadoras de soja a não mais envolverem-se com o desmatamento da Amazônia.

Para Paulo Adario, é de extrema importância que haja mudanças no modelo de agricultura no Brasil:

“O modelo de negócio da agricultura não pode mais incluir desmatamento. As mudanças climáticas são uma realidade e só tendem a piorar. O Brasil se comprometeu a fazer tudo a seu alcance para que o planeta não aqueça acima de 1.5Cº e, para isso, acabar com o desmatamento é fundamental.”

Carlo Lovatelli, presidente da Abiove e coordenador do setor privado GTS concorda com Paulo Adario e reforça, “A moratória trouxe uma nova cultura de procedimentos para todos que atuam diretamente com o agronegócio. O produtor rural entendeu  que o mercado mundial exige esta mudança”, comentou o empresário.

Paulo Pianez, do Carrefour, representante do Grupo de Consumidores de Soja Europeu vislumbrou o futuro que a moratória da Soja pode nos trazer, “O próximo passo dessa trajetoria de sucesso é que consiga expandir para outros biomas. O sucesso da moratória nos ajudará a encontrar esses caminhos”, disse Pianez esperançoso.

“É importante que essa moratória tão bem sucedida  seja expandida para o cerrado. Para contribuir com essa finalidade, o MMA passará a divulgar a partir de março os dados em tempo real do desmatamento no cerrado”, disse o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho. “A moratória é uma referência não só para o nosso país, como também para o mundo, de que como sociedade civil, empresas privadas e governo podem caminhar juntos”, completou o ministro.

Dez anos de sucesso, mas o desafio continua

Apesar do desafio ambiental da produção agropecuária ainda ser enorme, a Moratória – fruto de uma campanha bem sucedida do Greenpeace e da pressão exercida por consumidores ao redor do mundo –  representa um primeiro e sólido passo ao impedir o avanço da fronteira do grão sobre a Amazônia. Em dez anos de existência, o acordo  ajudou a reduzir o desmatamento nos municípios monitorados e contribuiu também para a queda da destruição  na Amazônia entre 2005-2012.

Ao contrário do que muitos pensavam há dez anos, a Moratória da Soja provou, na prática, que o Desmatamento Zero é possível. Hoje o acordo é visto como um caso de sucesso que inspirou outros compromissos privados ao redor do mundo. Experiências como essa devem ser replicadas em outras culturas agrícolas e  regiões vulneráveis ao avanço do desmatamento.

No período da tarde, o evento abriu espaço para importantes debates sobre os desafios e oportunidades que cercam esse acordo, que já dura uma década. Integraram o debate convidados renomados em suas áreas de atuação,  como Daniel Zarin (Climate and Land Use Alliance – Clua) e Gerd Sparovek (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq).

Questões como o destaque da Moratória no contexto de compromissos internacionais pelo Desmatamento Zero, os desafios relacionados ao impacto da soja em outras regiões onde o acordo não chega, os impactos de outras culturas como milho e algodão, que não estão cobertas pelo compromisso, e também a questão de incentivos para a produção sem desmatamento estiveram em pauta no seminário.

O Desmatamento Zero já é uma realidade: é alvo de diversos compromissos de mercado, consta nos novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, Declaração de Nova Iorque pelas florestas, além de estar alinhado com o desejo da sociedade brasileira, que em 2015 ajudou a levar ao Congresso Nacional uma proposta de lei que pede o fim do desmatamento, agora em consulta.

Boa parte do sucesso da moratória na Amazônia deve-se à cooperação entre sociedade civil, setor privado, e governo federal – essa foi a primeira vez que o governo brasileiro integrou um compromisso pelo Desmatamento Zero, já que seu compromisso vigente limita-se a acabar apenas com o desmatamento ilegal até 2030, e apenas na Amazônia – assim a destruição está longe de ter um fim.

Por isso é urgente que governos (federal, estaduais, municipais) persigam o mesmo nível de ambição da Moratória e visem a extinção do desmatamento, acompanhando esse movimento mundial.

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