De acordo com denúncia, o agricultor teve o gado roubado pelos seguranças da fazenda Estrondo e foi recebido à bala quando tentou recuperar os animais

Um agricultor de Formosa do Rio Preto (BA), um dos municípios campeões de produção de soja no país, foi baleado na última quinta-feira (31) ao tentar recuperar animais retidos ilegalmente por pistoleiros que atuam como “agentes de segurança” na fazenda Estrondo. O empreendimento agroindustrial tem em seu histórico uma longa ficha de processos que envolvem grilagem, desmatamento e casos de violência contra as populações locais.

De acordo com informações da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais (AATR), na manhã do crime, Jossinei Lopes Leite, diretor da Associação Comunitária da Cachoeira, e outros geraizeiros saíram a campo em busca do gado criado solto nos Gerais (Cerrado) do Alto Rio Preto, quando perceberam que seus animais haviam sido recolhidos a mando dos proprietários da fazenda. Ao exigirem a devolução dos animais, foram recebidos com uma sequência de tiros disparados por dois pistoleiros. Jossinei foi atingido na perna, mas conseguiu retornar à comunidade, onde foi socorrido por familiares e levado para o hospital do município.

Segundo o último relatório da ONG Global Witness, de 2018, o Brasil é o país mais letal para ativistas e defensores da terra e do meio ambiente. Foram 57  pessoas assassinadas em 2017 –sendo a maioria em conflitos provocados pelo agronegócio. “A situação, que já está ruim, pode piorar ainda mais. Medidas tomadas pelo novo governo, como o enfraquecimento do Ibama e de outras agências de proteção ambiental, o ataque aos direitos indígenas e quilombolas e o decreto que facilita a posse de armas, enviam uma mensagem clara de que o Brasil está reduzindo os esforços no combate ao desmatamento e proteção das populações tradicionais, agravando ainda mais os conflitos sociais e a violência associada às disputas de terra”, avalia Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace. “Nessas regiões, a resposta das máfias do desmatamento e da grilagem de terras são frequentemente perversas e imediatas”.

– Veja a nota completa da AATR

Estrondo faz a festa

Não é de hoje que a ação da fazenda Estrondo vem sendo denunciada pelas populações locais, ONGs, jornalistas e pelo Ministério Público. O projeto começou a instalar-se na região há quase quatro décadas, quando o empresário gaúcho Ronald Levinshon, ex-presidente da Caderneta de Poupança e Crédito Imobiliário Delfin, comprou uma grande porção de terras, adquirindo títulos de posse de vários moradores locais.

Embora a Justiça reconheça a existência de documentação que comprova a posse daquela área pelas comunidades tradicionais, o acesso à parte da área que seria da comunidade  por direito está bloqueado por guaritas guardadas por homens armados. A estrada que atravessa as comunidades foi obstruída por valetas abertas pela fazenda, obrigando os geraizeiros a se identificar para ter sua passagem liberada, em um caso flagrante de restrição do direito de ir e vir.

De acordo com a advogada Liliane Campos, da AATR, mesmo com decisão em segunda instância e liminar que garante a manutenção de posse para os moradores da comunidade, a Estrondo continua a impor suas restrições e violência na região, com apoio do poder público. “Em abril de 2017, a Vara Agrária de Barreiras garantiu a manutenção de posse. Mas foi muito difícil fazer com que a empresa recebesse a notificação, identificamos uma ação pesada do judiciário local para favorecer o grupo econômico. Para você ter uma ideia, só conseguimos que a empresa fosse notificada um ano depois da liminar ter sido assinada. Entramos, inclusive, com uma ação para apurar a falta de oficial de justiça para realizar esta intimação”, conta. “As comunidades sempre resistiram, mesmo com a morosidade do estado e da justiça, que nunca deu uma resposta satisfatória à demanda, que já tem sete anos”.

–  Leia também: “Segure a Linha: a Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”.

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