É hora de ajudar as famílias impactadas pela seca extrema no norte do Brasil

O leito seco dos rios e a fumaça da queimadas passaram a fazer parte das paisagens amazônicas nos últimos meses © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Tudo indica que 2023 será conhecido como o ano em que a Amazônia registrou a pior estiagem de sua história. Os sinais da tragédia estão por todos os lados: as redes sociais estão repletas de fotos e vídeos de rios secos, barcos encalhados, flutuantes vazios, enormes bancos de areia onde antes haviam caudalosos rios e sinuosos igarapés. 

Registros de botos mortos no Lago Tefé, no Amazonas, chocaram o mundo. As metrópoles da região – Rio Branco (AC), Porto Velho (RO), Manaus (AM) e Belém (PA) – sofrem com a fumaça que asfixia seus habitantes, turva a visão de seus horizontes e adiciona um quê apocalíptico às paisagens.

Na maior bacia hidrográfica do planeta, falta água; na região que já foi conhecida como o “pulmão do mundo”, os cidadãos têm dificuldades de respirar. Acabamos de passar pelo setembro mais quente da história, segundo o sistema europeu de observação da terra.

No Amazonas, o estado mais castigado por mais esse evento climático extremo, 40 dos 62 municípios estão em situação de emergência. Apenas nesta unidade da federação, mais de 66 mil famílias sofrem com os efeitos da seca e mais de 266 mil pessoas já foram afetadas. O governo do Estado estima que até o final da estação mais de meio milhão de pessoas sofrerão com as consequências da estiagem. 

O Acre enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos. No Pará, 59% da área do estado sofre com as consequências do fenômeno. E, em Rondônia, a quarta maior hidrelétrica do Brasil teve que parar de funcionar por conta do baixo volume de águas. O combo formado por calor, desmatamento, queimadas e El Niño está cobrando um preço altíssimo dos amazônidas. 

Apenas no Amazonas, mais de 266 mil pessoas sofrem os efeitos da estiagem © Marizilda Cruppe / Greenpeace

Aplacar sofrimento

É nesses momentos que a solidariedade se faz imperativa: para tentar aplacar o sofrimento de inúmeras famílias – principalmente aquelas que mais sofrem com os eventos climáticos extremos, como as populações ribeirinhas, comunidades indígenas, quilombolas, população preta, periférica e trabalhadora – estamos reeditando a iniciativa Asas da Emergência.

O Asas da Emergência foi um projeto conduzido entre 2020 e 2021 que fortaleceu a rede de apoio e solidariedade dada aos povos indígenas da Amazônia durante a pandemia de covid-19. Na ocasião, nossa aeronave foi usada para levar cilindros de oxigênio, alimentos e itens de higiene para aldeias e comunidades tradicionais por toda a região. 

Foram 125 toneladas de itens doados, que foram transportados por 126 viagens que percorreram 190 mil quilômetros pelos céus da Amazônia. Uma das maiores contribuições deste projeto ocorreu em abril de 2021, quando uma usina de oxigênio foi doada às populações do Alto Rio Negro. Ao final do processo, mais de 160 mil indígenas, de mais de 50 etnias distintas, foram beneficiados.

Relembre algumas das ações do Asas da Emergência, projeto retomado agora pelo Greenpeace

Animais mortos

A versão 2023 do Asas da Emergência vai atuar em duas frentes: no retorno da ajuda humanitária, que vai levar água e alimentos para comunidades afetadas; e no apoio à Operação Emergência Botos Tefé, que está baseada na cidade de Tefé, no Amazonas, e tem atuado no auxílio da conservação dos botos, que recentemente começaram a morrer numa velocidade assustadora.

Em pouco mais de uma semana, o Instituto Mamirauá, que realiza trabalhos de conservação da espécie naquele local, encontrou mais de 130 animais mortos. Existe a hipótese de que os animais estejam morrendo por conta da seca e do calor da água, mas isso ainda precisa ser confirmado pelos especialistas. Em alguns pontos, a temperatura da água no lago chegou a inacreditáveis 39º C. Recentemente, o jornal norte- americano The New York Times estampou em manchete “O Lago Tefé virou uma sopa quente”.

Os voos iniciais do Asas da Emergência 2023 acontecem no primeiro final de semana de outubro. A previsão é levar mais de 3 toneladas de gêneros alimentícios e hipoclorito de sódio, material utilizado na limpeza da água. De acordo com algumas conversas iniciais feitas com as populações do Médio Solimões, a falta de alimento e de água é o maior problema enfrentado pelas pessoas por ali.

A alta mortandade dos botos, divulgada em fotos que horrorizam os cidadãos por todo o planeta, pegou todos de surpresa. Mas equipes de biólogos, veterinários e outros pesquisadores já estão trabalhando na região, para entender o que está acontecendo e prestar assistência aos animais que são encontrados vivos durante as expedições. Estão sendo feitas coletas de água, sangue e materiais biológicos, para obter respostas sobre o que de fato está acontecendo na calha do rio Solimões. Nós vamos dar suporte logístico ao deslocamento desses profissionais e dos insumos coletados nas pesquisas.

A Operação Emergência Botos Tefé é liderada hoje pelo Instituto Mamirauá e reúne as seguintes instituições: Sea Sheperd Brasil, GRAD Brasil, WWF-Brasil, Associação R3 Animal, Ong Aquasis, LAPCom/USP, Projeto Baleia Jubarte, Universidade Nilton Lins, Instituto Tamanduá e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Biólogos e veterinários estão realizando estudos para saber o que anda acontecendo com os botos em Tefé

Justiça climática

“É urgente que o poder público tome ações para garantir o direito à vida das pessoas, em especial as mais vulnerabilizadas, que são as mais expostas aos impactos dos eventos extremos causados pela crise climática. E quando estamos falando dessas populações, estamos falando sobre os povos indígenas, a população negra, os povos tradicionais ribeirinhos que têm uma relação vital com as águas. Não tem como falar em crise do clima sem falar de justiça social”, contou Igor Travassos, porta-voz do Greenpeace Brasil.

Igor lembrou que os eventos climáticos têm se agravado em intensidade e frequência – e que, no Brasil, a principal atividade que contribui para isso são o desmatamento e as queimadas: “O desmatamento zero é a maior contribuição que o Brasil pode dar para ajudar a mitigar os efeitos da crise climática e desacelerar a frequência e intensidade dos eventos extremos”.

É importantíssimo ajudar as comunidades prejudicadas. Vamos trabalhar juntos para levar itens de primeira necessidade para as vítimas da estiagem prolongada no Norte do país. Participe da nossa campanha de arrecadação!  Os recursos serão destinados à compra e entrega de alimentos e água para populações vulnerabilizadas pela seca – em especial, povos indígenas e comunidades ribeirinhas. 

O Lago Tefé foi um dos corpos d’água que secou muito nas últimas semanas

O Rio Grande do Sul enfrenta uma tragédia climática sem precedentes, com mais de 1 milhão de pessoas diretamente impactadas pelas fortes chuvas. Nossa campanha está destinando recursos para a compra e entrega de suprimentos emergenciais e apoiando cozinhas solidárias. Precisamos da sua solidariedade nesse momento tão crítico. Clique abaixo e doe agora.