Pesquisa mostra a quem os brasileiros atribuem como maiores destruidores da floresta e quais seriam as melhores práticas para combater o desmatamento
O aumento no desmatamento na Amazônia é um fato não apenas comprovado pelos satélites do INPE, mas também um problema reconhecido por 73% dos brasileiros que responderam à pesquisa Datafolha, feita com 1.524 brasileiros de capitais e cidades do interior em todas as regiões do país. Os principais desmatadores e como enfrentar a destruição da floresta também foram questões abordadas pela pesquisa.
Para os brasileiros ouvidos, o pódio da destruição florestal é ocupado pelos madeireiros, em primeiro lugar, seguido dos garimpeiros e dos grandes criadores de gado. Quem menos impacta a floresta, por outro lado, são os pequenos agricultores e os povos indígenas.
De fato, as três atividades estão relacionadas ao desmatamento, e são frequentemente realizadas de forma ilegal. Mas, em termos absolutos, a contribuição de cada atividade para a área destruída na floresta é diferente. Cristiane Mazzetti, especialista em desmatamento da nossa campanha da Amazônia, explica o porquê. “Os madeireiros ilegais abrem estradas no meio da Amazônia à procura de espécies valiosas de madeira e isso causa a degradação da floresta, prejudicando todo o equilíbrio ecológico que existe ali. Essa atividade é frequentemente o primeiro passo do desmatamento. O garimpo, verdadeira epidemia que vem assolando principalmente as terras indígenas, abre grandes feridas na mata e tem grande impacto na contaminação dos solos e das águas. No entanto, atualmente, o maior vetor de desmatamento é a pecuária. Cerca de 80% das áreas desmatadas são ocupadas pela criação de gado. As recentes ocorrências de queimadas na Amazônia são intencionais, inclusive, com o objetivo de abrir novas áreas para pastagens, diz Cristiane.
Pergunta: Na sua opinião, as seguintes atividades estão causando muito, pouco ou nenhum desmatamento na Amazônia?
Como combater o desmatamento?
Diante dessa escalada no desmatamento, o que pode ser feito? Segundo o Datafolha, 65% dos brasileiros consideram a restauração florestal como a medida mais efetiva, por meio do replantio de mudas de espécies nativas. Na sequência, 52% consideram muito eficaz a fiscalização de campo, com aplicação de multas e apreensão de equipamentos. Mas, afinal, adianta plantar árvores para combater o desmatamento?
“O desmatamento da Amazônia atingiu um ritmo tão alarmante que chega ao equivalente a dois campos de futebol desmatados por minuto. Além das queimadas, são usadas grandes correntes atreladas a tratores para “limpar” áreas enormes rapidamente. A restauração florestal não acompanha o mesmo ritmo, porque é mais cara e lenta. Para cada árvore plantada, que leva anos para crescer, centenas de outras árvores continuam a ser derrubadas, ou seja, a conta não fecha”, explica Cristiane Mazzetti. Mesmo assim, uma floresta não é feita apenas de árvores, mas de toda a biodiversidade que a compõe. “Há uma série de relações entre as diferentes espécies de árvores que levaram anos para se desenvolver e que não se estabelece tão rápido, mesmo com o plantio de nativas. Por isso, o fim do desmatamento precisa andar lado a lado com a restauração”, diz Cristiane.
Por outro lado, quando avaliam que a aplicação de multas e apreensão de equipamentos como algo que “Funciona Muito”, isso de fato se conecta com a realidade. Entre as ações que conseguiram reduzir as taxas de desmatamento na Amazônia entre 2004 e 2012, estavam ações estruturadas e frequentes de fiscalização com aplicação de multas e apreensão e destruição de equipamentos envolvidos em atividades criminosas. Já a criação de áreas protegidas, apesar de ter recebido uma avaliação de apenas 46%, também funcionaram muito para frear o desmatamento – questões que seguem sendo ignoradas pela gestão atual.
Mesmo que haja o plantio de árvores, é preciso garantir uma fiscalização forte que elimine o desmatamento ilegal. Infelizmente, o governo vem agindo no sentido contrário, enfraquecendo leis e desmantelando os órgãos responsáveis pelo combate aos crimes ambientais, como o Ibama e o ICMBio.
Tire o desmatamento da sua dieta
Outro ponto que chama a atenção na pesquisa é a baixa associação que os brasileiros ainda fazem entre o hábito de comer carne e o desmatamento na Amazônia. 36% afirmaram que reduzir o consumo de proteína animal não funciona, e 37% que funciona pouco. “Na verdade, considerando que a pecuária é o maior vetor do desmatamento, reduzir o consumo de carne ajuda a reduzir a pressão sobre áreas de floresta”, explica Cristiane.
Na prática, é cada um poder exercer o poder que tem como consumidor consciente. De quebra, além de fazer bem para as florestas e para os animais, reduzir o consumo de carne também faz bem para a própria saúde. Para entender melhor sobre o assunto, confira a nossa série “Você sabe de onde vem a sua comida?“, com a atriz Alice Braga.
Pergunta: As seguintes medidas funcionam muito, pouco ou não funcionam para combater o desmatamento?
O valor da Ciência
Diante de tantas fake news e de uma campanha de desinformação promovida inclusive por agentes do governo que têm a responsabilidade de proteger o meio ambiente, chama a atenção positivamente o fato de os cientistas serem considerados a fonte mais confiável quando se trata de informações sobre a Amazônia – 33% . E faz todo o sentido. O que os ativistas sérios e inclusive o Greenpeace defendem é: ouçam a Ciência. E ela diz que a Amazônia é fundamental para garantir a estabilidade do clima do planeta, amenizando os efeitos do aquecimento global, porém, está no limite das agressões que pode suportar. Caso o desmatamento continue avançando, o clima na região se tornará mais seco e naturalmente partes da floresta caminharão para virar um grande Cerrado.
Pergunta: Na hora de receber informações sobre Amazônia e meio ambiente, em quem você confia?
Por outro lado, embora com uma porcentagem bem inferior (18,35%), surpreende negativamente que autoridades do governo Jair Bolsonaro apareçam em segundo lugar nas respostas dos entrevistados, diante da desinformação que vem sendo feita. Mas revela também a responsabilidade que os agentes governamentais têm junto à população de prezar pela verdade e pelo conhecimento científico que muitas vezes é produzido por órgãos sérios do próprio governo, como o INPE.
“Essa pesquisa é importante porque cabe ao Governo Federal ouvir a população brasileira, que quer manter seu patrimônio natural preservado, pois entende que ele é o diferencial do Brasil e a chave para um futuro melhor. Com nossa biodiversidade, florestas e água limpa, teremos mais saúde, mais prosperidade e um desenvolvimento econômico e social inclusivo e alinhado com os desafios atuais que precisamos enfrentar”, afirma Cristiane Mazzetti.
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