Cerca de 130 balsas foram localizadas por meio de satélite no Rio Madeira

Mesmo após operações como a Prensa, que em agosto de 2024 destruiu 459 balsas de garimpo ilegal, incluindo 100 em Terras Indígenas, a exploração no rio Madeira, no estado do Amazonas, segue preocupante. Quase cinco meses depois, o Greenpeace Brasil utilizou imagens de radar SAR (Synthethic Aperture Radar), captadas pelo satélite Sentinel 1, para detectar um novo aglomerado de 130 balsas, mostrando a resiliência da atividade garimpeira na região.
As dragas de garimpo foram detectadas por meio de 12 alertas distintos. Desses, 7 correspondem a balsas agregadas em operação, enquanto os outros 5 referem-se a balsas em deslocamento ou ancoradas. As embarcações foram registradas na região do Rio Madeira entre os municípios de Novo Aripuanã e Humaitá.

O Rio Madeira já foi cenário de decisões judiciais importantes contra o garimpo ilegal. Em 2021, a Justiça Federal declarou inconstitucionais licenças ambientais emitidas pelo IPAAM (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) para a extração de ouro no leito do rio. Essas licenças foram concedidas sem estudos de impacto ambiental, ignorando os danos documentados, o uso indiscriminado de mercúrio e as condicionantes legais. Ainda em 2021, o Greenpeace Brasil realizou sobrevoo na região, denunciando ‘paredões’, com centenas de balsas garimpando o leito do rio.
Há mais de quatro décadas, o Rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas, é alvo de uma exploração ilegal de ouro que ameaça o equilíbrio ambiental e social da região. São várias as consequências dos Garimpos embarcados – balsas equipadas com maquinário pesado – elas dragam o fundo do rio em busca de ouro, destroem o leito, contaminam a água com mercúrio, matam peixes e causam doenças nos povos que dependem do rio para sobreviver.
Expansão descontrolada do garimpo
Dados do MapBiomas, de 2021, mostram que a área de garimpo terrestre na bacia do Madeira saltou de 3.753 hectares em 2007, para 9.660 hectares em 2020 – um aumento de 5.907 hectares, o equivalente a mais de 8.200 campos de futebol. Na Amazônia, que concentra 94% da área garimpada do Brasil, mais de 50% das operações ocorrem ilegalmente em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. O garimpo no bioma cresceu 10 vezes nas últimas três décadas, com aumentos de 301% em Unidades de Conservação e 495% em Terras Indígenas.
O Greenpeace Brasil está desenvolvendo uma ferramenta inovadora para identificar aglomerações de balsas de garimpo ilegal em tempo quase real, utilizando tecnologia de radar SAR. Essa ferramenta visa auxiliar órgãos como Ibama e Polícia Federal em ações rápidas e eficazes, mas a repressão isolada não basta. O garimpo segue ativo e as balsas são a maneira mais descontrolada dentro da cadeia do ouro, segundo o porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, Jorge Eduardo Dantas.

Foto: Imagem do satélite Sentinel 2 mostrando a formação de paredões de dragas de garimpo ilegal no Rio Madeira. Crédito: Departamento de Pesquisa/ Greenpeace Brasil
“O Brasil precisa romper com a lógica da repressão isolada e investir em políticas integradas que possam combater a devastação ambiental e a desigualdade social de forma estrutural. É indispensável promover alternativas econômicas sustentáveis que preservem nossos rios e florestas, ao mesmo tempo em que garantam dignidade e justiça para as populações que dependem desses territórios”, afirma Jorge.
Jorge ainda acrescenta que dentro de Terras Indígenas ou nos rios da Amazônia, o garimpo ilegal não opera sozinho, que por trás dessas balsas em operação, existe uma cadeia de suprimentos dessa atividade criminosa que precisa ser investigada, responsabilizada e desmantelada pelas autoridades competentes. O rio Madeira não pode mais ser palco de impunidade e destruição. É urgente enfrentar o garimpo ilegal com tecnologia, políticas públicas e justiça ambiental. Para isso, junte-se a nós por uma ‘Amazônia Livre de Garimpo’.
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