Em 2022, o Brasil testemunhou uma das mais graves crises humanitárias de sua história recente: a situação vivida pela Terra Indígena Yanomami. A combinação de negligência histórica, avanço do garimpo ilegal e colapso das políticas públicas culminou em números devastadores. Conforme dados do Ministério da Saúde, até dezembro de 2023, foram registradas 363 mortes de indígenas Yanomami, causadas principalmente por desnutrição e malária.

O boletim divulgado em 22 de fevereiro de 2024 também revelou alta incidência de doenças na região: 29.900 casos de malária, 7.104 de síndrome respiratória aguda grave, 26.747 de síndrome gripal e 10.461 de doenças diarreicas agudas ao longo de 2023. Dois anos depois, enquanto a crise humanitária persiste, o garimpo ilegal continua avançando impunemente no território.
Dados do último monitoramento do Greenpeace Brasil revelam que, entre julho e setembro de 2024, 50 hectares de novas áreas de garimpo foram abertos na Terra Indígena Yanomami. Isso representa um aumento de 32% em relação ao mesmo período de 2023, confirmando que as operações de desintrusão realizadas pelo governo federal ainda não foram suficientes para conter a exploração ilegal. Mesmo com ações pontuais, como a destruição de maquinário e acampamentos, novas frentes de garimpo surgem, especialmente no sul do território, sobrepondo-se ao Parque Nacional do Pico da Neblina.
Essa realidade reflete a falta de continuidade e eficiência nas políticas de fiscalização e monitoramento territorial. Lideranças indígenas, como a Hutukara Associação Yanomami, registraram várias denúncias, alertando para o retorno gradual de garimpeiros às áreas previamente desocupadas pelas forças federais.

“A força-tarefa está na TI Yanomami e a entrada dos invasores está controlada, mas ainda existem pontos de entrada. Não são muitos, mas existem. Um aspecto que a gente observa é a qualidade da água nas nossas comunidades”, aponta o presidente do Conselho Distrital de Saúde Yanomami e Ye’kwana, Junior Yanomami, em entrevista para a Agência Brasil.
O Ministério Público Federal também reconheceu, em ofício de dezembro de 2023, que não existem medidas permanentes e eficazes para garantir a segurança e a saúde do povo Yanomami. Enquanto isso, o impacto do garimpo ilegal vai além do desmatamento: ele contamina rios com mercúrio, compromete a soberania alimentar e perpetua episódios de violência sexual.
Desintrusão e Monitoramento
De acordo com o Governo Federal, as ações realizadas em 2024, consolidaram a retirada de invasores, a destruição da logística criminosa e a assistência às comunidades indígenas. Sob a coordenação da Casa de Governo, instalada em Boa Vista, foram realizadas 3.536 operações de segurança. O Governo estima uma redução de 96% na abertura de novos garimpos em comparação com 2022, ano que representou o auge do garimpo ilegal na região.
Embora essas operações de comando e controle realizadas tenham obtido resultados importantes, como a apreensão de equipamentos e a ocupação de áreas críticas, elas ainda falham em atacar a raiz do problema. A ausência de políticas públicas robustas e permanentes deixa um vácuo que os garimpeiros rapidamente exploram.
Grégor Daflon, porta-voz da Frente de Povos Indígenas do Greenpeace Brasil, destaca a necessidade da efetiva estruturação de políticas públicas permanentes de saúde, educação, monitoramento territorial e soberania alimentar dentro do território Yanomami.
“O Plano de Ação proposto pelo Governo Federal precisa contar com a participação ativa e contínua das lideranças indígenas no planejamento, monitoramento e na execução das ações. A dinâmica ilegal do garimpo se reorganiza, se reestrutura e abre novas fronteiras de destruição dentro da Terra Indígena Yanomami conforme apontamos. Somente uma presença contínua e integrada do Estado, fortalecimento de órgãos de fiscalização como o IBAMA e FUNAI e participação das lideranças na implementação deste plano, podem garantir a segurança e o bem-estar do povo Yanomami”, destaca Grégor.
O caminho à frente
Dois anos após o início da crise Yanomami e as véspera de sediar o maior encontro anual sobre clima, a COP 30, o Brasil precisa decidir se continuará assistindo à destruição de um de seus maiores patrimônios culturais e naturais ou assumirá a responsabilidade de proteger aqueles que cuidam da maior floresta tropical do planeta. Medidas importantes foram tomadas desde o início do atual governo, mas para cumprir plenamente a promessa de campanha de acabar com o garimpo em terras indígenas, é preciso de mais: desintrusão permanente, fortalecimento das políticas públicas de saúde, proteção dos territórios e valorização do conhecimento indígena.
O garimpo ilegal não pode continuar destruindo vidas, territórios e sonhos. A luta pelo futuro dos Yanomami é também uma luta pelo futuro da Amazônia,do planeta e da nossa sobrevivência. O Greenpeace Brasil seguirá monitorando e denunciando, mas é preciso que todos – sociedade, governos e comunidade internacional – se unam para dizer basta. É hora de agir!
Se você também quer uma ‘Amazônia Livre de Garimpo’, assine nossa petição que já conta com mais de 200 mil assinaturas. Compartilhe com seus amigos e familiares e junte-se a nós fazendo parte dessa mobilização em defesa das florestas e dos povos indígenas.
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Discussão
Esses bandidos são o que tem de pior na raça humana, não pode só assustar, não pode deixa-los fugir, como tem sido o normal, tem que prender ou eliminá-los, não pode deixar essa gente, destruir tudo e matar gente impunemente.