A extração de sal-gema destruiu cinco bairros, desocupou mais de 14 mil imóveis e expulsou mais de 55 mil pessoas de suas casas
O possível desabamento da mina da Braskem em Maceió (AL) mostra, mais uma vez, o que acontece quando os interesses das grandes empresas são colocados à frente do bem-estar da sociedade. A mineração de sal-gema da Braskem destruiu bairros inteiros da capital alagoana, e por mais que as pessoas tenham sido evacuadas agora, esta não é uma situação nova. Há 4 anos, bairros periféricos da capital de Alagoas viraram bairros fantasmas, vazios, pois as casas e suas estruturas começaram a ruir.
As autoridades brasileiras, novamente, falham em proteger a população de interesses que visam apenas o lucro rápido e fácil e que veem a natureza como recurso econômico a ser explorado – mesmo que isso custe vidas, prejudique os recursos naturais e provoque problemas de toda ordem. Os crimes cometidos pelas grandes empresas seguem acontecendo, enquanto direitos são violados, ações de reparação são insuficientes e o meio ambiente segue sendo explorado de maneira criminosa.
No caso de Maceió, a extração de sal-gema feita pela Braskem destruiu cinco bairros, desocupou mais de 14 mil imóveis e expulsou mais de 55 mil pessoas de suas casas.
Essa é a mesma lógica da mineração em larga escala que, nos últimos anos, provocou tragédias em Mariana (MG) em 2015 – quando uma barragem da Samarco despejou uma avalanche de rejeitos no Rio Doce – e em Brumadinho (MG) em 2019, quando o rompimento de uma barragem espalhou resíduos de minério na bacia do rio Paraopeba e provocou, em poucos minutos, a morte de 272 pessoas soterradas por lama e rejeitos.
Não estamos falando de um problema novo. Cientistas alertam para o risco de uma tragédia há mais de uma década, e as primeiras rachaduras e tremores de terra nos bairros de Maceió começaram em 2018. Estudos do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) já deixaram claro a causa do afundamento do solo: a maneira inadequada pela qual o sal-gema era retirado pela Braskem. A irregularidade durou décadas antes de desestabilizar as galerias subterrâneas que ficam sob a cidade e obrigarem milhares de pessoas a sair de suas casas de maneira abrupta e involuntária.
Importante lembrar também que, assim como os eventos climáticos extremos, este tipo de crime atinge desproporcionalmente populações historicamente vulnerabilizadas, como pessoas negras, periféricas, populações tradicionais e empobrecidas, agravando de maneira seríssima desigualdades sociais que já existem no país.
É preciso maior efetividade no planejamento e monitoramento de atividades de alto impacto ambiental e social, como a mineração. Os governos – municipais, estaduais e federal – devem assumir seu papel e responsabilidade. Os processos de licenciamento e fiscalização ambiental precisam ter excelência técnica e serem respeitados.
Não é possível que, ano após ano, a população brasileira seja vítima de fiscalização ineficiente, práticas extrativas atrasadas e perigosas, poderes públicos omissos e interesses que coloquem em risco a vida das pessoas, a história e memória dos lugares e a biodiversidade desses locais. Além disso, o empreendimento de recursos públicos para evitar ainda mais danos é gigantesco. Os governos esperam as tragédias acontecerem para decretar estado de calamidade, dispensar licitações e só assim tomar alguma providência.
O Greenpeace se solidariza com as pessoas atingidas por esse crime socioambiental cometido pela Braskem – e se soma à população na exigência pela responsabilização da empresa e reparação às mais de 50 mil pessoas expulsas de suas casas.
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