Me chamo Luiza, nasci e morei muitos anos na roça, onde meu pai trabalhava e tirava o sustento de nossa família. Lembro como se fosse hoje, quando peguei alguns panfletos na escola que falavam sobre defensivos agrícolas, fui correndo pra casa, ansiosa para falar com meus pai e desmascarar o que ele e todos chamavam de “remédio”. Acredita que chamavam de benfeitores dos alimentos? Foi aí que, mesmo sendo criança, comecei a olhar para a natureza com outros olhos. Nesta situação o máximo que consegui foi fazer todos usarem máscaras de proteção, mas essa reflexão me fez redobrar a atenção para as questões da natureza.

Eu e minha filha Gabriela corremos a beira Rio Três Henriques - Areias - São José - SC.

Eu e minha filha Gabriela corremos a beira Rio Três Henriques – Areias – São José – SC.

Na comunidade onde eu morava, aprendemos a fazer a fossa séptica para a privada e assim evitávamos a contaminação das águas.
Vim estudar em Florianópolis em 86, entrei pra polícia e quando estava perto de me aposentar iniciei a faculdade de gestão ambiental. Descobri um absurdo atrás do outro, vocês sabiam que no fundo do mar tem contêineres de produtos radioativos? Diante disso, dos poderosos não posso fazer muita coisa, mas na minha casa e em meu ciclo eu posso e faço:

  • Faz tempo que não carrego sacolas de plásticos do mercado. Levo sempre uma sacola de pano dentro da minha bolsa.
    O lixo diário separo em três há muitos anos, tipo 20 anos. O recolhimento do reciclado passa duas vezes por semana. E o lixo que vai pro aterro da minha casa é pouco. Noto que é umas dez vezes menor do que meus vizinhos. Um dia o gari gritou: “cadê o lixo dessa casa?”
  • Tenho uma horta e pomar num terreno de esquina, que é minha relíquia, agora que a terra está rica com o lixo orgânico, estou um pouco triste, pois apareceram os caramujos africanos.
  • As pilhas, que são poucas, mas tem, levo de volta na loja e a medicação vencida levo no posto de saúde. Lixo eletrônico levo num posto de recolhimento.
  • A água. Nunca uso água direto da torneira pra limpar a casa e calçadas, sempre faço reutilização da água que sai da máquina que lavou roupas. Tenho poucas plantas em vasos, mas sempre procuro colocar água da chuva pra regar, também pra evitar o cloro. E o jardim e horta normalmente chove por aqui.
  • O que comemos mais aqui em casa é peixe. Mas quase todo fim de semana churrasco, vou diminuir isso.
  • Ando sempre a pé ou de bicicleta por aqui, é até 10 km vou andando ou correndo, em deslocamento maior vou de carro, ia de carro todos os dias pro serviço, me aposentei, agora pretendo vender e andar de transporte coletivo.
  • Fazem anos que não compro roupas, bolsas e até calçados, uso o que as minhas filhas não querem mais, meu lema quanto a isso: a moda não me incomoda.
  • Quanto a torneiras, luzes e TV, muitas brigas fiz e raivas passei. Cansei de tanto falar e desligar tudo, a ignorância chega a doer meu coração. Até com o lixo, depois de todos esses anos, ainda vou atrás catando e consertando o que é feito de errado por aqui. Uma luta diária.
  • Hoje mesmo prestei socorro a um homem que estava cortando pasto num terreno da prefeitura em frente a minha casa e cortou um dedo da mão, profundo o corte, um copo, disse ele. Quanta ignorância, ainda jogam vidro quebrado nos terrenos e rios…

Ouvi falar que reciclar é ruim porque é necessário gastar muita água… Mas penso que pra fabricar também se gasta. E aonde vamos colocar as montanhas de lixo?

Gosto muito dos e-mails de vocês, não me sinto uma carta fora do baralho. Tenha uma bela jornada na luta por um mundo melhor pra nós e nossos descendentes!

Um fraterno abraço,
Que Deus nos dê sabedoria.
Luiza, 53 anos, aposentada e doadora do Greenpeace.

Sem a ajuda de pessoas como você, nosso trabalho não seria possível. O Greenpeace Brasil é uma organização independente - não aceitamos recursos de empresas, governos ou partidos políticos. Por favor, faça uma doação hoje mesmo e nos ajude a ampliar nosso trabalho de pesquisa, monitoramento e denúncia de crimes ambientais. Clique abaixo e faça a diferença!