Expedição Costa Amazônica Viva
O veleiro Witness, do Greenpeace, embarcou em uma importante missão na costa amazônica para fomentar a produção de conhecimento científico em relação à dinâmica das águas costeiras e oceânicas da bacia da Foz do Amazonas, documentar a rica sociobiodiversidade da região e possíveis impactos da exploração de petróleo.
Por que o veleiro do Greenpeace esteve na costa amazônica?
A costa amazônica é lar de uma biodiversidade única – é lá que está o Grande Sistema de Recifes da Amazônia e o maior corredor contínuo de manguezais do planeta, entre muitas outras espécies encantadoras e comunidades que têm nas águas que banham seus territórios uma fonte de vida. Afinal, são elas que fornecem alimentação e renda para esses povos.
A indústria do petróleo, no entanto, está avançando sobre a região e quer torná-la uma nova fronteira de exploração. É na Bacia da Foz do Amazonas, por exemplo, que está o bloco FZA-M-59, que já foi alvo de petrolíferas estrangeiras e que, atualmente, pode ser explorado pela Petrobras. A estatal teve a licença ambiental negada por decisão técnica do Ibama em maio de 2023, mas recorreu e aguarda nova decisão.
É neste contexto que a Expedição Costa Amazônica Viva aconteceu. Navegamos pela costa do Amapá e do Pará levando pesquisadores do IEPA (Instituto de Pesquisa Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá) para coletar dados sobre as correntes marítimas da região.
E por que essas informações são importantes?
Na Bacia da Foz do Amazonas existem ecossistemas extremamente sensíveis do ponto de vista socioambiental, ainda pouco conhecidos pela ciência. Mesmo a dinâmica das correntes marinhas, que sofre influência direta da descarga de águas do rio Amazonas, é complexa e ainda precisa ser melhor estudada.
Em caso de derramamento, a maré carregaria o óleo para outras áreas. E não há consenso científico de para onde esse óleo se dispersaria, o que torna a exploração ainda mais arriscada.
Relatos de comunidades indígenas e pescadores da região dão conta de que diversos objetos caídos em alto-mar já chegaram à costa do Amapá, aos rios e mangues do município de Oiapoque.
Diante das incertezas, os cientistas do IEPA, parceiros do Greenpeace Brasil nesta iniciativa, estiveram a bordo veleiro Witness para realizar um estudo que trouxesse mais informações sobre o trajeto de eventuais vazamentos de petróleo e que colaborasse com as análises de possíveis impactos da exploração de petróleo para a biodiversidade da região.
Entenda como isso foi feito e quais foram os resultados da expedição, que aconteceu em março de 2024.
A Amazônia não tem mais tempo para contradições!
Nos ajude a pressionar o presidente Lula a declarar a Amazônia uma zona livre de petróleo e protegê-la dessa ameaça.
Monitoramento dos derivadores
Para entender melhor as movimentações das águas costeiras e oceânicas na bacia da Foz do Amazonas, os pesquisadores lançaram sete derivadores (equipamentos oceanográficos que emitem sinais de localização GPS) em diferentes pontos da Bacia da Foz do Amazonas para mapear as correntes de superfície no litoral do Amapá.
As “boias com GPS” foram monitoradas em tempo real. Cada derivador foi nomeado em homenagem a uma espécie da costa amazônica.
Acompanhe o peixe-boi marinho, o caranguejo-uçá, o guará-vermelho, as espécies de peixe pescada amarela e pargo, muito comuns na região, e a tartaruga marinha.
São eles: o guará-vermelho, o boto, peixe-boi-marinho, as espécies de peixe pescada amarela e pargo, muito comuns na região, a tartaruga marinha e o caranguejo-uçá.
Onde chegou essa maré?
Acompanhando o movimento dos derivadores, foi possível entender mais sobre os possíveis caminhos a serem percorridos pelo petróleo em caso de vazamento.
Fatores como velocidade dos ventos e dimensão do derramamento devem ser levados em conta, mas os derivadores mostraram que as correntes superficiais da Bacia da Foz do Amazonas chegam a outros países da Pan-Amazônia.
Dos sete derivadores, cinco atravessaram a fronteira com a Guiana Francesa. Um encalhou em Sinnamary, na própria Guiana Francesa, outro na costa do Parque Nacional Wia-Wia, no Suriname e na Ilha Legan, na Guiana. Outros dois seguiram derivando em águas internacionais.
Ainda que o óleo passe por processos de alterações físicas e químicas ao longo do tempo, os deslocamentos mostram a extensão que um derramamento poderia atingir.
O impacto para a vida marinha e para as comunidades costeiras seria enorme!
Já os dois derivadores lançados na Foz do Rio Amazonas chegaram à Apa do Arquipélago do Marajó e na Rebio do Lago Piratuba, indicando que se um eventual vazamento chegar em áreas rasas existe risco de o mesmo atingir as áreas litorâneas do Amapá.
Durante a expedição, também ouvimos o que pensam e sentem povos indígenas, quilombolas e pescadores sobre a questão do petróleo na região.
Todas as comunidades e povos que podem ser direta ou indiretamente impactados por grandes empreendimentos têm o direito à consulta prévia, livre e informada garantido pela Convenção 169 da OIT. Mas isso não vem acontecendo no estado do Amapá, segundo relatos.
Confira uma retrospectiva da expedição:
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