Enquanto governo tenta passar uma maquiagem verde para inglês ver na COP 26, dados comprovam o descontrole do desmatamento na Amazônia

Área recém queimada para expansão pecuária, em Trairão, Pará, em setembro de 2021. (© Victor Moriyama / Greenpeace)

Dados do sistema DETER-B, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje, apontam para uma área desmatada na Amazônia de 877 km². Foi o pior resultado para o mês de outubro da série histórica do sistema, que começou em 2016. Enquanto isso, o Brasil tenta limpar sua imagem durante a COP de Clima,  assinando declarações e assumindo compromissos vazios, já que a floresta continua entregue à destruição. 

“Enquanto o governo federal tenta vender o Brasil como potência verde na COP 26, a verdade é que o desmatamento em outubro bateu mais um recorde e vem sendo impulsionado pela política antiambiental do presidente, do ministério do meio ambiente com apoio de parte do congresso nacional”, declara Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace. 

Os alertas de desmatamento em outubro se concentraram nos estados do Pará 501 km² (57% do total),  Amazonas 116 km² (13% do total) e Mato Grosso 105 km² (12% do total).  Estimativas do Observatório do Clima apontam que a maior parte (46%) dos gases estufa emitidos pelo Brasil são provenientes do desmatamento. Os dados de 2020 mostram que o Brasil continua, desde 2010, a ampliar suas emissões. No ano passado, em plena pandemia, o aumento das emissões de gases de efeito estufa no Brasil foi de 9,5%; no restante do mundo, houve redução de cerca de 7%. 

Assinar ou endossar os diferentes planos e acordos não muda a realidade do chão da floresta, onde o desmatamento e as queimadas continuam fora de controle e a violência contra os povos indígenas e população tradicional só aumenta. De acordo com o último relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre Violência no Campo, em 2020 foram registrados 2.054 ocorrências de conflitos no campo no Brasil, o maior número da série histórica do levantamento, que começou em 1985.

“Enquanto o ministro do meio ambiente passeia na COP 26, exaltando que o futuro verde já começou no Brasil, tecendo elogio ao agronegócio brasileiro, o desmatamento continua sem parar na Amazônia e  em nenhum momento dessa COP o governo apresentou a verdade  que é justamente essa agropecuária “verde” a responsável direta por 73% das emissões de gases do efeito estufa no país e principal motor do desmatamento na amazônia e outros biomas no Brasil ”  conclui Rômulo.  

Manifestantes cobram ministro em Glasgow

Ativistas do Engajamundo e do Fridays For Future levam boneco de ministro do Meio Ambiente em manifestação na COP26 (foto: Daniela Montalto/Greenpeace)

Durante mobilização do Fridays For Future em Glasgow, nesta sexta-feira (12), último dia da COP26, um Joaquim Leite de papelão “passeou” pelo protesto com um pincel de tinta verde nas mãos, em alusão à maquiagem verde feita pelo ministro e o governo brasileiro durante o evento. Ativistas do Engajamundo e do Fridays For Future levantaram cartazes denunciando a realidade do país: desmatamento recorde, destruição em todos os biomas, desmonte sistemático das leis, de órgãos ambientais e violação dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.  

Na ausência do presidente do Brasil no evento, o ministro do meio ambiente foi enviado à COP para tentar limpar a barra do país, que assumiu alguns compromissos: assinou um acordo para proteger as florestas, com meta de acabar com o desmatamento ilegal até 2030; outro para a redução de emissão de metano, sem endereçar o metano da pecuária, que responde por 70% das emissões do gás no Brasil; e se comprometeu a se tornar carbono neutro até 2050 e cortar em 50% as emissões brasileiras até 2030. 

Esta última é mais uma promessa de um governo que avança com uma agenda antiambiental e traz falsas soluções, como é o caso do mercado de carbono, que se apoia no princípio do poluidor pagador, ou seja, quem tem dinheiro paga para continuar emitindo e não reduz as emissões, que é a real solução. 

“Além das falsas soluções propostas, como se vê ao longo desses três anos de implementação de uma política antiambiental, o governo Bolsonaro é incompatível com a proteção do meio ambiente, o que nos afasta significamente de atingir essas metas e compromissos de fato”, diz Thais Bannwart, porta-voz de políticas públicas do Greenpeace Brasil.

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