Em cinco anos, extensão dos ramais já equivale a quase duas rodovias BR-319, abrindo caminho para o desmatamento e grilagem de terras
A rede de ramais localizada na área de influência da BR-319 teve um incremento de 1.593 quilômetros (km) nos últimos cinco anos, segundo mostra mapeamento feito pelo Observatório BR-319 (OBR-319). A área equivale à abertura de quase duas rodovias BR-319 no período.
“Esse trabalho foi desenvolvido em um contexto de avanço do processo de licenciamento das obras no Trecho do Meio da BR-319 e de muita expectativa pela finalização destas intervenções, o que aumentou a especulação fundiária na região e intensificou atividades relacionadas à grilagem de terras, como a abertura de ramais e desmatamento em florestas públicas”, explica a coordenadora da nota técnica do OBR-319 e pesquisadora do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Paula Guarido.
- Leia a nota técnica – “Abertura e expansão de ramais em quatro municípios sob influência da rodovia BR-319”
Os dados utilizados no mapeamento do OBR-319 foram gerados a partir de imagens de satélite e banco de dados do governo, e resultou na identificação de uma rede de ramais que, somados, perfazem uma extensão total de 4.752 km em Canutama, Humaitá, Manicoré e Tapauá – os quatro municípios analisados. O ano de maior expansão de ramais nestes municípios foi 2020, com aumento de 14% e um acréscimo de 560 km à rede.
“Para o mapeamento escolhemos analisar a dinâmica de abertura e expansão de ramais nestes quatro municípios porque eles estão localizados na região com os maiores valores de desmatamento do estado do Amazonas. Além disso, são municípios bastante relacionados à BR-319 e, também, têm batido recordes de desmatamento nos últimos anos, inclusive Tapauá, que no início dos monitoramentos do Observatório BR-319 mal aparecia nas análises mensais”, explica Paula Guarido.
Entre as categorias fundiárias analisadas, Imóvel Privado foi a que concentrou a maior parte dos ramais mapeados em Canutama, Humaitá e Tapauá. Em Manicoré, os ramais estavam em maior número nas Terras Indígenas.
Dinâmica relacionada à BR-319 e pressão em Áreas Protegidas
De acordo com o levantamento, 62% dos ramais identificados nos quatro municípios estão na área sob influência direta da BR-319, totalizando 2.934 km de ramais.
Um fator que preocupa é que, somente em 2021, 55% dos ramais mapeados, nestes municípios, estavam dentro de florestas públicas não destinadas (2.609 km), sendo 40% pertencente a Canutama (1.048 km), 32% a Manicoré (845 km), 25% a Humaitá (647 km) e 3% a Tapauá (70 km), o que indica o acirramento da pressão sobre áreas protegidas.
Em Canutama, é possível notar uma extensa rede de ramais próxima ao Parque Nacional (Parna) Mapinguari e à Terra Indígena (TI) Jacareúba/Katawixi, que possui 96% de seu território sobreposto a esse Parna e está sem proteção legal desde dezembro de 2021, devido ao fim da vigência e não renovação de sua Portaria de Restrição de Uso. Da mesma forma, em Humaitá, uma extensa rede de ramais marca a região do distrito de Realidade, aumentando a pressão sobre a Floresta Nacional (Flona) de Balata-Tufari.
“O resultado desse estudo aponta que, se nada for feito para conter a expansão de atividades ilegais na região da BR-319, essa dinâmica de ocupação pode se espalhar ao longo de toda a rodovia, conectando o Arco do Desmatamento à região mais conservada da Amazônia brasileira, principalmente diante das ações de repavimentação do Trecho do Meio da BR-319”, analisa Paula Guarido.
*Com informações de Observatório BR-319
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