No documento recém lançado, a organização denuncia a quebra de compromissos da JBS com a exclusão de desmatadores em sua cadeia de produção

Gado criado dentro do Parque Estadual Serra de Ricardo Franco (MT), onde a atividade não é permitida, chega ao mercado do mundo todo através de vendas indiretas. (© Ednilson Aguiar)

O Greenpeace Internacional lançou hoje (5) relatório que descreve o impacto do modelo atual de produção de proteína animal para o agravamento da emergência climática e o peso da responsabilidade do governo brasileiro e de gigantes do setor, a começar pela  JBS, no agravamento de conflitos sociais e de epidemias como a que estamos vivenciando nos últimos meses no mundo inteiro. 

O relatório faz parte de uma campanha do Greenpeace Reino Unido contra a Tesco, exigindo da maior rede de supermercados do país que pare de levar a seus consumidores carne e laticínios de empresas envolvidas na destruição da Amazônia e Cerrado e reduza drasticamente a quantidade de carne que vende até 2025. 

O objetivo da campanha é pressionar o mercado por mudanças nos padrões de produção e oferta de produtos associados ao desmatamento e conflitos, para mitigar o impacto desta cadeia sobre ambientes naturais e proteger as pessoas, a vida selvagem e o clima. 

O relatório “How JBS is still slaughtering the Amazon” (Como a JBS continua devorando a Amazônia), mostra como o atraso inaceitável da maior empresa de proteína animal do mundo em honrar sua promessa de fechar as portas para o desmatamento, feita há mais de uma década, tem trazido impactos irreversíveis no chão da floresta. 

O relatório também descreve a diminuição da transparência da JBS em relação à origem de seus fornecedores. A companhia tem retrocedido de forma sistemática na oferta de informações sobre seus fornecedores diretos nos canais próprios de comunicação institucional. 

A contagem regressiva já começou

A produção de carne em escala industrial, que inclui a abertura de terras para a produção de carne bovina e o cultivo de soja como ração animal, é o maior impulsionador do desmatamento em todo o planeta.

A JBS é a maior produtora industrial de carne do mundo, controlada por uma das famílias envolvidas em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, e determinante para o futuro da Amazônia. Uma companhia grande demais para se dar ao luxo de falhar ou adiar compromissos com a sociedade. 

Onze anos depois que prometeu controlar TODOS os seus fornecedores e eliminar o desmatamento de sua cadeia de produção, a JBS tem sido repetidamente ligada a fornecedores envolvidos em desmatamento ilegal na região e que operam ilegalmente em terras indígenas protegidas. 

Em maio, o Greenpeace Brasil denunciou o envolvimento indireto da Marfrig, Frigol e JBS com lavagem de gado criado na Terra Indígena mais desmatada de 2019, a Ituna-Itatá. Dias depois, mostramos como JBS, Marfrig e Minerva se abasteceram indiretamente de gado criado de modo irregular no Parque Serra Ricardo Franco (MT), inclusive exportando carne para vários outros países, incluindo alguns da Europa, e, em Julho, contamos como um velho conhecido do desmatamento no Pará vende gado para outros pecuaristas e para grandes frigoríficos, dentre os quais a JBS

Uma nova investigação do Bureau of Investigative Journalism e a Repórter Brasil, publicada na semana passada, também revelou, pela primeira vez, que a JBS não está apenas fechando os olhos às violações de seus fornecedores, mas está diretamente implicada no transporte de gado originado de região com desmatamento para um de seus próprios fornecedores diretos.

Diante da emergência climática que estamos vivendo, a JBS, assim como todo o setor industrial da carne, tem uma enorme responsabilidade, além dos recursos necessários para fazer a coisa certa: no mínimo, monitorar sua cadeia de produção DO COMEÇO AO FIM e suspender fornecedores que não puderem provar que estão livres de desmatamento e violações aos direitos humanos, trabalho escravo e invasão de terras indígenas ou unidades de conservação. 

Não é apenas a JBS que tem que responder às denúncias, mas todos os participantes do setor industrial de carne cujo modelo de negócios ajuda a direcionar o gado para a floresta amazônica e a soja para o Cerrado. 

Isso sem falar na tremenda responsabilidade do governo Bolsonaro, que tem promovido o desmantelamento socioambiental o que é um prato cheio para as empresas reduzirem o apetite e a pressa para cumprir o que já haviam prometido. 

É urgente que compradores de commodities associadas ao desmatamento – empresas de fast food, supermercados – cumpram seus compromissos de rastrear, de ponta a ponta, a cadeia de fornecedores como condição comercial para a continuidade de contratos, ao mesmo tempo em que devem ampliar drasticamente a oferta de produtos à base de plantas.

Tanta demora e frustração no cumprimento de compromissos, além da emergência climática atual, somada ao desmatamento fora de controle, levaram  investidores e mercados do mundo todo a se manifestar. No final de julho o banco europeu de investimentos Nordea Asset anunciou que irá retirar os investimentos na JBS, de R$ 240 milhões em ações. 

A sociedade exige ação 

Neste momento, o fogo deliberadamente usado para expandir a linha do desmatamento para produção pecuária e de grãos está consumindo a floresta. Em junho, a Amazônia teve o maior número de focos de queimadas e incêndios florestais desde 2007,enquanto o desmatamento na região nos meses de maio, junho e julho também já são maiores em comparação com o mesmo período do ano passado. 

Foco de calor direto em floresta, próximo a área recém desmatada, com alerta Deter, em Alta Floresta (MT). (© Christian Braga / Greenpeace)

E a alta continua. Mesmo com o recente Decreto 10.424, de 15 de julho de 2020, estabelecendo a proibição de uso do fogo nos Biomas Amazônia e Pantanal por 120 dias, 15 dias após a publicação do Decreto, a Amazônia registrou 1.007 focos de calor em um único dia, sendo este o pior índice desde 01 de janeiro de 2020, evidenciando que a Moratória do governo é medida totalmente insuficiente. 

Esses incêndios liberam milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, acelerando as mudanças climáticas. Eles também matam a vida selvagem, causam dificuldades respiratórias e problemas de saúde a longo prazo para milhões de brasileiros e ameaçam a existência de povos indígenas. Além disso, quanto mais floresta se perde, maior o risco de futuras pandemias. 

Não podemos mais pagar o preço pela irresponsabilidade e atraso no cumprimento destes compromissos. O modelo de negócios da JBS simplesmente não é compatível com a emergência ambiental que estamos enfrentando como humanidade. Se quisermos ter uma chance de futuro, isso tem que mudar. E pode mudar! Basta vontade política.

Precisamos colocar a floresta na frente dos bois.

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