Fazer o dinheiro chegar de modo rápido e simples na mão de quem precisa é o objetivo da iniciativa – Greenpeace Brasil é um dos investidores
A rede de solidariedade para apoiar o povo gaúcho ganhou um novo capítulo no início de agosto. Um projeto pioneiro de crédito passou a auxiliar a retomada da agricultura familiar de base ecológica, gravemente atingida pela maior tragédia da história do Rio Grande do Sul. Três meses depois das enchentes, os primeiros recursos chegaram às famílias agricultoras e a expectativa é ofertar no total 10 milhões de reais.
“Esse é um passo muito importante para apoiar as famílias agricultoras do Rio Grande do Sul a recomeçarem suas vidas. Sabemos que, além da assistência governamental, as doações foram fundamentais para assistir a população mais necessitada durante a emergência. Agora, o Greenpeace Brasil entra como investidor nesta iniciativa porque queremos ajudar a financiar o futuro que acreditamos: agroecológico, organizado em cooperativas, solidário e justo”, afirma Carolina Pasquali, Diretora Executiva do Greenpeace Brasil.
A operação permite o direcionamento de fundos de investimentos para famílias da zona rural reconstruírem suas produções agroecológicas, reunindo instituições interessadas em destinar recursos para quem realmente precisa. Mais de 1,2 mil famílias serão contempladas, em 120 cidades, com créditos de até R$10 mil por núcleo familiar, unindo crédito e assistência técnica para viabilizar soluções.
As famílias beneficiadas começaram a acessar o dinheiro neste mês, destinando para a compra de produtos como máquinas, adubos e sementes.
Financiar a solução e não a destruição
A iniciativa foi idealizada pelo Grupo Gaia em parceria com o Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com apoio do Greenpeace Brasil, do Pacto Contra a Fome e do Instituto Cultural Padre Josino.
Para João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia, o mercado de capitais precisa de uma mudança radical. “Não é possível que continuem buscando o lucro a qualquer preço, ignorando os impactos sociais e ambientais. Essa operação é um exemplo de como usar as ferramentas do mercado financeiro para que nosso mundo continue habitável.”
Diante de eventos climáticos cada vez mais fortes e frequentes, esta é uma chance do mercado de capitais direcionar recursos a práticas, ações e modelos sustentáveis, promovendo o que realmente importa: comida no prato, cuidado com o meio ambiente e bem-estar social. Contrapondo um cenário, identificado pelo Greenpeace, no qual bancos estão financiando grandes produtores rurais envolvidos com crimes e irregularidades socioambientais que agravam as mudanças no clima.
Em abril, o Greenpeace Brasil revelou financiamentos bancários a milhares de imóveis rurais com evidências de desmatamento ilegal, invasões de terras indígenas e violações de direitos humanos. Todos os casos identificados estão na Amazônia, após uma investigação de quase um ano que resultou no relatório “Bancando a Extinção”. No mês de junho, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou que oito bancos encerrem os financiamentos de crédito rural, antes do término previsto nos contratos.
Saiba mais sobre a iniciativa:
O que é?
A iniciativa usa o investimento privado como uma ferramenta de reconstrução e fortalecimento da agricultura familiar de base ecológica no Rio Grande do Sul, auxiliando na revitalização de produções impactadas pelas enchentes. Segundo o governo gaúcho, mais de 206 mil propriedades agrícolas foram afetadas – dos 497 municípios gaúchos, 340 anunciaram situação de emergência e 78 decretaram calamidade pública, maior parte no Vale do Taquari e Região Metropolitana de Porto Alegre.
Quem faz parte?
A iniciativa é do Grupo Gaia, que atua para tornar o mercado financeiro mais humano, em parceria com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Instituto Cultural Padre Josino, com o apoio do Greenpeace Brasil, do Pacto Contra a Fome, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) e Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Como funciona?
Investidores optam por investir no Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) voltado à reconstrução do Rio Grande do Sul: CRA RS. Os agricultores beneficiados terão 10 anos para pagar o empréstimo, com taxa bem baixa (3% ao ano) e só começam a pagar no quarto ano, após três anos de carência – bastante inferiores às práticas de mercado. Os investidores receberão seus recursos de volta no mesmo período e com a mesma rentabilidade, já que todo o apoio para a criação do fundo foi feito pro bono. É uma condição que busca priorizar o impacto na ponta e não o retorno do investimento.
Quem será beneficiado?
A iniciativa estrutura uma oferta pública de CRA no valor de R$ 10 milhões de reais. Esses recursos serão canalizados de forma simplificada através de três cooperativas gaúchas CooperBio; Origem Camponesa e Coptil, que representam mais de 1.200 famílias e que serão responsáveis, em parceria com o Instituto Padre Josimo, pelo mapeamento das necessidades de agricultores e agricultoras, pela aquisição e distribuição dos materiais e insumos necessários para a reconstrução e retomada das atividades.
Posso ser um investidor?
A iniciativa é dividida em duas fases: a fase I beneficia famílias do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e permite apenas o investimento de empresas e organizações, como o Greenpeace Brasil que, pela primeira vez, está direcionando uma parte de suas reservas para algo do gênero; já a fase II atenderá famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e será aberta para investimento de pessoas físicas, com aporte mínimo de R$1.000.
Qual é o papel do Greenpeace Brasil?
Além de apoiar a iniciativa, o Greenpeace Brasil entra como investidor, usando parte de seu fundo de reserva para ajudar na reconstrução da agricultura familiar de base ecológica no Rio Grande do Sul. Isso quer dizer que estamos destinando recursos para investir no mundo que defendemos: agroecológico, solidário e justo. Em tempos de emergência climática, a produção de alimentos saudáveis é uma preocupação constante e a participação de toda a sociedade é fundamental. Para isso, garantir um fluxo relevante de recursos, públicos e privados, se faz essencial.
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