Fomos a campo seguindo o rastro de fumaça que escureceu o Brasil e está deixando para trás a Amazônia em cinzas

Rosana Villar sobrevoou as áreas queimadas e focos de incêndio na cidade de Nova Bandeirantes, Mato Grosso

Na semana passada estive com a equipe do Greenpeace em uma expedição para checar pontos de queimadas na Amazônia. Não era minha primeira expedição deste tipo, já havia ido a campo em 2016 e 2018 para documentar o mesmo problema. Mas em nenhuma delas sofremos tanto com o que se tornou a marca registrada das queimadas deste ano: a fumaça.

A pluma de fumaça que chegou à região sul do Brasil, acendendo a luz de alerta em todo o mundo, é apenas uma pequena parte do que dominou o céu na região norte. No domingo (25), Porto Velho (RO) amanheceu alaranjada, enquanto o sol vermelho como fogo subia no horizonte. “Hoje está terrível, mas já faz um mês que eu não vejo a cor do céu”, disse-me uma jornalista local.

O sobrevoo também não foi dos mais fáceis, a fumaça dificulta a identificação visual dos pontos no chão e a temperatura dentro do avião era insuportável.

Os números não mentem. Segundo dados da Nasa, as queimadas deste ano são as mais intensas desde 2010. Uma tragédia esperada, pois o fogo está intimamente ligado ao processo de desmatamento da floresta e já vínhamos percebendo aumento no número de alertas de desmatamento.

O que acontece hoje é resultado do ataque do governo Bolsonaro à Amazônia. Ao negar a veracidade dos dados fornecidos pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que desde o início do ano vinham confirmando a tendência de alta do desmatamento, o governo deliberadamente permitiu que as queimadas criminosas varressem o país.

Os dados de alertas de desmatamento gerados pelo Deter servem justamente para que os órgãos de fiscalização possam agir em tempo real, para evitar que o desmatamento aconteça. Mas há pouco a se fazer depois que a desgraça acontece. Multas não são pagas, desmatadores anistiados de tempos em tempos, a terra perde sua função original e aí já era.

Como recuperar uma floresta que levou mais de 400 anos para crescer? Não recupera. Por isso, por mais vezes que eu já tenha visto o problema de perto, nunca é fácil ver com os próprios olhos a imensidão de galhos cinzas pelo chão e saber que aquilo ali era nossa história.

O fogo na Amazônia não pode ser combatido apenas com água. É preciso que, antes, o governo brasileiro pare de desmantelar a estrutura de controle e fiscalização ambiental e passe a dar a devida prioridade à proteção da Amazônia.

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