Em seu novo vídeo, o compositor Fábio Caramuru promove o encontro do piano com o raro uirapuru para nos sensibilizar para a valorização das espécies também como nosso patrimônio cultural e artístico

Você lembra da última vez que adentrou uma mata ou floresta? Em tempos de quarentena, isso pode parecer distante, mas consegue se recordar dos sons que percebia? O vento nas folhas dançantes das árvores, alguma fonte de água correndo perto, o zunido de insetos, o canto dos pássaros. Não à toa, os sons da natureza predominam nos aplicativos para relaxamento. Agora, se transporte para o meio da Floresta Amazônia. Para Fábio Caramuru, é como assistir a uma orquestra completa. A natureza é novamente fonte de inspiração para seu novo trabalho em vídeo, “Amazônia Uirapuru, uma lenda da floresta”, um diálogo entre seu piano e um dos pássaros mais raros da nossa fauna.

O vídeo é parte da série EcoMúsica, e foi inteiramente produzido durante o período de isolamento social. Caramuru faz uma viagem na imaginação, transportando-se da cidade para as profundezas da Amazônia brasileira, atraído pelo misterioso canto do uirapuru, um pássaro lendário raramente visto.

A música ao piano, de sua autoria e interpretação, foi criada em sintonia com o canto da ave, e desenvolve-se em meio a um roteiro onírico, passando por rios e florestas densas e espetaculares da Amazônia. Música e artista vão se ambientando progressivamente, embalados pelo canto hipnotizante do uirapuru.

Conta a lenda indígena que um jovem guerreiro da floresta amazônica chamado Quaraçá, sempre acompanhado de sua flauta de bambu, se apaixonou por Anahí, a esposa do chefe da tribo. Mesmo diante de um amor impossível, ele decidiu se aventurar. Pediu ajuda ao deus Tupã, que o transformou em um pássaro de canto raro e belo. Assim, ele vive entre as árvores tentando seduzir sua amada.

Quem é Fábio Caramuru

Ex-arquiteto, compositor, pianista e produtor musical paulistano, Fábio Caramuru foi aluno da pianista franco-brasileira Magda Tagliaferro. Passou por diversas orquestras como a Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) e a Filarmônica de Minas Gerais, entre outras. Ao partir para a experimentação autoral, inspirou-se no mestre Tom Jobim para criar releituras e imergir em um universo sem volta. Desde 2003, Fábio vêm realizando projetos autorais e produções como CD Moods Reflections Moods

Fábio Caramuru em “Amazônia Uirapuru”- Foto: Otávio Dias

A partir de 2013, Fábio lançou o projeto EcoMúsica unindo, de forma inventiva e instigante, música e sons da natureza, com uma importante missão de alerta para a preservação do meio ambiente. O projeto já produziu os álbuns EcoMúsica Conversas de um piano com a fauna brasileira (2015) e EcoMúsica Aves (2018), os vídeos Cigarra, Tico-tico, Bem-te-vi, Harpia, Araras  Hidorigamo e Quero-quero (disponíveis no YouTube), e apresentações no Auditório Ibirapuera, SESC, SESI, CCBB, Jardim Botânico do Rio de Janeiro e Sala São Paulo, além de turnês no Japão e no Canadá.

Na conversa que tivemos com ele, Fábio conta que essa percepção aguçada é influência do pai, também pianista e amante da natureza. “A natureza alerta os intérpretes e as audiências de que é música. Já está tudo presente no espaço, basta observar e aguçar a percepção. Você pode imaginar a quantidade de aves, de mamíferos e de insetos que existem por aí? Cada um deles tem seu jeito único”, diz Fábio. Ele afirma ser capaz de perceber a variação do canto do sabiá na cidade de São Paulo quando chega o momento de acasalamento na primavera. “No próprio canto deles existe uma variedade”, observa. 

Ativismo pela arte

Para um músico conectar seu trabalho com a natureza, antes de tudo, Fábio acredita que é necessário ter empatia com o meio ambiente para conseguir gerar essa imersão ao público. Ao nos convidar a encontrar com o uirapuru na Amazônia, Fábio nos mostra que o valor da biodiversidade está muito além da questão econômica, ela também é um patrimônio cultural, artístico e essencial para a nossa evolução como indivíduos e sociedade.

“Quando o uirapuru começa a cantar, todos os outros pássaros ficam em silêncio.” Foto: Hector Bottai 

Hoje não só o uirapuru, mas cerca de um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção. Muitas delas ainda são totalmente desconhecidas e estão em risco devido ao desmatamento, ao tráfico ilegal de animais e às mudanças climáticas. Na Amazônia, em apenas quatro anos, foram descobertas 600 novas espécies de plantas e animais, e infelizmente, muitas delas foram identificadas quando seu habitat e sua existência já estão em grave risco. Quantas delas mais, como o uirapuru, poderiam nos inspirar a criar músicas, poesias, histórias, e talvez nem tenhamos a oportunidade de conhecer? Perder nossa biodiversidade é tornar nossa cultura mais pobre e nosso espírito mais triste. “Quero revelar o positivo, o belo, para alertar as pessoas o quanto é bom ter esse positivo”, diz Fabio.

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