Para limpar sua imagem lá fora devido aos estragos em 30 meses de mandato, governo Bolsonaro terá que fazer mais do que substituir Salles por Joaquim Álvaro Pereira Leite

Há um ditado popular que diz: “Para grandes males, grandes remédios”, que mostra que precisamos nos empenhar muito para resolver problemas sérios. Quando se trata da saída do ministro de Meio Ambiente Ricardo Salles do governo, é o caso de dizermos: “Para grandes Salles, grandes remédios”. A política antiambiental do governo Bolsonaro é uma doença que não será eliminada apenas com a saída de Salles. 

No entanto, o governo Bolsonaro pode querer mostrar lá fora que a saída de Salles é suficiente. Nos últimos meses, investidores, empresas, mercados e lideranças internacionais, como o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, têm sinalizado sua preocupação com o aumento do desmatamento na Amazônia, o desmonte dos órgãos de proteção ambiental e a ameaça de direitos de povos indígenas e tradicionais. Afinal, quem quer ser associado à destruição? Mas a realidade é outra: para não perder ainda mais investimentos, recursos e credibilidade, Bolsonaro terá que fazer muito mais do que substituir Salles no intuito de provar que está consertando os estragos provocados em 30 meses de mandato

Não podemos nos enganar: a saída de Ricardo Salles, o ministro da boiada, não aconteceu devido à pressão internacional, à sua imagem arranhada no Brasil e no mundo, muito menos por conta de seus ataques ao meio ambiente. Salles entregou justamente o que o governo Bolsonaro pediu. Só caiu porque os inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) contra ele estavam ficando caros demais. Sem contar a cortina de fumaça que se formou em torno de sua saída: não foi coincidência o anúncio ter sido feito no mesmo dia em que o governo foi denunciado por irregularidades e superfaturamento na compra da Covaxin, vacina indiana contra a Covid-19.

É tudo farinha do mesmo Salles

Para quem está se perguntando se o novo ministro de Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, conseguirá reverter o rumo dos retrocessos socioambientais, infelizmente o cenário não nos permite muito otimismo. Leite foi conselheiro de uma entidade ruralista (SRB – Sociedade Rural Brasileira) por 23 anos e sua família, composta por fazendeiros de café, tenta abocanhar um pedaço da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo. 

O principal motivo da descrença, no entanto, é claro: Joaquim Álvaro Pereira Leite se torna ministro de um presidente da República que já provou, em diversas ocasiões, não estar preocupado com a conservação da floresta e seus povos — e também não gosta de ser contrariado por seus ministros. Durante a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro prometeu acabar com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), subordinando-o ao Ministério da Agricultura. Só não o fez porque decidiu eliminar o MMA por dentro. Como já mostramos aqui, neste governo, é tudo farinha do mesmo Salles.

Ainda assim, vale o novo ministro de Meio Ambiente passar por um teste de fidelidade: o Observatório do Clima publicou 15 medidas que Leite deveria tomar para mostrar que é diferente de Ricardo Salles (leia aqui). 

Para Thais Bannwart, porta-voz do Greenpeace Brasil, não há expectativa de uma boa gestão do meio ambiente no governo Bolsonaro. “Já está mais do que provado que este governo é incompatível com a defesa de um meio ambiente saudável e equilibrado. É preciso lutar pelo Brasil que queremos: um país que valoriza a floresta em pé, com sua enorme biodiversidade, o conhecimento das populações tradicionais e a produção de comida de verdade”.

Sai Ricardo Salles mas fica Arthur Lira

Ricardo Salles caiu, mas um dos principais aliados do governo Bolsonaro na postura de desrespeito ao meio ambiente permanece: Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, segue firme abrindo a porteira da destruição. No mês passado, colocou em pauta o PL do (não)Licenciamento, que foi aprovado e acabou com o principal instrumento de controle ambiental do país. Agora, Lira está determinado a continuar passando o trator por cima das florestas e seus povos, aprovando outros projetos perigosos, como o PL 490, o PL da Grilagem e o Pacote do Veneno

Se você também acha que a política de passar boiadas gera prejuízos à população, às florestas, à economia e ao clima global e precisa ser interrompida, mobilize-se. Pressione o governo, converse com seus amigos, se posicione. É hora de frearmos os retrocessos ambientais. E lembre-se: “para grandes males, grandes remédios”. 

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