A construção de grandes hidrelétricas na Amazônia tem sido apresentada como indispensável para garantir o crescimento do país. No entanto, exemplos recentes de instalação dessas usinas na maior floresta tropical do mundo estão mostrando que, na realidade, elas não passam de uma falsa solução, e estão longe de serem limpas ou sustentáveis.

Quais são os impactos das hidrelétricas na Amazônia?

Atropelamento de direitos humanos, impactos profundos na biodiversidade e nas comunidades tradicionais, violação de leis e acordos internacionais e denúncias de corrupção generalizada (como se viu a partir de depoimentos da Operação Lava Jato sobre a usina de Belo Monte, no Rio Xingu): esses são alguns exemplos que têm caracterizado a construção de hidrelétricas na Amazônia. 

Além de todos esses problemas, as usinas instaladas em áreas de floresta tropical emitem quantidades consideráveis ​​de gases de efeito estufa (dióxido de carbono e metano) como resultado da degradação da vegetação alagada e do solo. Com todos esses impactos na balança, é impossível classificar as hidrelétricas como energia limpa.

Em busca de verdadeiras soluções, o Greenpeace Brasil lançou, em abril de 2016, o relatório “Hidrelétricas na Amazônia: um mau negócio para o Brasil e para o mundo”, que apresenta cenários de geração de eletricidade utilizando fontes renováveis mais limpas e menos prejudiciais, como a combinação das energias eólica, solar e biomassa.

Esses cenários mostram que, aliando investimento nessas fontes e medidas de eficiência energética, é possível garantir a energia que o Brasil precisa sem destruir a Amazônia.

Tomando como exemplo a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, com capacidade instalada de 8.040 MW e uma média de energia firme esperada de 4.012 MW, é plausível considerar que uma combinação de novas fontes renováveis poderia gerar a mesma quantidade de energia firme (4.012 MW) em um período equivalente, e com um investimento comparável, caso o atual nível de contratação dessas fontes por meio de leilões aumentasse em 50%.

Leia aqui o relatório completo.

Cenários de fontes renováveis para substituir o projeto da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós

Comnação de usinas GarantiaFísica (MW médios) Período total de contratação + instalação (anos) Investimento (R$ bilhões)
Fotovoltaicas + eólicas 4.425 8 50,51
Fotovoltaicas + eólicas + biomassa 4.093 7 45,23
Eólicas + biomassa 4.185 8 35,61

São Luiz do Tapajós

Prevista para ser construída no rio Tapajós, em uma área que abrange o território ancestral do povo indígena Munduruku, ela será a maior usina prevista para a Amazônia depois de Belo Monte, no Xingu. 

Se construída, alagará 376 km² de floresta em uma região classificada por especialistas como de biodiversidade excepcional até para padrões amazônicos. “A aposta em novas hidrelétricas na Amazônia tem causado enorme destruição e se mostrado um erro desastroso para o país e para o mundo”, afirma Danicley de Aguiar, porta-voz dodo Greenpeace Brasil.

Empresas internacionais de olho na Amazônia

 Ativistas do Greenpeace da Alemanha estiveram na sede da Siemens, em Munique, durante a reunião anual da empresa para informar os executivos e trabalhadores a respeito dos potenciais problemas envolvidos na construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. 

A Siemens é uma das empresas que poderá participar do projeto fornecendo tecnologia para a geração e transmissão de energia. Associada à Voith Hydro, a empresa já esteve envolvida em outros projetos danosos, como o de Belo Monte, marcado por violações aos direitos humanos e cercado por escândalos de corrupção.

 “A Siemens está próxima de se envolver em um novo projeto que vai causar ainda mais destruição no coração da Amazônia. Em vez de contribuir com isso, tanto ela como as outras empresas interessadas deveriam ajudar o Brasil a desenvolver um futuro de energia verdadeiramente limpa”, afirma Aguiar. “Já o governo brasileiro deve cancelar seus planos para novas hidrelétricas na Amazônia e investir nas energias verdadeiramente limpas”, completa ele.

Ativistas do Greenpeace na sede da Siemens, na Alemanha, para informar sobre os riscos da construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.

Ativistas do Greenpeace estiveram na sede da Siemens, na Alemanha, para informar sobre os riscos da construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós.

Hidrelétricas na Amazônia: saiba mais sobre o tema

Após conferir esse panorama sobre as hidrelétricas na Amazônia, vale a pena se aprofundar no tema para entender melhor o cenário e os impactos que esse tipo de projeto pode causar. Dessa forma, ficará mais fácil compreender por que essa é uma grande ameaça para a região, para o país e para o mundo.

Quantas hidrelétricas têm na Amazônia?

A bacia amazônica apresenta um grande número de hidrelétricas, tanto na Amazônia Andina quanto na Amazônia Legal. Quatro dos grandes empreendimentos hidrelétricos do Brasil estão justamente na região da Amazônia. São eles:

  • Usina Hidrelétrica de Belo Monte: capacidade de produção de 11233 MW;
  • Usina Hidrelétrica do Tucuruí: capacidade de produção de 8370 MW;
  • Usina Hidrelétrica do Jirau: capacidade de produção de 3750 MW;
  • Usina Hidrelétrica de Santo Antônio: capacidade de produção de 3568 MW.

Apesar disso, vale saber que essas hidrelétricas, grandes ou pequenas, não focam em abastecer comunidades isoladas. As usinas hidrelétricas da Amazônia geram 26% de toda a energia consumida no Brasil, mas 1 milhão de pessoas da Amazônia Legal dependem de geradores e de termelétricas.

Além disso, 3 milhões de pessoas não fazem parte do Sistema Interligado Nacional (SIN). Isso faz com que muitas comunidades não tenham abastecimento elétrico, mesmo que algumas delas fiquem próximas às usinas de geração.

Mesmo assim, o número de hidrelétricas na Amazônia pode continuar aumentando. Em 2023, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a Eletrobras e a Eletronorte a realizarem estudos de viabilidade técnica das usinas de Cachoeira do Caí, Cachoeira dos Patos e Jamanxim. O projeto prevê a construção dessas usinas na Bacia do Rio Tapajós.

Por que as hidrelétricas causam impactos ambientais?

Uma das maiores preocupações quanto à presença e construção de hidrelétricas na Amazônia tem a ver com os impactos ambientais que elas podem causar na região e sua biodiversidade. A construção dessas usinas, muitas vezes, gera desvios no curso dos rios. Também é comum ocorrer o represamento de parte deles.

Como essa é uma região que abriga uma fauna e flora diversas, as mudanças no percurso da água causam sérios impactos. As espécies migratórias de peixes são especialmente afetadas.

Como os rios se tornam mais compartimentados pela presença das usinas, os peixes têm dificuldades em alcançar a piracema para a reprodução. Na prática, isso coloca cada vez mais espécies em risco de extinção.

Um estudo publicado na Conservation Science and Practice fala exatamente sobre isso. A pesquisa demonstra que os rios da bacia amazônica criam corredores migratórios insubstituíveis e que são usados por peixes, tartarugas, golfinhos e outras espécies em diferentes estágios de desenvolvimento.

Mudanças na forma como os rios correm e como se conectam afeta toda essa dinâmica. Com isso, as espécies que dependem desses corredores perdem os locais adequados para sua reprodução.

Também ocorrem efeitos nos ciclos de cheias e vazantes. Considerando a biodiversidade da região, mudanças tão intensas afetam diretamente o equilíbrio do ambiente.

Quais são as consequências sociais das usinas hidrelétricas na Amazônia?

Além do ponto de vista ambiental, a construção de hidrelétricas na Amazônia e a operação dessas usinas têm efeitos sociais. Isso ocorre, principalmente, sobre as populações ribeirinhas que vivem no entorno das usinas e nas populações indígenas. Inclusive, muitas usinas interferem em áreas demarcadas, ainda que não sejam construídas nelas.

Nesse contexto, um dos impactos sociais é a diminuição da disponibilidade de peixes para a pesca. Com menos interconexão entre as águas amazônicas e menos espécies migratórias, a população de peixes e outras espécies é diretamente impactada.

Isso é um problema por dois motivos principais. O primeiro é que muitas populações da região dependem da pesca como atividade para gerar renda. Sem peixes, as populações sofrem um declínio da renda e têm a própria subsistência ameaçada.

Além disso, os peixes costumam ser fontes de alimento para diversas populações, especialmente de indígenas. Nesse cenário, as hidrelétricas na Amazônia podem contribuir para a perda de qualidade nutricional de populações inteiras.

Ainda, há impactos nas culturas e tradições, em especial as indígenas. Diversos povos têm rituais ligados à pescaria, por exemplo. Com a falta de peixes, o compartilhamento desses momentos se torna mais difícil.

Em algumas áreas, outro problema é relacionado aos prejuízos para o turismo. Em áreas que obtêm renda a partir do ecoturismo, com a observação aquática, por exemplo, os impactos sobre os peixes interferem nos resultados.

Como as hidrelétricas na Amazônia podem contribuir para a vulnerabilidade climática?

Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, não é apenas o desmatamento na Amazônia que contribui para a vulnerabilidade climática. A presença cada vez mais forte de hidrelétricas na região também tem um papel ativo nessa questão.

O primeiro ponto é que a decomposição da vegetação alagada contribui para a geração de gases do efeito estufa, como você viu. Eles estão entre os principais elementos que afetam as condições climáticas de modo global.

A vulnerabilidade climática também é afetada porque os desvios e o represamento de rios podem afetar diretamente os regimes de chuvas. Isso pode levar não apenas a quadros mais severos de seca na Amazônia como em outras áreas da região e do país.

Além disso, as hidrelétricas podem ajudar no acúmulo de materiais orgânicos em seu entorno. Com períodos mais rígidos de estiagem, isso pode levar a um aumento no risco de incêndios — sendo, inclusive, de difícil controle.

Quais são as alternativas mais sustentáveis para a Amazônia?

Embora, muitas vezes, as hidrelétricas sejam divulgadas como parte de uma matriz limpa de energia, na prática, não é isso que acontece. Como você viu até aqui, elas causam impactos ambientais, sociais e climáticos.

Ao pensar em opções sustentáveis vale considerar recorrer a fontes renováveis, como a geração de energia elétrica via biomassa ou solar. Com a energia solar, em especial, é possível aproveitar a incidência de radiação solar em toda a região para gerar energia sem resíduos secundários imediatos.

A mudança na matriz energética brasileira pode ser combinada a outras possibilidades, como usinas reversíveis e de reserva. Isso ocorre porque, como são as principais geradoras de energia, essas usinas muitas vezes não conseguem operar plenamente nas secas, pois sua capacidade de geração não é aproveitada, o que representa um desperdício energético.

Como o Greenpeace está ajudando a salvar a Amazônia?

O Greenpeace atua de forma comprometida com a proteção da biodiversidade em diversas esferas. Desde a conscientização e mobilização das pessoas até a apresentação de demandas para governos e autoridades, lutamos pela proteção das florestas, dos oceanos e de outros ecossistemas.

Você pode fazer parte disso. A iniciativa Salve a Amazônia! tem como objetivo ajudar a proteger o futuro ao cuidar de uma das maiores biodiversidades do mundo.

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