Equipamentos para a montagem das Unidades de Atenção Primária Indígena (Uapi) nas terras indígenas da Amazônia foram o foco dos voos realizados em julho e agosto

Cilindros de oxigênio, luvas cirúrgicas, máscaras, geradores, álcool em gel e sabão são alguns dos itens transportados pelo Asas Da Emergência. © Valentina Ricardo / Greenpeace

“Quero expressar o que estou sentindo no meu coração: em nome do meu povo Huni Kui e de outros povos da região do Acre, quero agradecer a toda esta rede de apoio por oportunizar que nossos povos sejam merecedores dessas ações, que podem parecer pouco, mas significam muito para nós. É nos momentos difíceis, como o dessa pandemia, que sabemos quem realmente está do nosso lado. Essas ações nos ajudam a proteger nossos territórios, nossas espiritualidades, medicinas, nossa cultura, nossa história!”. 

Esta declaração foi enviada por Ninawá, liderança do povo Huni Kui e presidente da Federação do Povo Huni Kui do Estado do Acre (Fephac), após um voo do Asas da Emergência no dia 28 de julho, que percorreu 1.437 km para levar mais de 670 kg de materiais de saúde (como oxímetros, luvas e máscaras cirúrgicas) e de higiene básica (álcool gel, água sanitária e sabão, dentre outros) a Santa Rosa do Purus, na fronteira do Acre com o Peru.  

Com 15.680 pessoas, os Huni Kui vivem em 116 aldeias localizadas em 12 territórios, situados em cinco municípios diferentes, e foram bastante afetados pela Covid-19; inclusive o próprio Ninawá já testou positivo para a Covid.

Desde o início de maio, além de ter realizado 47 voos, o Asas da Emergência também operacionalizou a ida de dois barcos para as regiões do Alto Rio Negro e Médio Solimões, levando 16,4 toneladas de materiais hospitalares, de higiene e alimentos. No total, por avião e barco, já foram transportadas 38,4 toneladas de ajuda emergencial para dezenas de povos indígenas da Amazônia. 

Na primeira viagem para Santa Rosa do Purus foram entregues mais de 600 kg, entre oxímetros, luvas, máscaras, álcool em gel, sabão e outros itens. © Greenpeace

Voando para áreas de fronteira

Com a Covid-19 se interiorizando e chegando em áreas cada vez mais remotas e de difícil acesso, o projeto Asas da Emergência ampliou o escopo de suas operações nos meses de julho e agosto de modo a atender o pedido de apoio de organizações indígenas em sua luta  diante da pandemia global

Além de continuar atuando nas regiões do Tapajós, do Alto Rio Negro e do Médio Purus, dezenas de terras indígenas localizadas nas regiões do Alto Juruá e Alto Purus (na fronteira do Brasil com o Peru) e do Alto Solimões (na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia) passaram a receber doações dessa ampla rede de solidariedade. Diversos municípios nessas áreas são acessíveis somente por avião ou barco, o que torna a necessidade de um tratamento muito mais desafiadora.

“Com a #Covid19 chegando em áreas cada vez mais remotas da Amazônia, a ampla rede de solidariedade formada por diversas organizações, da qual o Asas da Emergência faz parte, segue sendo fundamental para contribuir com o enfrentamento da pandemia por esses povos. E, nós, seguimos firmes ao lado deles, que persistem na luta pela vida”, afirma Carol Marçal, da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil. 

Em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a organização Expedicionários da Saúde (EDS), o Greenpeace, através do projeto Asas da Emergência, priorizou o transporte dos equipamentos necessários para a instalação das Unidades de Atenção Primária Indígena (Uapi) para estas regiões. Os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei), que executam a política de saúde indígena, são responsáveis pela instalação dessas unidades.

Aldeias estratégicas dos povos Huni Kui, Manchineri, Jaminawa, Apurinã e Ashaninka, dentre outros, localizadas nas regiões dos municípios de Jordão, Santa Rosa do Purus e Thaumaturgo Ferreira (localizados no estado do Acre) e Pauini e Tabatinga (no Amazonas) contarão com o apoio dessas unidades de saúde para o atendimento de casos de síndrome gripal de baixa e média complexidades. 

Com estrutura de enfermarias de campanha, as Uapi, geralmente, contêm concentrador de oxigênio, cilindro de oxigênio, acessórios de oxigenoterapia, válvulas e fluxômetros, gerador a diesel, colchão inflável e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), dentre outros itens. Elas proporcionam  ambientes mais adaptados às necessidades dos povos indígenas, sem que eles tenham que se deslocar para os municípios, deixando território e familiares “para trás” e se expondo a mais riscos nas cidades. Em alguns casos, é possível combinar práticas da medicina tradicional dos povos com o tratamento realizado pelos médicos não indígenas.

Segundo a Coiab, a Uapi instalada nesta semana na Aldeia Jatobá, na Terra Indígena (TI) Mamoadate, no estado do Acre, atenderá 16 aldeias onde vivem cerca de 1.200 indígenas dos povos Manchineri e Jaminawa. Já existem 52 casos confirmados da Covid-19 nessa TI. “A situação é também preocupante pelo fato de grupos indígenas isolados, conhecidos como Mashco, habitarem essa região. Eles são muito mais vulneráveis a doenças infectocontagiosas”, divulgou a Coiab.

De acordo com os  dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), atualizados hoje (14 de agosto), 24.942 indígenas, de 146 povos, já foram contaminados pelo coronavírus, com o registro de 669 óbitos. 

No atual cenário mundial de pandemia e emergência climática, seguimos firmes com nossa missão de defender a floresta, seus Guardiões e a vida no planeta!

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