O frigorífico, que firmou compromisso similar em 2009, é personagem recorrente em denúncias do Greenpeace por receptação indireta de gado de desmatamento

© Ednilson Aguiar

Esta semana, a Marfrig Global Foods, um dos maiores frigoríficos do país, anunciou seu novo programa de sustentabilidade, que inclui ações como monitorar fornecedores indiretos na Amazônia e no Cerrado. Medida que já deveria estar em prática ao menos na Amazônia, devido a outro compromisso assumido pela empresa, em 2009. 

A diferença, é que agora o frigorífico se deu mais dez anos para cumprir a promessa. “A Marfrig já quebrou sua promessa de controlar todos os seus fornecedores até o final de 2011, e agora anuncia que vai continuar a expor seus consumidores ao desmatamento e à violação de direitos humanos em sua cadeia de produção por mais 10 anos. Isso é inaceitável!” afirma Adriana Charoux, da campanha de Amazônia do Greenpeace.

De acordo com o comunicado da empresa, “até 2025, a meta é atingir a total rastreabilidade da cadeia de fornecimento da Marfrig na Amazônia. Nos próximos dez anos, a empresa deve fazer o mesmo com o Cerrado e os demais biomas, chegando assim ao desmatamento zero até 2030”. 

Desde 2009, quando Greenpeace lançou o Relatório A Farra do Boi na Amazônia, que começou a expor o impacto destrutivo do avanço da pecuária sobre a Amazônia, a Marfrig já aparecia na ponta de cadeias de produtivas contaminadas com o desmatamento da floresta. Só este ano, o Greenpeace reportou pelo menos dois casos envolvendo fornecedores indiretos da Marfrig com invasão na terra indígena Ituna Itatá, no Pará e desmatamento dentro de Unidade de Conservação no Parque Estadual Ricardo Franco, no Mato Grosso. 

Os casos mostram como a cadeia de abastecimento é contaminada pela falta de controle total dos fornecedores indiretos. 

Sem tempo a perder

Manter florestas em pé, assim como lutar para termos mais florestas no futuro do que temos agora, é fundamental para evitar impactos ainda mais severos das mudanças climáticas. 

Mas campanhas de relações públicas com belos slogans que apenas adiam providências urgentes  não são suficientes. O prazo acabou há anos, já estamos jogando na prorrogação, com altas chances de derrota. Não dá para adiar a solução. 

A Marfrig, e o setor agropecuário como um todo, precisa monitorar e controlar toda sua cadeia  de fornecedores , do começo ao fim, parando definitivamente de comercializar com produtores envolvidos com desmatamento, invasão de Unidades de Conservação e Terras Indígenas e uso de trabalho escravo. Isso precisa ser agora, não amanhã. 

O planeta e a humanidade não podem mais pagar o preço pela irresponsabilidade corporativa que está alimentando a crise climática e a perda acelerada de biodiversidade. 

Empresas e governos precisam agir agora para transformar esse perverso sistema de produção de commodities, que compromete a capacidade o planeta, em um sistema econômico que priorize a natureza e a vida. “Lidar com o desmatamento é apenas o primeiro passo, mas precisamos mudar a forma como alimentamos o mundo, se não quisermos pagar com nosso futuro”, diz Adriana Charoux. 

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