Tragédia no RS afeta produção, transporte e preço do arroz; setor garante que não há risco de escassez – Plano Safra pode ser solução
A tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul gerou um receio de que poderia faltar arroz na mesa das famílias brasileiras, já que o estado é responsável por 68% da produção nacional.
De fato, cerca de 10% das plantações de arroz foram destruídas pelas chuvas e enchentes no mês de maio. Além de impactar nos cultivos do grão, o desastre também comprometeu estradas, afetando a logística de transporte – mais de 100 trechos em 58 rodovias ficaram bloqueados total ou parcialmente.
Apesar dos prejuízos, a colheita de mais de 80% da safra gaúcha de arroz já havia sido feita e o setor garante que não há risco de desabastecimento nacional, conforme foi anunciado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).
Mesmo assim, para evitar especulações de mercado e alta nos preços do arroz, o governo federal optou por importar o alimento e zerar as taxas de três variedades do cereal.
Arroz orgânico é mais afetado no RS
O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina graças às famílias de agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Infelizmente, suas plantações foram duramente afetadas pelas inundações.
Estima-se que 50% da safra deste ano foi perdida e os prejuízos somam mais de 52 milhões de reais, segundo o MST – seis assentamentos foram impactados, afetando 420 famílias e destruindo 2 mil hectares.
A produção gaúcha de arroz orgânico é um dos temas do filme “Antes do Prato”, gravado no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. Atualmente, o local abriga uma cozinha solidária que tem doado mais de 2 mil refeições por dia para as vítimas da tragédia.
“A gente manda até colher junto com a marmita porque as pessoas não têm talheres para se alimentar”, explica o agricultor Huli Zang, que está na linha de frente da cozinha solidária em Viamão. “Produzimos alimentos da melhor qualidade possível, porque às vezes elas só têm aquilo pra comer o dia todo.”
Plano Safra pode ser solução
A agricultura é o setor privado mais afetado no Rio Grande do Sul, com cerca de 140 mil produtores impactados e prejuízos que somam R$ 2,7 bilhões, segundo a CNM (Confederação Nacional de Municípios). Os números escancaram a urgência e necessidade de uma nova realidade, com planos de adaptação às mudanças climáticas que incluam a produção e consumo de alimentos.
O Plano Safra é o principal programa de fomento à agricultura brasileira e a edição 2024-2025 será anunciada em breve. Pode ser uma oportunidade de destinar mais investimentos à agricultura familiar ecológica, que foi gravemente afetada pela tragédia gaúcha e carece de medidas para fortalecer e reconstruir a cadeia produtiva.
Vanessa Pedroza, porta-voz do Greenpeace Brasil, explica que, no ano passado, o Plano Safra da Agricultura Familiar foi retomado após uma interrupção de quatro anos. “Foi um passo importantíssimo – a maior parte das pessoas empregadas no campo está na agricultura familiar. Mas, apesar de ter sido o maior crédito rural da história pro setor, representa somente 21% (R$77,7 bilhões) do que foi destinado para a agricultura empresarial – R$364,22 bilhões”.
“Precisamos inverter esse cenário para apoiar à agricultura familiar ecológica, tornando nossa produção alimentar mais resiliente diante de eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos“, conclui Pedroza.
O próprio ministro da Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, reconhece que precisamos de uma agricultura mais preparada para desastres climáticos, como a agroecologia, que é regenerativa e que recupera as áreas de proteção ambiental.
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